Satélite espião russo de 1983 cai na Terra sobre o Sul do Brasil; veja
Um antigo satélite espião soviético, que estava em órbita há quase 40 anos, reentrou na atmosfera terrestre na noite da última segunda-feira (3), sobre o Sul do Brasil. Por volta das 21h (horário de Brasília), uma bola de fogo cruzou lentamente o céu, parecendo se despedaçar.
Seus fragmentos incandescentes foram vistos do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além do Uruguai. O evento foi registrado por diversos moradores e também por câmeras da Bramon (Rede Brasileira de Observação de Meteoros), da Exoss (outro projeto colaborativo de astronomia) e do Clima ao Vivo (de monitoramento meteorológico).
O curioso objeto observado tratava-se do Cosmos 1437, um satélite de inteligência militar da antiga União Soviética. Ele foi lançado em 20 de janeiro de 1983, por um foguete Vostok-2M, a partir do Cosmódromo de Plesetsk, na Rússia.
Fora de uso há décadas, era um lixo espacial - equipamentos que ficam orbitando a Terra até eventualmente entrarem novamente na atmosfera para uma despedida flamejante, mais ou menos calculada. Identificado pelo código NORAD 22032 (que cataloga todos os objetos artificiais em órbita, como satélites, estágios de foguete e destroços), sua trajetória estava se deteriorando há algum tempo e vinha sendo acompanhada por especialistas.
"Todo objeto humano lançado ao espaço acaba se degradando. A reentrada do Cosmos 1437 já estava prevista para estes dias, só não sabíamos o local e horário exatos em que aconteceria. Uma das previsões era justamente sobre o Sul do Brasil, que acabou se concretizando", conta Marcelo De Cicco, astrônomo-coordenador da Exoss.
"Mas é algo que comumente acontece, e cada vez mais veremos cenas assim, pois o homem está ocupando o espaço próximo à Terra com seus artefatos, que têm um tempo limitado de vida."
Tour de despedida
Internautas publicaram depoimentos e vídeos nas redes sociais, que ajudaram a identificar o objeto, suas características e trajetória. Algumas delas acreditaram tratar-se de um meteoro ou ficaram assustadas com a possibilidade de um OVNI (Objeto voador não identificado).
Não havia qualquer motivo para pânico. Algumas das particularidades da reentrada de um lixo espacial são a baixa velocidade - pois está basicamente em queda livre - e a aparência de estar se desintegrando. "A fragmentação visível é algo raro para um meteoro, mas comum na reentrada de lixo espacial", explica De Cicco.
A bola de fogo riscou nosso céu por mais de 30 segundos até se apagar. "Qualquer objeto em órbita, quando entra na atmosfera, vem numa velocidade muito mais baixa que a de um meteoro. Dá tempo até de pegar a câmera, o celular, e filmar. Por isso foi uma reentrada bem documentada, bem legal", comenta Carlos Di Pietro, cofundador da Bramon.
A reentrada do Cosmos 1437 não representou qualquer risco para a população em solo. Boa parte do seu material foi vaporizado pelo calor e pressão de sua viagem atmosfera adentro. "É raríssimo algum pedacinho de satélite cair em solo", garante Di Pietro.
Pequenas peças mais maciças e resistentes até seriam capazes de suportar a reentrada, mas, se restaram destroços, eles provavelmente caíram no mar, após cruzarem o Sul do Brasil e o Uruguai. De acordo com cálculos da Bramon, o satélite atravessou 698,96 km sobre o território brasileiro, antes de se desintegrar completamente sobre o Oceano Atlântico.
Um belo tour de despedida, depois de 39 anos orbitando nosso planeta.
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