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RV e terapia em dia: como a covid-19 mudará a cara dos dates via aplicativo

Pesquisa aponta que as pessoas preferem ter um primeiro encontro por chamada de vídeo antes de se conhecerem pessoalmente - Ksenia Zvezdina/Getty Images/iStockphoto
Pesquisa aponta que as pessoas preferem ter um primeiro encontro por chamada de vídeo antes de se conhecerem pessoalmente Imagem: Ksenia Zvezdina/Getty Images/iStockphoto

Barbara Mannara

Colaboração para Tilt, do Rio de Janeiro

05/02/2022 04h00

Os relacionamentos românticos poderão mudar bastante em 2022. Depois do crescimento do uso de aplicativos de encontros — mais virtuais durante a pandemia de covid-19—, interações online por VR (realidade virtual) farão parte da vida de algumas pessoas. Após o match, mensagens de áudio e conversas sobre saúde mental deverão também estar entre os principais formatos e assuntos para encontrar um amor com ajuda da tecnologia.

Além disso, os usuários tendem a ser mais objetivos e sinceros sobre namoro e relacionamentos não monogâmicos. É o que aponta um levantamento feito por especialistas do setor, segundo informações publicados pelo site Mashable. Confira a seguir as principais tendências para os namoros:

Namoro online + realidade virtual

A pandemia acabou aumentando número de chamadas de vídeo no primeiro encontro. Para este ano, isso deve continuar em alta, mas com o plus: realidade virtual. Os resultados da pesquisa "Singles in America 2021", feita pelo grupo Match (que possui o Tinder, Hinge e outros apps de namoro), comprovam essa percepção.

No levantamento, realizado com 5 mil pessoas entre 18 e 75 anos nos EUA, 71% afirmaram que um encontro por vídeo ajudou a decidir se o próximo passo seria um encontro pessoalmente. E 63% se sentiriam mais confortáveis em um primeiro date ao vivo se tivessem conversado antes por vídeo.

Dados coletados de mais de 5 mil usuários da plataforma Hinge no final de dezembro 2020 mostram que 65% planejavam incorporar chamadas de vídeo no processo de se relacionar com pretendentes.

A pandemia e o distanciamento social trouxeram também mais importância para a voz em mensagens e ligações. Prova disso é que novos recursos de áudio foram implementados em apps de namoro, como o Bumble, que liberou uma atualização do tipo no final de 2020.

E nessa história ainda entra o metaverso, tema que voltou a ficar em alta com a entrada do Facebook nesse mercado. Já imaginou conhecer alguém em um ambiente de realidade virtual? Isso pode estar mais perto do que imagina.

O grupo Match planeja usar um metaverso para namoro chamado de "Single Town" (cidade dos solteiros, em tradução livre). Para acessá-lo, será necessário o uso de óculos de realidade virtual. Nesse ambiente online, as pessoas poderão interagir — com ajuda de áudios — em um bar digital, por exemplo.

Apesar da expectativa para o metaverso, é bom lembrar que mundos virtuais do tipo já começam a registrar casos de assédio. Um deles aconteceu no Horizon Worlds, plataforma VR da empresa de Mark Zuckerberg. Foi divulgado este ano que avatares de mulheres foram "apalpados" e alvos de fotos não autorizadas.

Encontrar vários amores

Ainda segundo a reportagem, os especialistas destacam que um dos motivo para algumas pessoas terem saído para encontros mesmo durante a pandemia e medidas de distanciamento social envolveu crises existenciais, que fizeram muita gente pensar sobre o que desejava da vida.

Nesse processo, observou-se que os encontros românticos foram estimulados por dois caminhos: quem procurava por uma pessoa para amar e aqueles que buscavam por mais de um amor, em relações não monogâmicas ou poliamor.

"A busca pela realização levará solteiros e casais a criar suas próprias definições e estruturas para seus relacionamentos", disse Tennesha Wood, coach de encontros e casamenteira. "Abrindo assim caminho para relacionamentos não monogâmicos e para a liberdade de relações abertas", acrescentou sobre as previsões para 2022.

No Feeld, app de encontro para solteiros e casais, houve um salto de palavras-chave relacionadas com não-monogamia ou poliamor em seus perfis, segundo Lyubov Sachkova, gerente de comunicação do app. Esse aumento aconteceu justamente nos anos "pandêmicos" de 2020 a 2021.

Busca por estabilidade

Segundo a Helen Fisher, bioantropóloga e consultora científica chefe do grupo Match, 65% dos solteiros pesquisados pela empresa desejam um relacionamento neste ano. Considerando apenas os adultos, 81% da geração Z (nascidos entre meados de 1990 e 2010) e 76% dos millennials (nascidos entre 1981 a 1995) desejam um amor romântico.

Apesar disso, só o amor não bastará. A pandemia também trouxe uma necessidade de segurança financeira entre os usuários.

Segundo a pesquisa da Match, há uma maior busca por um parceiro com uma renda igual ou superior a da pessoa. Em 2019, esse número era de 70%, mas em 2021 foi observado um salto para 86% entre os entrevistados.

Saúde mental como prioridade

E a terapia, está em dia? Para encontrar seu próximo amor, esse pode ser um dos pré-requisitos em 2022.

Nada menos que 91% dos usuários do app Hinge prefeririam namorar alguém que fizesse terapia, de acordo com os dados de novembro de 2021.

Além disso, 89% dos participantes estão mais propensos a ir em um próximo encontro com alguém que menciona terapia durante a primeira conversa.

Segundo Logan Ury, diretor do app de relacionamentos Hinge, os usuários "querem encontrar alguém para se deitar na cama e falar sobre o que [eles] estão passando [...] e como a vida é difícil e como [eles estão] assustados".

Essa necessidade, segundo ele, foi potencializada pela pandemia. O estresse e ansiedade causados pelos meses de covid-19 colocaram em destaque o estado emocional das pessoas. Tanto que 65% dos entrevistados da pesquisa da Match disseram que tomaram maiores cuidados com sua saúde mental no ano passado.

"Quando compartilhamos essas informações [sobre saúde mental], as pessoas gostam mais de nós, se sentem mais atraídas, mais curiosas e mais seguras sobre nós, [e] mais propensos a trazer à tona suas próprias lutas de saúde mental", disse Ury.

Essa informação também apareceu no relatório "Future Dating", feito pelo Tinder, e divulgado em março de 2021. As menções à palavra "ansiedade" aumentaram 31% entre 2020 e 2021, deixando ainda mais claro a importância de se falar sobre saúde mental.

Sem tempo, irmão

Nada de joguinhos ou perder tempo. Em 2022 pode-se virar a chave para um tipo de relação mais direta e sincera. A moda é ser transparente.

A tendência é que logo nos primeiros encontros já fique claro os objetivos de vida, para entender se a outra pessoa está alinhada também.

"Não é exigir uma determinada resposta de alguém. mas é ser muito honesto e vulnerável desde o início sobre o que você quer e perguntar à outra pessoa o que ela quer", diz Ury.