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5G bombando, robôs e etiquetas inteligentes: como é armazém da Huawei em SP

Marcella Duarte
Imagem: Marcella Duarte

Colaboração para Tilt, em São Paulo

16/12/2021 04h00Atualizada em 17/12/2021 16h44

O 5G ainda está longe de chegar para os consumidores em grande escala, mas empresas da indústria de telecomunicações já exploram os efeitos práticos da tecnologia. No Brasil, a fabricante chinesa Huawei é uma delas. A empresa possui um armazém conectado à rede de quinta geração, em Sorocaba, interior de São Paulo.

Tilt visitou o local e pôde ver alguns exemplos de como a conexão ultrarrápida e de baixa latência (menor tempo de resposta) poderá mudar positivamente o dia a dia da indústria.

Além disso, conheceu de perto robôs autônomos que a Huawei utiliza para otimizar a logística de centro de distribuição dos equipamentos que ela fabrica. Eles funcionam de forma independente e sem necessidade de interação humana.

Como é o 5G por lá?

O leilão da tecnologia, realizado em novembro deste ano, definiu as empresas que serão responsável por sua implantação em nível comercial. Contudo, testes de uso do 5G começaram a ser feitos pelas principais operadoras no Brasil em julho do ano passado.

O armazém, de 22 mil m², recebeu a cobertura da rede de quinta geração em agosto do ano passado, fornecido pela operadora Vivo, com autorização da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).

É uma rede privada non standalone (NSA), ou seja, que usa parte da estrutura do 4G para funcionar, ou ao 5G DSS (uma versão prévia da nova geração).

No caso da Huawei, essa rede funciona na faixa de 3,5 GHz (conhecida como o 5G puro) e é composta por 12 antenas, capazes de conectar até 300 dispositivos inteligentes. Só para relembrar, faixas de frequência são como se fossem pistas de uma rodovia necessárias para o seu funcionamento.

No centro de distribuição, com a rede ultrarrápida foi então possível estabelecer a conexão em tempo real com várias máquinas ligadas ao mesmo tempo, como os veículos que se deslocam sem a dependência de humanos, câmeras de monitoramento com inteligência artificial e dispositivos de radiofrequência.

Armazém da Huawei em Sorocapa (SP) - Marcella Duarte - Marcella Duarte
Armazém da Huawei em Sorocapa (SP)
Imagem: Marcella Duarte

"Dentro de um armazém você tem muitos dispositivos e precisa de uma conexão massiva", explicou Tiago Fontes, diretor de marketing e ecossistema da Huawei Brasil. "O Bluetooth, por conta da distância entre os dispositivos, não resolveria. O wi-fi seria instável e colocaria em risco a segurança da operação. E a rede fixa não é flexível, sem falar do custo de colocar cabo em todo armazém."

De acordo com a empresa, o uso de uma rede mais estável e veloz permitiu ganhos no processo logístico. A companhia destaca: aumento de 25% na eficiência operacional, redução do ciclo de produção de 17h para 7 horas, melhoria de 20% na movimentação de estoque, eliminação de erros operacionais e uso de papel.

Os robôs

Entre os exemplos de máquinas conectadas ao 5G estão 12 AGV (Autonomous Guided Vehicle ou Veículo Autônomo Guiado, em tradução livre). Eles são pequenos carrinhos de transporte criados para levar a matéria-prima e equipamentos para diferentes pontos, circulando pelos corredores como funcionários.

Para isso, eles usam sensores de obstáculos — de perto eles mais parecem um robô aspirador de pó. As tecnologias têm inteligência para entrar embaixo de bases suspensas e levantá-las para deslocar um equipamento até um destino específico. Cada um suporta até 800 quilos de carga.

Os veículos funcionam autonomamente, sem intervenção humana, de acordo com sua programação: sabem o que pegar e onde levar, param diante de alguma barreira e vão para a base carregadora quando estão com pouca bateria.

Cada carrinho AGV requer um uplink —transmissão de sinal— de 20 Mbps (megabit por segundo), algo que a rede 4G não suporta, além de precisar de respostas imediatas para funcionarem com eficiência, que só acontecem na baixa latência do 5G, destacou a empresa.

Em janeiro de 2022, diz a Huawei, entrarão em operação empilhadeiras com o mesmo sistema. Novas aplicações para otimizar processos de inspeção e limpeza, que deverão ser realizados por robôs, também estão no radar, além da análise do uso de drones no estoque em um futuro próximo.

Mix de soluções

Uma tecnologia mais antiga, porém complementar ao 5G, amplamente utilizada no armazém é também a RFID (Radio Frequency Identification, ou identificação por radiofrequência). É uma evolução do código de barras: etiquetas com micro antenas, que emitem sinais de rádio para se comunicar, e um chip que guarda dados do produto.

No centro de distribuição elas são utilizadas em toda a cadeia, do recebimento dos equipamentos fabricados à expedição, passando pelo estoque.

Tudo que chega no armazém, de acordo com a Huawei, recebe essa etiqueta inteligente, e os dados já entram digitalmente no sistema, sem necessidade de papéis.

O RFID é lido por sensores nas empilhadeiras e por leitores manuais usados pelos funcionários indicando onde cada caixa deve ser armazenada; os pallets e as prateleiras também são etiquetados. Isso facilita o inventário e contagem de estoque —um processo que levava quatro dias para ser feito manualmente.

Além disso, as etiquetas asseguram que todo produto seja enviado para o cliente correto, utilizadas no momento do abastecimento dos cerca de 25 caminhões que param lá diariamente —sem um ok no leitor, o pacote não sai.

Estudo de caso

O centro de distribuição sediou na semana passada o lançamento do "Estudo de caso do armazém inteligente da Huawei no Brasil conectado ao 5G", elaborado em parceria com a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) e a Abralog (Associação Brasileira de Logística).

O documento detalha a experiência de logística 4.0 (uso de recursos tecnológicos para melhorar processos) e os benefícios potenciais do 5G para o setor. A ideia é que o estudo sirva como referência para outras empresas brasileiras que desejem entrar na nova era de gestão industrial.

Lembrando que a Huawei, fabricante consolidada na área de equipamentos de telecomunicações no mundo, deve ser a principal fornecedora para as redes 5G das operadoras brasileiras.

"O Brasil ainda tem muito que investir no 5G e nas novas tecnologias. Ainda temos muitas áreas descobertas de qualquer conexão. Há muito investimento a ser feito", disse Atilio Rulli, diretor sênior de Relações Governamentais na Huawei do Brasil.