Ataque hacker é novo capítulo da disputa entre Rússia e Ucrânia; entenda
O ciberespaço é a nova arena de batalha geopolítica. Uma ação hacker bem executada pode hoje substituir um ataque físico, feito com mísseis. Bloqueios de gasodutos nos Estados Unidos e superaquecimento proposital de instalações nucleares no Irã já ocorreram por ações de cibercriminosos. O conflito recente entre Ucrânia, Rússia e Belarus é mais um exemplo de como as ameaças digitais podem auxiliar nos conflitos armados.
No final da semana passada, sites governamentais ucranianos foram atacados e receberam mensagens ameaçadoras. Serhiy Demedyuk, vice-secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, deu a entender que há envolvimento de dois dos seus principais vizinhos, Rússia e Belarus, países aliados.
O ataque seria, portanto, o novo capítulo da escalada de tensões entre ucranianos e russos. Até esta semana, a Rússia havia mobilizado 127 mil soldados na fronteira com a Ucrânia. Com a escalada da tensão, os ucranianos receberam o apoio de governos ocidentais, como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido.
Teme-se que um conflito militar esteja próximo. De um lado, os russos dizem que norte-americanos e europeus estão violando uma promessa de que não haveria expansão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para os antigos países do bloco comunista. Do outro, os ocidentais acusam a Rússia de preparar uma invasão da Ucrânia.
Como foi o ataque hacker
Sites governamentais ucranianos foram vítimas de um ataque hacker de larga escala, entre a noite de quinta-feira (13) e a manhã de sexta (14). Entre eles, estavam portais importantes, como os dos ministérios da Educação, da Ciência, das Relações Exteriores e da Segurança e Defesa.
Nesses sites, foram deixadas mensagens em diversos idiomas, como russo, polonês e ucraniano. Elas diziam coisas como "Ucranianos! Todas as informações sobre vocês se tornaram públicas. Tenham medo e esperem o pior. É o seu passado, presente e futuro".
Nos últimos anos, esse tipo de ataque tem sido recorrente em meio a questões diplomáticas e disputas geopolíticas entre diferentes nações. Em 2015, por exemplo, os ucranianos atribuíram a hackers russos uma ação virtual que deixou 250 mil pessoas sem eletricidade no país.
Após os eventos de sexta, a ideia de que a Rússia estaria por trás foi imediatamente ecoada pela União Europeia. Josep Borrell, alto representante do bloco para a Política Externa, criticou o que viu como "tentativas da Rússia de reconstruir uma influência na Europa", ao mesmo tempo em que reafirmou o apoio à Ucrânia.
Envolvimento de Belarus
O governo de Alexander Lukashenko em Belarus é considerado bastante alinhado ao de Vladimir Putin, da Rússia. Em 2020, quando buscava o sexto mandato consecutivo nas eleições presidenciais do país, Lukashenko enfrentou grandes protestos nas ruas, reprimidos com força e resultando em centenas de prisões consideradas arbitrárias.
Desde então, sua relação com as potências ocidentais anda estremecida: União Europeia, Reino Unido, EUA e Canadá impuseram sanções a Belarus depois das manifestações contra o governo.
Por isso, chama a atenção o que diz Demedyuk sobre as primeiras conclusões relacionadas ao ataque virtual sofrido pela Ucrânia. As investigações ucranianas, afirmou ele, atribuem a ofensiva a um grupo chamado UNC1151, ligado à inteligência bielorrussa.
De acordo com ele, esse grupo tem um histórico de atacar países próximos: além da Ucrânia, já foram vítimas a Lituânia, a Letônia e a Polônia.
O UNC1151 teria usado um malware [software que serve para causar danos] "muito semelhante em suas características ao usado pelo grupo ATP-29" — outro grupo hacker, normalmente acusado de trabalhar para a inteligência russa, que já foi acusado de interferir até nas eleições dos EUA em 2016.
Difícil identificar os culpados
Uma das grandes dificuldades trazidas por ofensivas hackers é que sua autoria é de atribuição complexa. Especialistas em segurança virtual costumam buscar um método ou uma linguagem utilizada por um grupo de hackers no passado que ajude a identificá-los como os responsáveis.
Nesse caso, segundo as falas de Serhiy Demedyuk, o malware utilizado pelos criminosos deu pistas de quem eles se tratavam.
Segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), sediado em Londres, governos como Rússia e Irã "são mais tolerantes com 'hackers patrióticos' e grupos cibercriminosos que operam em seu território, às vezes até em coordenação com eles".
No mesmo relatório, o IISS observou que o ciberespaço se tornou, "talvez inevitavelmente, um novo ambiente-chave e arriscado para a política e a concorrência entre Estados no século 21".
Consequências e respostas
O vice-secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia ainda disse que o ataque foi uma cobertura para ações mais destrutivas nos bastidores, mas não deu mais detalhes de que ações seriam essas. Acrescentou apenas que "sentiremos no futuro próximo" as consequências delas.
O governo de Belarus não respondeu à acusação, mas a Rússia já se manifestou negando envolvimento em ataques cibernéticos contra a Ucrânia.
*Com informações da agência de notícias Reuters
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