Web3: entenda o que é e como ela mudará a internet como conhecemos
Se você costuma ler sobre criptomoedas, certamente já ouviu falar no termo web3, ou Web 3.0. Mas, afinal, o que é, por que importa e como isso pode mudar a internet como a conhecemos?
Para responder a essas e outras perguntas sobre a web3, precisamos estabelecer uma breve linha do tempo. Se estamos falando da terceira versão da web, quais foram as duas primeiras?
Web 1.0: o início de tudo
A primeira foi a internet mais simples de todas, a Web 1.0, concebida por Tim Berners-Lee, em 1989, e desenvolvida ao longo de mais de uma década. Nessa versão da World Wide Web, a internet servia para compartilhar informações técnicas online e conectá-las por meio de hiperlinks — o que persiste, por exemplo, para sites de notícias que trazem links em reportagens para outros conteúdos relacionados.
Nessa época, a internet ainda era exclusividade de poucas pessoas, a conexão era lenta e os computadores tinham desempenho consideravelmente limitado em relação ao que temos hoje.
Por isso, as informações eram publicadas de forma descentralizada, mas ainda era um poder do qual poucos dispunham. As grandes empresas que surgiram nessa época foram, por exemplo, o Google e o Yahoo, que tinham a missão de organizar todo o conteúdo que estava disponível na internet.
Web 2.0: conteúdo gerado pelo usuário
Já a Web 2.0 foi marcada pelo desenvolvimento de plataformas digitais que permitiam o conteúdo gerado por usuários. O exemplo mais claro desse movimento foi a criação das redes sociais, como Orkut, Twitter e Facebook, e do YouTube, que permitiu a publicação de vídeos por qualquer pessoa.
Ou seja, a Web 2.0, termo cunhado pela escritora Darcy DiNucci e popularizado pelo especialista Tim O'Rilley, veio para mudar completamente a maneira de usar a internet, dando voz a bilhões de pessoas. Foi nessa era da web que vimos a ascensão da maioria dos serviços digitais que temos hoje, do Spotify ao Uber.
Apesar de a natureza da publicação de conteúdos permanecer descentralizada — ou seja, vários sites podem criar várias páginas independentes de conteúdo —, a Web 2.0 levou os serviços digitais a servidores de grandes empresas, como Amazon, Microsoft, Google e IBM.
Além disso, houve a criação de empresas de tecnologia tão grandes que podem até mesmo "monopolizar" sua atenção com algoritmos sofisticados de recomendação de conteúdo e inibir a competição de rivais, como é o caso do Facebook (Meta) e do Google (Alphabet) — duas big techs que simbolizam bem as possibilidades oferecidas pela web 2.0.
Afinal, o que é a web3?
Agora, a resposta para a pergunta de um bilhão de dólares: O que é a web3?
A web3 é uma proposta de unir o melhor dos dois mundos online anteriores: a descentralização e os conteúdos gerados por usuários, e ainda adicionar a tudo isso o registro distribuído, em blockchain.
Se você não sabe o que é blockchain, a maneira mais fácil de entender é com a analogia a um livro contábil, no qual tudo é anotado de forma imutável. Cada um dos blocos, chamados de registros, que são adicionados à blockchain, se ligam ao anterior, formando uma corrente. Tudo isso tem a tecnologia chamada de criptografia, uma codificação tão complexa que não pode ser quebrada mesmo pelos computadores mais avançados do mundo.
Blockchain é o elo que conecta a web3 aos entusiastas de criptomoedas. A descentralização das finanças se dá ao relegar à blockchain o armazenamento de informações, sejam elas financeiras ou de outra natureza.
As transações são processadas por computadores do mundo todo, e não de uma só empresa ou entidade pública. Com isso, não é necessário que haja um órgão regulador, como um Banco Central, para garantir que as transações sejam fidedignas e livres de duplicidade ou fraude. Ou seja, blockchain e criptomoedas, em especial o bitcoin, estão ligadas por um elo inseparável.
Além de resolver problemas que são tema de debate público no Brasil e no mundo, como a questão do vício gerado por algoritmos de recomendação de conteúdo de redes sociais e a moderação de posts em plataformas digitais, a web3 também se propõe a resolver a questão dos direitos de propriedade na internet.
Com isso, existirão empresas em um formato descentralizado, que vêm sendo chamadas de Descentralized Autonomous Organizations (DAOs), ou Organizações Autônomas Descentralizadas.
A ideia é que esse formato permita a oferta de poderes de decisão mais igualitários entre todos os usuários de serviços digitais, e a questão da propriedade é resolvida com tokens únicos. Esse tipo de empresa já existe hoje mesmo.
Um exemplo é a Augur, uma plataforma de apostas em esportes, economia e eventos mundiais. A empresa se descreve como um conjunto de contratos inteligentes escritos que podem ser implantados no blockchain ethereum — ligado à segunda criptomoeda mais valiosa dos últimos anos.
A companhia não tem "capacidade de atualização, capacidade de modificação ou governança sobre o conjunto de contratos e software executado e existente no blockchain ethereum", segundo seu site oficial.
Quando ouvimos falar sobre a web3, outro termo que aparece muito é o NFT. Esses tokens não fungíveis, na sigla em inglês, são tokens que representam algo único, como a propriedade do primeiro tuíte do fundador do Twitter, Jack Dorsey.
Fungível não é uma palavra comum, mas, basicamente, quer dizer alguma coisa que pode ser trocada por outra similar, como acontece com as notas de dinheiro, por exemplo.
Para explicar melhor: você pode trocar uma nota de 10 reais por outra de valor equivalente (fungível), mas não poderia trocar a Mona Lisa por nenhuma outra idêntica e de igual valor (não fungível).
Qual é o papel do NFT na web3?
O NFT tenta resolver a questão da propriedade na internet. Assim como você pode ter uma casa e documentos legais que provam que ela é sua e de mais ninguém, você poderá ter artigos digitais únicos que pertencem apenas a você. Pode ser algo tão simples quanto um desenho de macaco entediado ou uma obra de arte centenária.
Uma diferenciação crucial para entender isso é: ao ser proprietário de um NFT, você se torna proprietário do token que se refere a algo representado na internet, e não ao artigo físico em si, do mundo real. Ou seja, você é dono de um código, um contrato virtual firmado entre duas ou mais partes.
E o metaverso?
A web3 está ligada ao metaverso, como é chamada a versão tridimensional e virtual da internet — a exemplo da realidade virtual vista em óculos especiais, como os Oculus Rift. O entusiasmo em relação ao metaverso é tão grande entre as empresas de tecnologia que o Facebook mudou seu nome para Meta alegando relação com esse universo digital compartilhado que deve ser o lar da internet do futuro dentro de alguns anos.
O próprio presidente executivo da Meta, Mark Zuckerberg, parece reconhecer que a natureza do metaverso será descentralizada, como na web3. Em uma carta pública divulgada em outubro deste ano, o bilionário afirmou que o metaverso não será criado por uma única empresa e que ele estabelecerá "uma economia criativa muito maior do que aquela limitada pelas plataformas de hoje e suas políticas". Já existem até relatos de vagas de emprego dedicadas ao trabalho na web3.
Ou seja, já existe um movimento das grandes empresas de tecnologia adentrando a web3, o que pode ser, ao mesmo tempo, um entusiasmo que se justifica comercial e socialmente e uma tentativa de manter a dominância que essas companhias detêm na era da Web 2.0.
Em todo caso, a web3 abre caminho para o desenvolvimento de todo tipo de serviço digital, tanto para novos quanto para os que já existem hoje em formato centralizado. Com NFTs baseados na blockchain do ethereum sendo arrematados por milhões de dólares mundo afora, o potencial da web3 ainda permanece desconhecido — mas já anima, e muito, os entusiastas de novas tecnologias.
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