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Natal na Nasa: cientistas vão abrir amostra colhida na Lua há quase 50 anos

Dispositivo desenvolvido pela ESA (Agência Espacial Europeia) abrirá amostra trazida da Lua na missão Apollo 17, realizada em dezembro de 1972 - ANGSA science team/ESA
Dispositivo desenvolvido pela ESA (Agência Espacial Europeia) abrirá amostra trazida da Lua na missão Apollo 17, realizada em dezembro de 1972 Imagem: ANGSA science team/ESA

Aurélio Araújo

Colaboração para Tilt, em São Paulo

20/12/2021 11h41Atualizada em 20/12/2021 12h02

Natal é época de abrir presentes, e um grupo de cientistas da NASA, a agência espacial americana, tem um presentão de dar inveja prestes a ser aberto: uma amostra de solo e de gases vindos direto da Lua, há quase 50 anos.

Trata-se de uma amostra recolhida pela missão Apollo 17, a última missão tripulada do projeto Apollo, que visava a exploração da Lua. Ela ocorreu em dezembro de 1972, portanto, há 49 anos.

Na época, já se imaginava que, no futuro, a humanidade teria uma tecnologia mais avançada e um conhecimento científico mais desenvolvido, que permitiria que essa amostra fosse estudada de forma aprofundada. Foram colhidas outras amostras para serem abertas no retorno à Terra na década de 1970, mas uma delas foi guardada por quase meio século com o propósito de ser estudada posteriormente.

O recolhimento da amostra foi feito por Gene Cernan, até hoje o último astronauta a pisar na Lua. Cernan estava explorando o vale de Taurus-Littrow na superfície lunar, quando então introduziu um tubo de cerca de 70 centímetros no solo para fazer a retirada.

Astronauta Gene Cernan se preparando para coletar amostras durante a missão Apollo 17 - Nasa - Nasa
Astronauta Gene Cernan se preparando para coletar amostras durante a missão Apollo 17
Imagem: Nasa

A metade inferior da amostra foi colocada num recipiente selado a vácuo, ainda na Lua. Na Terra, esse recipiente foi colocado numa outra câmara a vácuo, onde se encontra até hoje. A responsabilidade de conduzir os estudos sobre a amostra intocada é do programa da Nasa chamado ANGSA, sigla em inglês para "análise de amostras da próxima geração do Apollo".

O que esperam encontrar e como abrir

Os cientistas preveem que, ao abrir a amostragem, encontrarão gases. Hidrogênio, hélio e outros gases nobres estão entre as apostas, pelo que já se conhece da Lua. A análise desses materiais vai ajudar a entender melhor como é a superfície lunar e também deve auxiliar engenheiros a prepararem novas ferramentas e técnicas de extração de material espacial, seja em satélites como a Lua ou em planetas como Marte.

De qualquer forma, para abrir o material recolhido pela Apollo 17, a Nasa convocou a ajuda da ESA, a agência espacial europeia, que desenvolveu uma espécie de "abridor de latas" para a tarefa.

Exemplo de recipiente usado para coletar solo lunar nas missões Apollo - Divulgação/Smithsonian - Divulgação/Smithsonian
Exemplo de recipiente usado para coletar solo lunar nas missões Apollo
Imagem: Divulgação/Smithsonian

O apelido da ferramenta de perfuração criada pela ESA foi dado pelos próprios cientistas, de forma jocosa. Ela foi feita justamente para furar o recipiente onde está contida a amostra, mas de forma a capturar os gases sem que eles escapem, evitando perdas.

Esses gases então serão colocados em outros recipientes, usando um coletor de extração desenvolvido pela Universidade de Washington, sediada na cidade de Saint-Louis, nos EUA. A partir daí, esses recipientes serão enviados para diversas partes do mundo para estudo.

"Cada componente do gás que é estudado pode ajudar a contar uma parte diferente da história da origem e evolução das substâncias voláteis na Lua e nos primórdios do Sistema Solar", afirma Francesca McDonald, cientista da ESA que colaborou com o projeto, em comunicado oficial publicado pela agência.

Foram necessários 16 meses para desenvolver o "abridor de latas" ideal para a tarefa de abrir a amostragem intocada.