Com garrafa que limpa a água, brasileira irá para final de desafio mundial
A estudante de mestrado Bárbara Gosziniak Paiva, 28, da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), desenvolveu um protótipo de garrafa que esteriliza água com ajuda de radiação e um filtro carregado à luz solar. Segundo os testes da pesquisa, esse conjunto já demonstra resultados promissores para tornar a água potável.
O trabalho rendeu a pesquisadora o primeiro lugar na etapa brasileira do concurso internacional de ciência Red Bull Basement, promovido pela multinacional de mesmo nome, que avaliou 443 ideias enviadas do Brasil e 4.041 projetos em todo o mundo.
Com o título, Bárbara vai disputar a final mundial, que ocorrerá na Turquia, entre os dias 13 e 15 de dezembro. Essa é a primeira competição da mestranda.
O projeto e o protótipo da cientista, formada em engenharia ambiental pela UFOP, foi desenvolvido nos últimos cinco meses. A garrafa é portátil e cabe na palma da mão.
Segundo Bárbara, a tecnologia da garrafa pode ser usada para tratar a água de nascentes, rios, lagos etc. Dados sobre saneamento no Brasil, divulgados em março deste ano pelo Instituto Trata Brasil, apontam que 35 milhões de pessoas não têm acesso a água potável.
"Ao ingerir água contaminada podemos contrair diversas doenças. Em países de baixa renda as doenças diarreicas estão entre as cinco principais causas de morte. Por isso eu desenvolvi esse projeto, que tem o objetivo de democratizar o acesso a água potável, e garantir uma água de qualidade para todos", afirma Bárbara a Tilt.
Como a tecnologia funciona
O equipamento se assemelha a garrafas térmicas comuns, como as de café ou aquelas para manter a água fria. Como o projeto ainda está em fase de competição, informações sobre medidas e materiais usados no dispositivo ainda estão sendo mantidas em sigilo.
Mas Barbara explica que, ao ser colocada na garrafa, a água passa por um processo em três etapas para tornar a água potável e fresca: microfiltragem, esterilização por radiação e refrigeração.
A primeira parte é usada para eliminar impurezas da água pelo tempo que estiver na garrafa, enquanto o sistema de esterilização por radiação elimina os patógenos (vírus, bactérias, parasitas ou qualquer micro-organismo que possa causa doenças).
Todo processo ocorre paralelamente a um sistema de refrigeração alimentado por células fotovoltaicas, que são capazes de converter a luz do Sol em energia —iguais às utilizadas nos painéis de energia solar que estão cada vez mais popularizados no país. O resultado, segundo o estudo, é a garrafa ainda consegue manter a água fresca e purificada.
O trabalho contou com a ajuda de uma equipe de pesquisadores da UFOP. O professor de física Rodrigo Bianchi, do departamento de Engenharia de Materiais da universidade, fez a mentoria da pesquisa.
De acordo com a norma brasileira vigente, a água para ser considerada potável deve estar em conformidade com padrão microbiológico determinados pela portaria do Ministério da Saúde nº 888, de 2021, que estabelece a presença máxima de substâncias (como amônia, alumínio, manganês etc.) e de agentes microbiológicos. As portarias de potabilidade são revisadas, em média, a cada quatro anos.
Pelos testes do protótipo, a garrafa, diz Bárbara, atenta a esses parâmetros. Segundo o professor Bianchi, a tecnologia surgiu também para ser uma alternativa de produto para campistas e montanhistas.
"É uma ferramenta para obter água potável sem a necessidade de transporte de água e sem agressão ao meio ambiente. Os resultados iniciais mostram a eficácia da esterilização e filtragem", diz.
Inspiração
Durante a graduação, a pesquisadora participou de programas de extensão e estagiou na Secretaria de Meio Ambiente da Ouro Preto. Nesse período, ela passou a ver de perto problemas ambientais e sociais envolvendo a falta de água potável.
Após realizar uma iniciação científica, que deu a ela o seu primeiro contato com a pesquisa acadêmica, surgiu o desejo de cursar um mestrado.
Paiva conta que o próximo passo do procedimento é avaliar formas de fabricação da garrafa que não tenham grandes custos, para que a tecnologia contribua para que mais pessoas tenham acesso à água limpa para consumo.
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