Fiz um teste e descobri que convivo com um gato psicopata

Essa figurinha charmosa aí da foto acima é o Kobe, um dos dois gatos que convivem comigo. Juntamente com seu irmão, o LeBron, eles são os responsáveis por dar aquela pitada de caos, fofura e imprevisibilidade ao meu dia a dia.

O curioso é que, mesmo sendo irmãos biológicos, Kobe e LeBron são muito diferentes. Enquanto LeBron é extremamente tranquilo, raramente metido em confusões, Kobe é agitado, vive correndo pela casa, sobe e desce de prateleiras, demanda atenção... enfim, apronta mil e umas.

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Essas características do Kobe me fizeram questionar: será que estou vivendo com um psicopata? Foi por isso que decidi aplicar nele um teste de psicopatia chamado CAT-Tri+.

O teste foi desenvolvido pela equipe da psicóloga Rebecca Evans, da Universidade de Liverpool (Inglaterra), e se baseia no modelo triárquico de psicopatia, conceito criado pelos psicólogos Christopher J. Patrick, Don C. Fowles e Robert F. Krueger. O experimento consiste em analisar os níveis de psicopatia de um humano com base em três características —ousadia, desinibição e maldade— e foi adaptado para o comportamento animal.

De cara, fiquei preocupado com uma palavra: psicopatia. Ao menos quando tratamos de humanos, esse acaba sendo um distúrbio muito sério que, geralmente, traz muitos problemas.

"Esse é um transtorno que tem início na infância e na adolescência, com a pessoa cometendo delinquências variadas, maus tratos a animais e a outros indivíduos mais fracos, entre outras. Uma vez adulto, o psicopata se torna uma pessoa muito sedutora, capaz de convencer, manipular e usar outras pessoas para se dar bem. É impulsivo, agressivo, tem pouca ou nenhuma empatia e não assumem culpa, nem sentem remorso por fazer algo de mau para alguém", explica Eduardo Perin, psiquiatra pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e especialista em TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental) pelo Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo).

Será que, por dividir o teto com o Kobe, eu deveria começar a me preocupar com a minha integridade?

Convivendo com um psicopata?

Quando perguntada sobre o que motivou fazer esse estudo comportamental de gatos, Evans afirma que todas as pessoas envolvidas eram "loucas por gatos".

"Nós tivemos muitas fontes de inspiração. Todos gostamos de gatos e alguns de nós estudam animais não-humanos, enquanto outros estudam a psicopatia em humanos. Nós decidimos juntar esforços e ver se a psicopatia é algo relevante para nossos amigos felinos também", disse, em entrevista a Tilt.

"Pessoalmente, também estou interessada em como as percepções dos tutores sobre a psicopatia de seus gatos podem afetar o relacionamento entre gatos e tutores", complementa.

O teste desenvolvido por Evans e sua equipe analisa cinco aspectos da personalidade de um gato: ousadia, desinibição, maldade, inimizade com outros pets e inimizade com humanos.

Em cada critério, há uma série de afirmações relacionadas a cada traço de personalidade e o tutor que deve preencher o questionário tem quatro opções, indo de "não descreve em nada o meu gato" até "descreve meu gato extremamente bem". Além disso, há uma outra opção que deve ser preenchida caso a afirmação não se aplique ao animal.

A pontuação é de 1 a 5 em cada quesito —os itens não aplicáveis são anulados da conta final—, o que resulta em uma nota de 1 a 5 em cada conjunto de afirmações.

No teste do Kobe, os resultados foram os seguintes:

• 3,71 para ousadia;
• 3,91 para desinibição;
• 2,5 para maldade;
• 3,14 para inimizade com pets;
• 1,6 para inimizade com humanos.

Ao final, é feita uma média levando em conta apenas as afirmações que tiveram respostas aplicáveis. Sendo assim, ele ficou com uma nota de 3,15 em psicopatia geral.

Meu gato é um psicopata! Devo me preocupar?

De cara, foi curioso notar que as notas mais altas descrevem com grande exatidão a personalidade do Kobe. De fato, ele é um gato ousado e adora ficar em locais altos, ao passo que ele é muito desinibido, sempre quer companhia e é curioso com qualquer objeto novo que entra em casa. Por outro lado, nunca atacou uma pessoa — com desconhecidos ele mantém apenas uma distância inicial —, mas parece sempre querer provocar o cachorro da minha namorada.

Já o último quesito, psicopatia geral, é o que mais me preocupou. Evans, porém, tratou de me tranquilizar sobre isso ao deixar claro que, quando falamos de animais, a psicopatia não é uma característica tão problemática quanto a observada nos humanos.

Ela afirma que é bem provável que todos os gatos tenham elementos de psicopatia, uma vez que essa característica pode ter sido útil para os seus ancestrais na aquisição de recursos, como comida, territórios e oportunidades de se acasalar.

"Notas altas não significam que o gato é 'mau' ou algo assim, apenas que alguns ajustes podem ser necessários para acomodar o comportamento do animal se isso estiver afetando a relação gato-tutor", aponta.

Por exemplo, gatos mais ousados podem precisar de mais lugares para explorar ou subir, como aquelas prateleiras com nichos feitas especificamente para eles, enquanto animais mais desinibidos podem se dar melhor com tutores dispostos a oferecer muita companhia e afeto.

Domesticação "recente"

Muitos comportamentos dos gatos ainda são um mistério e isso pode ter a ver com a diferença de tempo entre a sua domesticação e a dos cachorros. Enquanto estima-se que os primeiros cães começaram a ser domesticados há cerca de 29 mil anos, os gatos se tornaram mais próximos de humanos há apenas 10 mil anos.

"Essa domesticação tardia talvez signifique que os gatos são menos adaptados à vida doméstica do que os cães e, por tabela, nós entendemos menos seus comportamentos", diz Evans.

O próprio processo de domesticação ocorreu de maneira diferente. Enquanto no caso dos cães a aproximação acabou partindo dos humanos, que escolheram esse animal para tarefas específicas, no caso dos gatos o caminho foi inverso: eles escolheram estar perto dos humanos, já que atividades da nossa espécie, como a agricultura, acabavam atraindo presas típicas dos felinos, como roedores e aves.

Não é de todo errado, portanto, dizer que nós é que fomos domesticados pelos gatos.

Além disso, ao contrário dos cães —que passaram por um processo de seleção com maior intervenção humana—, os gatos domésticos têm poucas diferenças genéticas em relação aos seus "parentes" selvagens.

A principal delas acaba sendo comportamental, com gatos domésticos sendo menos solitários e mais tolerantes a outros humanos e animais. Ainda assim, eles acabam tendo mais características de animais selvagens do que o visto em cães.

"Por isso eu entendo que é importante explorar como o comportamento felino é compreendido e, a partir daí, facilitar a vida tanto de gatos quanto de tutores", conclui Evans.

Caso você tenha interesse em participar do estudo, é possível preencher um questionário aqui. O grupo também mantém um perfil no Twitter com novidades sobre suas descobertas.