Testei o 5G 'puro' em SP --e é tão rápido que nem os apps acompanharam
Eu visitei o escritório da Claro em São Paulo nesta segunda-feira (6) para experimentar, em primeira mão, a internet móvel 5G que a empresa deve levar a todas as capitais brasileiras até julho de 2022.
O 5G que eu testei foi o da frequência de 3,5 GHz que a Claro arrematou no leilão de novembro por cerca de R$ 418 milhões. Mais especificamente, foi o 5G do tipo "standalone", também chamado de "SA" ou "puro".
Essa versão é conhecida como "pura" por usar uma infraestrutura totalmente nova e dedicada ao 5G, sem aproveitar a estrutura usada até hoje pelo 4G. Por isso, ela terá não só mais velocidade, mas também menor latência, e é a mais desejada pela indústria.
Para testar o 5G puro da Claro, porém, eu não poderia usar um celular qualquer. Não bastava ter suporte ao 5G, como dezenas de aparelhos vendidos no Brasil já têm. Um iPhone 13, por exemplo, ainda não consegue se conectar ao 5G SA da Claro, só ao NSA (non-standalone), que usa parte da estrutura do 4G para funcionar, ou ao 5G DSS (uma versão prévia da nova geração).
Isso pode mudar com uma futura atualização, mas ainda não é o caso.
A convite da Motorola, levei para o teste o recém-lançado Moto G200, que tem suporte ao 5G SA e usa uma série de componentes para tirar melhor proveito da tecnologia —sobre os quais falaremos mais adiante.
Primeiro contato
Quando cheguei à sede da Claro, a equipe da empresa me levou até uma sala de reunião tradicional, exceto por um detalhe: invisível aos olhos, o sinal de 5G transbordava ali. Ele vinha de uma antena instalada na sala ao lado, montada especialmente para os testes internos da empresa com os mais diversos produtos, de telefones a roteadores.
Para experimentar a internet de quinta geração, um chip especialmente desenvolvido para o 5G SA foi colocado no celular da Motorola. Quem quiser experimentar o 5G "puro sangue" vai precisar de um chip como esse —os cartões SIM atuais só vão funcionar com o 5G NSA.
Com o chip 5G devidamente inserido, minha primeira parada foi no fast.com, um medidor de velocidade da internet desenvolvido pela Netflix. De cara, o velocímetro marcou impressionantes 1,8 Gbps (gigabits por segundo) —ou seja, o celular conseguiria, em tese, baixar um arquivo de 1 gigabyte em menos de 5 segundos.
Para você ter uma ideia, meu celular particular, conectado ao 4G de outra operadora, fazia naquela mesma sala apenas 200 Mbps (megabits por segundo) segundo o mesmo fast.com. Vale lembrar que 1 Gbps é equivalente a 1.000 Mbps. Ou seja, o 5G foi nove vezes mais rápido.
Na prática, o que esses números querem dizer?
Resolvi colocá-los à prova baixando um filme da Netflix. Selecionei o musical "tick, tick...BOOM!", que tem 1h55min de duração e, graças à compressão do app da Netflix, ocupa apenas 552 MB da memória. O download terminou em cerca de 40 segundos.
Empolgado, decidi forçar a barra: baixei um vídeo de 10 horas de duração em resolução Full HD pelo YouTube Premium. O arquivo de 6 GB ficou pronto após 1 minuto e meio.
Quando o 5G é mais rápido que o celular
Meu próximo teste foi com o Spotify, e aqui a velocidade do 5G não só impressiona como também prova que nem todos os aplicativos estão preparados para a nova geração de internet móvel.
Na primeira tentativa, o app travou: não conseguia se conectar à internet e me mostrava uma mensagem de que eu estava offline. A equipe da Claro recomendou que eu tentasse reiniciar o aparelho, e isso deu certo.
Após o reboot, o Spotify funcionou normalmente no 5G. Experimentei baixar uma playlist de 4h35min de duração, a "This Is The Weeknd", em qualidade "altíssima". Assim que toquei no botão de download da playlist, instantaneamente todas as seis primeiras canções da lista foram baixadas.
Não sei dizer quanto tempo o download da playlist levou para terminar simplesmente porque o app não me avisou. O ícone de download continuou ali rodando como se estivesse em andamento, mas rolei a página até o final e todas as músicas já tinham sido baixadas. Quando voltei para o topo, o ícone mudou para informar que o download estava pronto.
Não foi a primeira vez que a interface do Spotify se perdeu com a velocidade do 5G. Tentei baixar uma playlist de 23h13min chamada "24 horas de Samba e Pagode :)". Rapidamente vi os ícones verdes de download ao lado de cada faixa se acenderem como uma cachoeira, um atrás do outro, à medida que eu rolava a interminável lista de canções.
Em alguns momentos, o app travava e ficava alguns segundos sem que mais ícones se acendessem. Quando destravava, algumas dezenas de músicas baixavam num piscar de olhos. Após 2 minutos e meio, todas as músicas (3,6 GB) estavam disponíveis offline.
Em seguida, experimentei jogar "Free Fire" no 5G. A latência baixíssima —cada comando dado ao jogo levava cerca de 12 milissegundos, segundo a Claro, para ser recebido, enquanto o tempo mínimo aceito pelo game é de 150 milissegundos— me fez sentir praticamente invencível.
Outros jogadores online nitidamente demoravam mais para perceber a minha aproximação e se defender do meu ataque. Numa experiência competitiva como essa, cada milissegundo conta, então não pude deixar de sentir que estava meio que "trapaceando".
Afinal, mais ninguém naquele mapa virtual conseguiria reagir tão rapidamente quanto eu. A ideia me fez questionar: com uma experiência tão acima da média assim, será que o próprio "Free Fire" estava preparado para o 5G?
Impressionante, mas para poucos
É importante destacar que parte da experiência que eu tive com o 5G nesse teste só foi possível pelas condições excepcionais oferecidas pela Claro, como o fato de eu estar numa rede sem congestionamento, a menos de 2 metros de distância de uma antena e usando um chip diferenciado.
Com meu chip pessoal de operadora, eu jamais terei acesso ao 5G "puro" que só o formato standalone oferece. Questionei a equipe da Claro se isso significa que o 5G SA vai ser mais caro e eles não souberam me responder.
Um executivo afirmou que a operadora ainda aguarda definições do mercado e da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para definir preços.
Segundo dados da plataforma Melhor Plano, o preço médio cobrado no Brasil pelas principais operadoras em franquias móveis é de R$ 4,88 por gigabyte. Com esse valor, só o download do vídeo de 10 horas no YouTube, teria me custado quase R$ 30 em 1 minuto e meio.
Outro fator que fez toda a diferença na experiência foi o celular que eu usei. O Moto G200 vem com um processador top de linha da Qualcomm, o Snapdragon 888+, cheio de recursos para captar melhor o sinal de 5G, incluindo inteligência artificial. A bateria imensa de 5.000 mAh também ajuda: cheguei na sede da Claro com 100% de energia e, ao fim de todos os testes, ainda tinha 94%.
Só o processador, aliado aos 8 GB de RAM do aparelho, já é suficiente para uma experiência rápida em qualquer sinal de internet, mesmo o 4G. E o armazenamento de 256 GB me permitiu baixar todas essas músicas, filmes e vídeos sem que faltasse espaço.
Essas certamente não são as condições da maioria das pessoas que usam internet móvel no Brasil.
Mesmo que as operadoras cumpram o prazo de levar 5G a todas as capitais até julho de 2022, alguns bairros de grandes cidades ainda podem ficar sem o sinal de quinta geração por conta de entraves burocráticos e tecnológicos. Sem falar na enorme parcela de brasileiros que ainda estão presos ao 3G e só agora, com o recente leilão da Anatel, terão acesso ao 4G.
Há também a barreira do preço. O Moto G200 é um celular de R$ 4.999, mas os telefones mais vendidos no Brasil custam entre R$ 1.100 e R$ 2.000, segundo a consultoria IDC Brasil. Mesmo com um telefone 5G mais barato, como o Realme 8 5G, a experiência provavelmente não será a mesma por conta do processador mais modesto.
Mas segundo Fiore Mangone, diretor de desenvolvimento de negócios da Qualcomm, que me acompanhou nesse teste, a adoção do 5G será bem mais rápida dessa vez do que foi com o 4G desde o leilão da Anatel em 2014. Veremos.
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Quer saber a quantas anda a sua internet? Nós temos um teste para medir a velocidade da sua internet:
O UOL pode receber uma parcela das vendas de planos de telefonia sugeridos ao final do teste de velocidade.
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