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O corpo humano é capaz de sentir o campo magnético da Terra?

O cérebro humano responde, de maneira inconsciente, a mudanças no campo magnético - iStock
O cérebro humano responde, de maneira inconsciente, a mudanças no campo magnético Imagem: iStock

Colaboração para Tilt, em São Paulo

05/02/2022 04h00

A capacidade de aves migratórias e tartarugas marinhas captarem o campo magnético da Terra e usarem essa informação num sistema de GPS natural já foi bastante estudada e documentada.

Mas, em 2019, um grupo de geofísicos e neurobiólogos da Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), da Universidade de Princeton e de Tóquio publicou as primeiras evidências de que o cérebro humano também responde, de maneira inconsciente, a mudanças no campo magnético terrestre. Isso pode ser uma herança dos nossos antepassados nômades.

Não está provado que o comportamento humano é alterado pelas informações inconscientes que captamos sobre o campo magnético, mas a descoberta abre caminho para uma nova linha de investigação: se formos realmente sensíveis ao campo magnético, os ímãs de fones de ouvido, por exemplo, ou as máquinas de ressonância magnética são capazes de alterar em algo nosso senso de direção?

Os pesquisadores criaram para o experimento uma caixa com paredes de alumínio protegida da influência de ondas de rádio - Reprodução/Caltech - Reprodução/Caltech
Imagem: Reprodução/Caltech

Os pesquisadores acompanharam por eletroencefalogramas a atividade cerebral de 34 adultos, homens e mulheres com idades entre 18 e 68 anos e ascendência europeia, asiática, africana e indígena. Um terço das pessoas apresentou atividade cerebral quando houve mudanças no campo magnético de seu entorno, segundo estudo publicado na revista eNeuro, na época.

Os voluntários foram colocados sentados em um banco de madeira dentro de um caixa escura com paredes de alumínio que os protegiam de outros ruídos eletromagnéticos, como ondas de rádio. No espaço dessa caixa, os pesquisadores mimetizaram o campo magnético da Terra com o fluxo de correntes elétricas criado por bobinas ligadas às paredes que revestem a caixa.

Em alguns testes, o campo magnético foi mantido fixo em um dos pontos da caixa, em outros testes, rotacionado ou desligado —assim, o participante estava exposto apenas ao campo magnético natural de nosso planeta e não sabia em qual dos testes estava.

Os pesquisadores encontraram dois tipos de mudanças no campo magnético da Terra que produziram "efeitos fortes, específicos e repetíveis na atividade das ondas cerebrais humanas". Os testes foram refeitos nas pessoas que tiveram respostas cerebrais às mudanças de campo magnético, e o resultado se reproduziu.

"Dada a presença conhecida de sistemas de navegação geomagnética altamente evoluídos em espécies de todo o reino animal, não é surpreendente que tenhamos mantido pelo menos alguns componentes neurais funcionais, especialmente dado o estilo de vida de caçador-coletor nômade de nossos não tão distantes ancestrais. A extensão total desta herança ainda precisa ser descoberta", concluem os cientistas no artigo.