CES 2022: a tecnologia flopou, e foram os humanos que mereceram os elogios
A volta presencial do tradicional show de lançamentos de produtos e tecnologias avançadas que a CES costuma exibir anualmente em Las Vegas, Estados Unidos, ficará marcada neste ano muito mais pelo novo temor da covid-19 do que pelas tendências inovadoras.
O evento mundial aconteceu entre os dias 5 e 7 de janeiro, após uma edição totalmente virtual em 2021 por causa da pandemia. Com seu encerramento, determinar ou não o sucesso da CES 2022 é algo muito relativo. Foi novamente tudo muito atípico.
De um lado, a reportagem conseguiu acompanhar de perto inúmeros expositores dedicados tentando fazer a feira acontecer.
Do outro, não teve como não sentir o clima de evento esvaziado, com corredores sem ninguém e menor número de empresas — companhias grandes como Google, Microsoft, Amazon, Twitter e Meta cancelaram a participação por conta da nova onda de coronavírus. Os EUA bateram recorde mundial com mais de 1 milhão de casos de covid-19 em 24h na última semana.
A feira conseguiu apresentar pequenas inovações, mas nada tão incrível quanto um evento do porte das CES anteriores — lembra em 2019 da TV "enrolável" da LG? Nada perto disso.
Alguns produtos vistos pela reportagem são até interessantes (como a robô humanoide Ameca, um novo projetor e o carro que muda de cor), mas não dá apontar uma grande tendência para os próximos anos nem aquilo que fará todo mundo suspirar de vontade. Confira aqui os destaques vistos por Tilt.
CES 2022 em números
Segundo a organização da CES 2022, 40 mil visitantes de 119 países, incluindo 1.800 mídias globais, participaram do evento — 30% deles vindos de fora dos EUA. Além disso, mais de 2.300 empresas expuseram seus produtos/sistemas, incluindo mais de 800 startups.
Números bem menores do que em 2020, última edição presencial antes do maior impacto da pandemia. Para se ter uma ideia, o evento reuniu naquele ano cerca de 4.500 expositores. Neste ano, nada de multidão se aglomerando para conhecer de perto determinado produto.
Antes da pandemia, a CES era organizada para unir vários espetáculos em diferentes pontos de Las Vegas para chamar atenção. Espaços de vários hotéis eram reservados para os expositores e palestrantes. Em 2019 e 2020, Tilt teve a oportunidade de cobrir a CES presencialmente. Comparando com 2022, esse esvaziamento chocou bastante no primeiro momento.
Até foi possível visualizar algumas pequenas filas próximas a estandes como os da Samsung, TCL, BMW (do carro que muda de cor) e Satisfizer (fabricante de vibradores). Mas nada que não resolvesse aguardar uns cinco minutos.
Antigamente, os espaços da feira mal davam para se deslocar poucos metros sem esbarrar nas pessoas dado ao volume de gente. Ver corredores vazios e espaços marcados no chão sem ninguém deixou no ar um clima triste e sensação de oportunidades de negócio perdidas.
Ao mesmo tempo, ter menos pessoas significou diminuir as chances de contaminação da covid-19 entre os participantes. Logo, foi um mal extremamente necessário.
A dedicação de expositores
O lado humano de funcionários empenhados em chamar a atenção dos visitantes acabou sendo a atração mais significativa da feira, indo além até de tecnologias e inovações.
Kevin Walsh, representante da empresa norte-americana Virawarn Freedom, era toda animação ao mostrar três dispositivos capazes de detectar a covid-19 pela respiração e hálito — um deles parece um aparelho de nebulização.
A Tilt, ele explicou desde o funcionamento dos aparelhos até o desejo do fundador da companhia de tentar fazer com que sua empresa tivesse um impacto positivo nesse mundo pandêmico.
"Queremos que qualquer pessoa possa comprar e usar. Dá para ser usado em hospitais, empresas, consultórios e também por famílias que queiram fazer os testes em casa de um jeito rápido. Leva cinco segundos para avisar se tem alguém com a covid-19", explicou.
Para chamar a atenção dos visitantes, seu estande foi montado com estruturas em formato do novo coronavírus penduradas ao redor. Vários profissionais ficavam disponíveis para dar explicações como a que Walsh nos deu.
Durante os minutos que a reportagem permaneceu perto do estande, foi possível ver dois visitantes elogiando a iniciativa da empresa e trocando contatos demonstrando interesse em fechar parcerias. Algo que fez Walsh se animar.
Ao ser perguntado na sequência sobre a disponibilidade dos equipamentos para o consumidor final, ele respondeu a Tilt que a empresa precisa exatamente desse apoio financeiro para tornar suas tecnologias mais acessíveis financeiramente.
Tiasha Renganathan, porta-voz do braço nos Estados Unidos da fabricante de roupas e tecidos do Sri Lanka chamada MAS Holdings, afirmou a reportagem que, apesar do esvaziamento da feira, ela e sua equipe estavam animados com a oportunidade de exibir seus produtos.
"Apesar da pandemia, é uma oportunidade importante que temos de mostrar nossas tecnologias", ressaltou. Entre as inovações que a empresa exibiu estavam roupas com sensores capazes de aquecer o corpo das pessoas no inverno, espécies de luvas para ajudar em processos de fisioterapia e recuperar lesões, e uma de faixa para reduzir as dores de cólica menstrual.
Já a empresa Satisfyer, fabricante de vibradores e estimuladores de clitóris, resolveu chamar atenção dos visitantes expondo vários modelos de seus produtos — a companhia tem cerca de 200 em seu portfólio — protegidos por caixas de acrílico. Mas não só isso.
A empresa também fez sorteios de produtos de graça para os interessados. Foi de longe a maior fila que a reportagem presenciou ao longo de três dias de feira.
"Produtos de prazer sexual melhoram a saúde, a pele e ainda ajudam a empoderar mulheres. É isso o que estamos mostrando na CES", afirmou uma representante da companhia, que preferiu não se identificar por não ser a porta-voz oficial da marca.
David Erthun, da empresa francesa Invoxia, também foi atencioso ao explicar a coleira inteligente usada para monitorar sinais vitais de cachorros de médio e grande porte. Foram quase 10 minutos de explicação que certamente não seriam possíveis se a feira estivesse lotada de gente.
Evento do QR Code
Mesmo com uma edição presencial, a CES 2022 também foi marcada por anúncios 100% virtuais —de empresas que decidiram não ir— e informações disponibilizadas pela internet. Praticamente todos (senão todos) os estandes possuíam QR Codes (códigos que direcionam para páginas online).
Ao se aproximar das empresas, os funcionários reforçavam frases como: "você já conheceu nossos produtos através do QR code? Se ainda não o fez, vale a pena". A solução também foi útil para que os expositores evitassem o acúmulo de folders e toques em objetos em meio à pandemia.
Protocolos de segurança
Por falar em segurança contra a covid-19, para entrar nos locais do evento, a vacinação era obrigatória para todos. A comprovação precisou ser feita no momento de pegar a credencial de acesso à feira. Testes foram entregues gratuitamente para todos verificarem possíveis contaminações ao longo da semana.
Logo nas entradas, etiquetas coloridas podiam ser coladas nas credenciais para indicar se a passos aceitava aperto de mãos (verde) apenas um toque de mãos fechadas (amarelo) ou um acento (vermelho).
Dispositivos que liberavam álcool em gel foram colocados em locais estratégicos e máscaras ficavam à disposição em alguns lugares.
Contudo, nem todo mundo manteve as máscaras corretamente em seus rosto. Pude ver muita gente com elas nos queixo ou andando alguns metros totalmente sem elas em áreas longe da alimentação (em que isso era permitido temporariamente).
CES apresentou o que deu
O balanço da CES 2022 é que o evento foi realizado do jeito que deu considerando uma pandemia. O coronavírus prejudicou muita gente. E acredito que tenha prejudicado também a questão de inovar das empresas. Neste ano, a feira não conseguiu mostrar presencialmente tanto isso.
Não dá para negar que a CES faz o dinheiro de Las Vegas se movimentar anualmente com a reserva dos hotéis (para as exposições e quartos) e alta de turistas de negócios. Mas fico em dúvidas se compensará o risco a realização de eventos desse porte durante novos surtos de covid-19.
É triste pensar nisso considerando o potencial de negócios e parcerias que ficam prejudicados, mas com tanta novidade tendo sido lançada virtualmente na edição deste ano, uma CES 100% online novamente poderia ter sido mais segura em tempos pandêmicos.
O próximo grande evento de tecnologia será a MWC (Mobile World Congress), marcada para os dias 28 de fevereiro e 3 de março, em Barcelona. Por enquanto, os organizadores estão mantendo o formato presencial.
*A jornalista viajou a convite da Samsung
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