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Afinal, lasers podem ser armas letais contra pessoas?

Lasers, comuns como armas na ficção científica, podem ser armas na vida real? - Reprodução/Nasa
Lasers, comuns como armas na ficção científica, podem ser armas na vida real? Imagem: Reprodução/Nasa

Lucas Santana

Colaboração para Tilt

25/01/2022 09h31

Na última semana, a CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA) divulgou um relatório concluindo que os diplomatas que sofreram misteriosas dores de cabeça e náuseas em Cuba — um fenômeno apelidado de "síndrome de Havana" — não foram alvo de um tipo de arma sônica a laser disparada por agentes estrangeiros, como era debatido por muitos curiosos e conspiradores.

Os primeiros relatos da tal síndrome foram registrados na capital cubana em 2016, principalmente entre estadunidenses e canadenses. A partir de então, iniciou-se uma série de especulações sobre uma possível arma a laser que pudesse causar os problemas de saúde. Ao todo, em torno de mil pessoas, de diversas nacionalidades relataram sintomas semelhantes ao governo dos EUA durante visitação na capital cubana.

Armas a laser? Não é bem assim?

Fora do papo de conspiração, fica a pergunta: é possível que lasers possam ser usados como arma para atacar diretamente a saúde de uma pessoa?

Até hoje, não há nenhum estudo científico relevante que aponte o uso de armas sônicas — ou à luz — para produzir efeitos sobre a saúde humana, como no caso da "síndrome de Havana".

Um laser é um raio de luz direcionado e preciso, intenso em termos de concentração de energia, e, justamente, "é por isso que você não pode brincar de colocar o laser de um apontador em direção aos olhos", explicou à Tilt o professor Mikyia Muramatsu, do Instituto de Física da USP.

Para que um laser rompa tecidos ou cause dano a um corpo, é preciso muita, muita precisão e carga para direcionar um volume gigante de energia ao material que vai absorvê-lo. Para se ter uma ideia, um dos poucos equipamentos bélicos a laser existentes no mundo, o LaWS (Laser Weapon System, ou Sistema de Arma Laser), foi instalado no navio americano USS Ponce pela primeira vez em 2014, com o principal objetivo de atingir drones. Mesmo sem nunca ter sido utilizado publicamente, o LaWS tinha uma potência de 30 quilowatts. Lasers comuns, como esses comprados em lojas populares, têm apenas poucos miliwatts de potência.

"Não é uma arma do tipo que se carrega no bolso. Tem que ser instalada num navio, num tanque, avião. Demanda bastante energia", afirma Luís Araújo, do Grupo de Lasers e Aplicações do Instituto de Física da Unicamp.

Lasers não são totalmente inofensivos

Embora aquela cena clássica dos filmes de fantasia como Star Wars ainda esteja muito longe da realidade, lasers já são utilizados por pessoas comuns como ferramentas para comprometer a visão humana, sistemas de vigilância eletrônicos e até aeronaves.

Durante a revolta popular que abalou o Chile em 2019 contra as políticas neoliberais do presidente Sebastián Piñera, manifestantes usaram potentes aparelhos laser de mão para "cegar" câmeras de monitoramento e até derrubar um drone, que ficou desorientado após ser "alvejado" por feixes de luz verde apontados para ele ao mesmo tempo, numa espécie de pirâmide luminosa.

Naquele período, foi levantada a hipótese de que tantos feixes de luz apontados para o drone teriam causado sua desorientação, ou ainda, provocado o superaquecimento do dispositivo. Outra possibilidade é de que o operador do veículo aéreo não tripulado teria perdido a visão das câmeras e, consequentemente, a noção espacial de onde ele estava, causando a queda.

Pilotos de avião e helicópteros já foram pegos de surpresa pelo feixe de luz direcionado, ação que poderia ter causado graves acidentes.

"O uso indevido das ponteiras de raio laser contra cabines de aeronaves é risco potencial para as operações aéreas. Podem causar distração, ofuscamento e cegueira momentânea e comprometer a habilidade dos pilotos. O risco pode levar a situação extrema de perda de controle em voo, em especial, nos casos de aeronaves tripuladas por um único piloto", explicou à Tilt um porta-voz do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).

Em outras situações, lasers portáteis já foram utilizados para atrapalhar a visão de jogadores de futebol em campo e beneficiar o time adversário. Em protestos ao redor do mundo, já foram usados também para "cegar" os policiais que avançavam sobre a multidão.