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Como Apple e Google: por que gigantes agora fazem os próprios processadores

Niek Doup/ Unsplash
Imagem: Niek Doup/ Unsplash

Felipe Mendes

Colaboração para Tilt, em São Paulo

29/12/2021 04h00

O processador é o coração de qualquer dispositivo, desde um simples celular até os poderosos supercomputadores. No mercado tradicional, fabricantes de eletrônicos há anos terceirizam a produção dessa tecnologia, o que faz com que produtos de diferentes empresas acabem equipados com o mesmo chip (também chamado de circuito integrado).

Agora, gigantes de tecnologia estão fortalecendo um movimento contrário: produzir os seus próprios processadores. A Apple, por exemplo, começou a abandonar a tradicional Intel ao lançar, em outubro deste ano, seus novos laptops MacBooks construídos com chips feitos pela empresa de Steve Jobs.

O Google também embarcou na onda com o smartphone Pixel 6, também com o próprio processador.

Não são casos isolados, segundo Jon Erensen, diretor e analista sênior da consultoria Gartner. Em entrevista a Tilt, ele destacou que o movimento de fabricação dos próprios processadores é tendência.

Um dos principais benefícios em produzir o próprio processador, diz Erensen, é que a empresa pode focar no funcionamento dos produtos que está desenvolvendo.

"Temos visto cada vez mais empresas interessadas em desenvolver seus próprios processadores personalizados, especialmente no mercado de smartphones, em alguns mercados de produtos eletrônicos destinados ao consumo e agora começa a se expandir para áreas como o setor automotivo", explica.

Prós e contras

O processador, como já explicamos em Tilt, é um tipo de chip no formato de pastilha semicondutora de eletricidade, onde peças como transistores, diodos, capacitores, resistores e indutores são construídas em escala microscópica. O material mais comum é o silício.

Para formar o seu circuito (ou bloco de circuitos), as peças são interconectadas por trilhas de metal, geralmente feitas de alumínio e cobre. Os processadores são responsáveis por realizar operações matemáticas, operações lógicas e tomada de decisão.

Diante disso, produzir o próprio chip pode ser bastante interessante para as empresas desenvolvedoras de software, já que, ao conhecer de perto o produto que será lançado, é possível criar uma sintonia melhor com o processador, o que irá melhorar o desempenho, destaca o analista — um exemplo é o processador do iPhone que é criado para funcionar com o sistema operacional iOS, ambos de propriedade da Apple.

De acordo com Erensen, quando uma empresa usa um processador de uma outra companhia terceirizada, o chip pode exigir adaptações para que o eletrônico funcione com as especificidades da tecnologia adquirida de fora do ecossistema da organização.

"Quando uma empresa terceirizada produz um processador, você sabe que ela está projetando aquele equipamento para várias empresas, com sistemas diferentes. Não é feito sob medida para seu produto", detalha.

Ângelo Sebastião Zanini, orientador dos cursos de pós-graduação em tecnologia da informação do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), concorda. "A opção de fabricantes de smartphones projetarem um processador específico para as suas necessidades é uma maneira de melhorar o desempenho do equipamento e de poupar energia da bateria, por exemplo."

Ao mesmo tempo, Erensen alerta que produzir seu próprio processador requer bastante planejamento, já que só valeria a pena se, de fato, ele tiver uma diferenciação com relação àquilo que já é comercializado no mercado.

"Você realmente tem que se certificar de que pode diferenciar o produto, caso contrário, você terá gastado muito dinheiro para desenvolver algo que é semelhante ao que está lá fora, ou seja, não faz sentido", diz o analista.

"Ter seu próprio processador é importante para que se possa fazer algo personalizado, para que seu produto seja diferenciado e realmente feito sob medida. Quando você consegue desenvolver esse tipo de recurso, sabe que levará mais tempo para que seus concorrentes consigam copiar a ideia ou responder com algo novo", completa.

Como ficam os custos?

Para as fabricantes de eletrônicos, destacam os entrevistados, o benefício de ter o próprio processador também será financeiramente vantajoso se o volume de produção dos chips for suficiente para que o gasto para tirá-lo do papel compense.

"O investimento inicial é muito alto para qualquer empresa. Mas, depois de projetado e implantado o processo de fabricação, o custo de replicação de processadores é baixo", explica Zanini.

"Se houver muitas unidades, é possível economizar cortando o intermediário [a empresa terceirizada] dessa equação. Então toda aquela margem que iria para o fornecedor de semicondutor seria eliminada. Você poderá fazer dezenas ou centenas de milhões de unidades e poderá usar o chip em aplicativos diferentes, o que trará uma economia de custos", ressalta Erensen.

Para Zanini, se a mesma empresa for fabricar, por exemplo, 100 milhões de unidades, certamente compensaria o investimento inicial, pois o custo por processador seria bem menor do que o preço de um chip de mercado.