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Agência Espacial ajusta 'novo' espaço-tempo do mundo com relógios atômicos

Novas medições de relógio nuclear podem dar mudanças de tempo mais precisas ao redor do mundo  - iStock
Novas medições de relógio nuclear podem dar mudanças de tempo mais precisas ao redor do mundo Imagem: iStock

Nicole D'Almeida

Colaboração para Tilt, de São Paulo

02/02/2022 10h47

Desde novembro de 2021, os satélites e estações terrestres da ESA (Estação Espacial Europeia) estão funcionando em um tempo diferente do usual — e extremamente preciso.

Medido por dois relógios atômicos no porão do centro de controle de missões ESOC (Centro de Operações Espaciais Europeu), localizado na Alemanha, o "Tempo ESOC", como foi chamado, "trará benefícios operacionais de amplo alcance para todas as missões da ESA, possibilitando novos feitos no espaço, aumentando nossa definição global de 'agora'", segundo um artigo publicado pela agência europeia.

O tempo muda

De acordo com a Teoria da Relatividade de Albert Einstein, o tempo é relativo — ou seja, ele flui diferente para cada um, a depender de quão rápido ele está se movendo, ou quão longe está de um corpo massivo. Dessa forma, os relógios no topo de uma montanha leem o tempo um pouco diferente dos que estão no fundo do mar.

Assim, a hora só será exata agora para você por conta da sua localização, ficando impossível saber qual a hora exata agora em outro lugar.

"Imagine pedir a um marciano o tempo no Planeta Vermelho — levará cerca de 14 minutos para que sua mensagem chegue e o mesmo novamente para obter a resposta deles. Quando você recebe a mensagem deles, ela está desatualizada", explica o artigo.

No século 20, relógios atômicos mostraram que algumas mudanças naturais, como o derretimento de mantos de gelo, terremotos e os movimentos naturais na crosta, oceanos e atmosfera da Terra, criavam variações diárias no tempo que leva para a Terra girar em torno do seu eixo.

Com isso, foi adotado o Tempo Universal Coordenado (UTC) em 1967. Cerca de 400 relógios atômicos extremamente precisos foram colocados em todo o mundo, com o intuito de medir a rotação da Terra.

O Escritório Internacional de Pesos e Medidas, localizado em Paris, tem processado os resultados emitidos por cerca de 90 "laboratórios do tempo" — que geram realizações locais de UTC — espalhados ao redor do mundo.

Com isso, é possível "calcular uma média ponderada direcionada para a definição do segundo SI (Sistema Internacional de Unidades) e ajustada de vez em quando com a adição de segundos bissextos para corrigir a rotação da Terra, UTC", explica Erik Schoenemann, Engenheiro de Navegação da ESOC e Gerente de Projetos responsável.

Esse processo também é conhecido como segundo intercalar — ajuste de um segundo para manter o tempo na Terra o mais próximo ao tempo solar.

"Esse tempo combinado é definido como um relógio de papel, pois só existe em teoria e só pode ser descoberto após o fato, com um atraso de cerca de seis semanas", pontua o representante da agência.

ESOC em ponto

O centro técnico ESTEC (Centro de Pesquisa Espacial e Tecnologia Europeu) da ESA, com seus relógios atômicos localizados na Holanda, tem contribuído para o UTC desde 2012.

Os relógios do centro de controle da missão ESOC da ESA estão adicionando suas medições combinadas dos dois locais, sendo apelidadas de "UTC (ESA)".

"O tempo fornecido anteriormente pela ESTEC estava em condições de laboratório e não era usado por nossas estações terrestres ou missões. A principal diferença agora é que geramos um "tempo operacional", pronto para uso imediato para todas as missões, sem interrupção", explica Werner Enderle, Chefe do Escritório de Suporte à Navegação da ESA na ESOC.

O tempo do ESOC possibilitará o fornecimento de um link direto para o UTC para todas as missões da agência, permitindo, assim, novos recursos e desenvolvimentos significativos que não eram possíveis antes.