Achou pedaço de meteorito? Não o lave; saiba cuidados e como identificar
Na semana passada, a passagem de um meteoro foi registrada no Brasil, o que pode ter deixado mais de 200 kg de meteoritos, fragmentos de rocha espacial em solo. Astrônomos e especialistas já se dirigiram para a região para caçar o material vindo do espaço. Apesar de alguns relatos nas redes sociais, ainda não há registros oficiais de meteoritos gerados a partir do fenômeno.
As rochas espaciais são de grande valor científico. Por isso, existem cuidados que devem ser tomados ao encontrá-las. E um deles é: não lave o meteorito. Uma imagem que viralizou nos últimos dias mostra um homem fazendo isso em um suposto fragmento de rocha espacial, que teria sido encontrado em Minas Gerais.
Segundo especialistas consultados por Tilt, a imagem que viralizou provavelmente trata-se de algum mineral metálico, como a goethita, ou mesmo de ferro fundido. Logo, não é um meteorito. Contudo, caso alguém encontre um por aí, não se deve jogar água, pois o contato pode fazê-lo oxidar rapidamente, perdendo seu valor para a ciência.
"Nossa tendência é achar que as rochas mais esquisitas venham do espaço. Mas, pelo contrário, meteoritos parecem muito com uma rocha terrestre comum. Em 95% dos casos de pessoas que dizem que acharam meteorito, não é", diz Marcelo De Cicco, astrônomo-coordenador da Exoss (projeto colaborativo de ciência cidadã, ligado ao Observatório Nacional).
Como é um meteorito?
A principal característica de um meteorito "fresco", recém-caído na Terra, é uma "casca" escura, com aspecto de carvão, chamada crosta de fusão. Ela se forma quando a rocha atravessa nossa atmosfera em altíssima velocidade, deixando o rastro no céu.
"Uma concha de plasma, superaquecido, recobre a rocha, podendo atingir temperaturas de 10 mil graus Celsius, mais quente que a superfície do Sol, por alguns segundos. Ela literalmente queima. Mas, por ser rápido, isso não afeta seu interior, apenas a parte mais externa da rocha, uma fina camada de menos de 1mm normalmente", explica Carlos Di Pietro, cofundador da Bramon (Rede Brasileira de Observação de Meteroros).
Apesar da crosta de fusão, a parte interna geralmente é clara, cinza com pontinhos mais escuros ou metálicos. Se a rocha tiver quebrado na hora que atingiu o solo, o interior é exposto e esse contraste será bem evidente. Porém, alguns meteoritos mais raros, chamados condritos carbonáceos, são escuros também por dentro. De acordo com a Bramon, o bólido (meteoro maior, muito luminoso e explosivo) mineiro pode ser um desses.
Com o passar do tempo na superfície terrestre, exposta a chuvas e ventos, a crosta de fusão vai se perdendo. Um meteorito mais antigo, então, parece ainda mais com uma rocha comum. Uma das diferenças é que eles costumam ser mais pesados, por terem mais metais, como ferro e níquel, em sua composição.
Em relação ao formato, meteoritos não são irregulares como o da imagem que viralizou. Devido à passagem atmosférica, eles adquirem uma aparência mais arredondada, sem pontas. Por fora, é levemente rugoso e pode ter pequenas reentrâncias, chamadas regmalitos — parecem dedos pressionados sobre argila.
Meteoritos não são radioativos
Meteoritos não queimam, não têm elementos radioativos e nem bactérias que possam trazer doenças. São apenas rochas que estavam no espaço. Não é ideal manuseá-los com as mãos — mas não por serem perigosos para nós, mas sim para não alterarmos suas preciosas características químicas.
Se encontrar algo que pareça ser uma rocha espacial, o ideal é envolvê-la com um tecido ou papel alumínio e guardar em um local o mais seco possível, como um armário.
Também é importante registrar exatamente o local em que ele foi encontrado — por exemplo, com um pin no Google Maps. É importante para os cientistas terem esses dados.
Abaixo, há alguns testes que podem ser feitos para tentar descobrir se uma rocha é de fato um meteorito:
De qualquer forma, apenas uma análise dos especialistas e testes em laboratórios poderão atestar a veracidade e catalogar o objeto. Por isso, é de extrema importância que possíveis meteoritos — ou ao menos amostras deles — sejam encaminhados para instituições científicas.
Você pode procurar uma universidade pública ou um museu local para se informar.
Onde provavelmente estão os meteoritos?
De acordo com cálculos de trajetória da Bramon e da Exoss, os meteoritos estariam dispersos entre as cidades de Araxá, Perdizes e São José da Antinha. Uma área de cerca de 20km², com relevo acidentado e vegetação relativamente densa.
Ao entrar em nossa atmosfera, o bólido tinha cerca de duas toneladas, por isso pode deixar tantos fragmentos.
"Por seu tamanho grande o bastante, com certeza há meteoritos em solo. Nós finalmente conseguimos fazer os cálculos, e estima-se que cerca de 10% da massa total de um bólido atinja o solo. Então pode haver mais de 200 quilos de meteoritos", afirma Di Pietro, da Bramon.
Contribuição para a ciência
Meteoritos, por serem fragmentos de rochas espaciais antigas como asteroides e cometas, podem nos ajudar a entender melhor a formação do Sistema Solar, dos planetas e até o surgimento de vida na Terra.
"Fizemos alguns cálculos de órbita que indicam que o bólido de Minas Gerais tinha origem cometária, possivelmente um fragmento de um cometa muito antigo. Então há boas chances de ser daquele tipo escuro por dentro, condrito carbonáceo, rico em carbono e compostos orgânicos importantíssimos para a ciência, como água e aminoácidos", diz Di Pietro.
Estes estudos podem ajudar na pesquisa sobre a origem da água em nosso planeta, sobre a qual há diversas teorias. Uma das principais sugere que a água foi "caindo" na Terra, através de objetos espaciais como meteoritos.
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