O 5G é seguro? Universidade de Campina Grande é escolhida para achar falhas
A implantação do 5G no país irá transformar o acesso à internet móvel, mas possíveis problemas com segurança cibernética são desconhecidos e chamaram a atenção da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). O órgão regulador das telecomunicações no Brasil decidiu contratar um estudo para avaliar potenciais riscos da nova tecnologia.
Quem vai realizar a pesquisa é Unidade Acadêmica de Engenharia Elétrica da UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), escolhida e contratada em um resolução oficializada no dia 6 de dezembro. Os estudos devem durar 20 meses, e os resultados serão apresentados até agosto de 2023.
O levantamento será organizado por pesquisadores do Virtus (Núcleo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Tecnologia da Informação, Comunicação e Automação) da UFCG. Ele possui desde 2019 o primeiro laboratório 5G da região Nordeste, com projetos e pesquisas já explorados em relação à nova tecnologia e tem expertise comprovada para a pesquisa.
O custo total da pesquisa será de R$ 3,1 milhões. Também participam do estudo o IFPB (Instituto Federal da Paraíba) e a UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
A ideia principal dessa análise profunda é descobrir como o 5G vai necessitar de aprimoramento de segurança para todos os pontos, inclusive a chamada internet das coisas (da sigla em inglês IoT) —conceito usado para se referir às conexões digitais de dispositivos cotidianos com a internet, ou seja, que impactam no dia a dia das pessoas. Um exemplo: as casas que possuem eletrônicos conectados ao seu celular.
Segundo informou a Anatel a Tilt, a pesquisa vai realizar "análises tecnológica, econômica, da teoria da regulação e de padronização, relacionadas ao tema em sistemas de comunicações móveis de quinta geração."
A ação deve "elucidar os aspectos de segurança cibernética em várias dimensões das redes de telecomunicações, bem como fornecer subsídios para atuação da Anatel em matéria de segurança cibernética.
Segundo definição do governo federal, a segurança cibernética inclui "ações voltadas para a segurança de operações, de forma a garantir que os sistemas de informação sejam capazes de resistir a eventos no espaço cibernético capazes de comprometer a disponibilidade, a integridade, a confidencialidade e a autenticidade dos dados armazenados, processados ou transmitidos e dos serviços que esses sistemas ofereçam ou tornem acessíveis".
Como será feito o estudo
Os potenciais riscos do 5G aos usuários estão no radar da Anatel. "A pesquisa objetiva justamente compreender melhor os desafios de segurança cibernética do 5G, especialmente considerando as suas características técnicas (virtualização, redes definidas por software, computação de borda, fatiamento da rede, etc.) porém sem esquecer das redes legadas (2G, 3G e 4G), que coexistirão com o 5G."
Tilt conversou com o professor Danilo Santos, que integra o Virtus (Núcleo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Tecnologia da Informação, Comunicação e Automação) da UFCG e é um dos coordenadores do estudo. Ele explica que a ideia é explorar as características de redes modernas, como o 5G, em diferentes níveis de comunicação e como elas vão mudar nossa vida virtual.
"Agora queremos investigar como as características do 5G podem afetar sistemas em nuvem e na internet das coisas, e como esses sistemas afetam uma rede 5G em relação a segurança", relata.
O professor explica ainda que os estudos em andamento devem identificar como as principais características estruturais do 5G podem impactar em questões de segurança de rede.
Com o 5G, novas funções de redes modernas serão utilizadas, como virtualização de funções de redes, fatiamento de rede, entre outros; e isso precisa ser investigado em relação ao impacto na segurança
Danilo Santos
Segundo ele, é cedo para saber impactos nessa área do 5G."As análises e investigações não serão realizadas nas redes que serão instaladas, e sim, de maneira independente, sempre visando características futuras do 5G. Acreditamos que com nossas pesquisas e estudos, a Anatel e a sociedade podem se beneficiar", completa.
Mais possibilidades, mais riscos?
Para chegar à segurança cibernética, o professor explica que vai investigar as boas práticas, modelos e características de segurança cibernética que podem afetar redes modernas. "O objetivo é que cada pacote investigue aspectos específicos de segurança dentro do seu escopo, sempre de modo coordenado entre eles", explica.
Segundo Edmar Gurjão, professor e pesquisador do Laboratório de Sistemas Embarcados e Computação Pervasiva da UFCG, e também coordenador dos estudos, todos esses conceitos devem ser analisados porque o 5G vai fornecer mais possibilidades de acesso a dados e em altas velocidades.
"Isso pode, além de interligar pessoas, conectar equipamentos na internet das coisas. Com mais conectividade surge mais exposição, o que é natural, e aumentam os riscos inerentes", afirma.
Ele alerta, porém, que modelos atuais já são desenvolvidos com segurança nas redes atuais e não há motivos para temores adicionais com a nova tecnologia. "Esse fato já existe nas redes atuais, e deve ser tratado com cautela por todos os usuários, isso não vai ser algo novo a ser trazido pelo 5G", alerta.
Com relação a nossa rotina, poderemos experimentar serviços mais eficientes, conexões com taxas mais altas, e o surgimento de novas funcionalidades, algumas impossibilitadas pelas velocidades das redes atuais, outras ainda não pensadas
Edmar Gurjão
A escolha da universidade no interior da Paraíba, diz Edmar, ocorreu porque ela tem um histórico de fomento à tecnologia e foi tida como um reconhecimento ao trabalho local.
"Isso vem desde a criação dos seus cursos de engenharia elétrica e computação, que estão entre os melhores do país. Isso garante a formação de pessoal qualificado. Além disso, pela natureza da UFCG, os nossos programas de pós-graduação em engenharia elétrica e computação, especificamente, sempre estão buscando novos desafios e executando pesquisas em áreas afins, o que fortalece nosso capital humano", conclui Gurjão.
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