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Por que crianças colocam língua para fora quando estudam? A ciência explica

Yan Krukov/Pexels
Imagem: Yan Krukov/Pexels

Simone Machado

Colaboração para Tilt*, em São José do Rio Preto (SP)

29/12/2021 04h00Atualizada em 29/12/2021 10h44

Você já reparou que algumas crianças, e até mesmo alguns adultos, colocam a língua para fora da boca quando estão concentrados em alguma atividade? A atitude involuntária não se trata de um hábito ou mania, existem explicações científicas.

Segundo estudos, a língua saliente é resultado da concentração máxima de uma criança ou adulto, e a ação é feita sem perceber que estão fazendo a "careta", destaca o site Live Science. A atitude acontece, principalmente, quando a atividade relacionada exige também movimentos minuciosos das mãos — como escrever no caderno durante a lição de casa.

Existem algumas teorias científicas que tentam explicar o processo. Uma delas é a chamada estouro motor, explicada em um estudo publicado pelo jornal acadêmico "Frontiers in Psychology", em 2019.

Nela especialistas explicam que a região do cérebro dedicada à linguagem (localizada no giro frontal inferior) é sobreposta às redes neurais dedicadas à destreza (movimento das mãos) e ao uso de ferramentas (como um lápis).

Assim, os neurônios ligados ao movimento das mãos são ativados e transbordam para o tecido neural vizinho, responsável por fazer a pessoa movimentar a língua — ou seja, colocá-la para fora neste caso.

Portanto, quando você está profundamente focado em uma tarefa motora fina, com movimentos precisos e delicados de segurar objetos, o efeito "transborda" para a região da linguagem, fazendo com que você envolva a boca e a língua na ação. Sendo assim, os autores concluem que o processo cognitivo que exige foco influencia o da linguagem.

"O que descobrimos é que as pessoas 'mostram a língua' quando estão fazendo algo delicado que requer ativação motora fina de suas mãos e por consequência, muita concentração", explica Gillian Forrester, professora de cognição comparativa e reitora adjunta da Escola de Ciências de Birkbeck, Universidade de Londres.

Falando com as mãos

Publicado na revista Cognition, outro estudo realizado com o mesmo objetivo e também conduzido pela professora Forrester, aborda a relação entre a movimentação língua e a concentração sugerindo que nossas bocas tendem a ter movimentos semelhantes às mãos.

Segundo a publicação, isso acontece porque as mãos foram a primeira forma de linguagem e comunicação entre os seres. Ao analisar macacos, os animais mais próximos aos humanos, foi notado que eles usam principalmente gestos para se comunicar, e é possível que os primeiros humanos também se comunicavam dessa maneira.

No entanto, com o passar dos anos as mãos ficaram ocupadas, fazendo com que nossas bocas e línguas se tornassem o meio dominante de comunicação.

"Provavelmente é por isso que fazemos tantos gestos com as mãos quando falamos e também por que a visão é nossa principal ferramenta sensorial", disse Forrester.

Gestos são estudados há mais de 20 anos

Estudo italiano, publicado no Journal of Neurophysiology há duas décadas, já analisava a relação entre a concentração e os gestos com o rosto. Nele diversas pessoas foram observadas enquanto elas tinham que pegar alguns objetos de tamanhos diferentes.

Os pesquisadores desse estudo descobriram que a boca muitas vezes imitava a mão. Ao pegar objetos maiores, os sujeitos abriam mais as mãos e a boca e, ao pegar objetos menores, suas bocas tendiam a ficarem menos abertas, novamente combinando os dois gestos.

Fazer gestos com a boca é mais evidente em crianças porque, provavelmente, os adultos aprenderam a controlar essa ação, explica Forrester. Afinal, não é nada profissional colocar a língua para fora e fazer caretas toda vez que você precisa se concentrar em uma atividade.