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Ponto Nemo, o 'cemitério' no fundo do mar que sepultará a Estação Espacial

A estação espacial de Mir, um dos satélites que foi sepultados no ponto Nemo - Nasa/NYT
A estação espacial de Mir, um dos satélites que foi sepultados no ponto Nemo Imagem: Nasa/NYT

Barbara Mannara

Colaboração para Tilt*, do Rio de Janeiro

09/02/2022 15h05

A Estação Espacial Internacional (ISS) será "derrubada" para colidir de volta à Terra em 2031. O centro de pesquisas, em órbita desde 1998 e ocupado por astronautas desde os anos 2000, aguarda até o final de 2030 para encerrar suas atividades. E em seus últimos momentos, será aposentada e mergulhada no Ponto Nemo — um "cemitério" espacial, só que ele fica bem aqui na Terra.

Embora ainda não se sabe as datas e horários exatos do acontecimento (porque essas informações dependem do ciclo solar e estado da atmosfera da Terra), o local já é definido pelos cientistas. Essa zona misteriosa serve de local de "queda" para estações espaciais, satélites e detritos espaciais desativados. Mas ela foi pensada para ficar bem distante de qualquer cidade ou local habitável, em uma área conhecida como a mais remota do planeta.

Localizado no meio do oceano Pacífico, entre os continentes da América do Sul e Oceania, o Ponto Nemo fica a mais de quatro mil quilômetros da costa da Nova Zelândia. Não há nem ilhas nessas águas e o Ponto Nemo está além da jurisdição de qualquer Estado.

Ponto Nemo localizado no Google Earth via coordenadas - Barbara Mannara/Reprodução/Google - Barbara Mannara/Reprodução/Google
Ponto Nemo localizado no Google Earth via coordenadas
Imagem: Barbara Mannara/Reprodução/Google

Destroços espaciais na Terra

Mas essa não é o primeiro enterro no fundo do mar de equipamentos espaciais nesta zona. Desde os anos 70, muitos países despejam seus destroços espaciais ao redor da misteriosa área do Ponto Nemo. A estação espacial russa Mir, por exemplo, foi derrubada nessas águas em 2001.

Batizado em homenagem ao famoso autor Júlio Verne, o Ponto Nemo tem esse nome por conta do capitão Nemo, personagem do livro "Vinte Mil Léguas Submarinas".

Para quem está curioso e quiser dar uma olhada no Google Maps onde fica exatamente o Ponto Nemo, saiba que as coordenadas são 48°52'6"S 123°23'6" W, segundo o National Ocean Service, dos Estados Unidos.

Coordenadas do Ponto Nemo no Google Maps - Reprodução/Google - Reprodução/Google
Coordenadas do Ponto Nemo no Google Maps
Imagem: Reprodução/Google

Perigos de colisão na Terra

Você pode estar se perguntando: "mas não há riscos para essas colisões de lixo espacial com a Terra?" E a resposta é sim. Mas o grande problema não está nas espaçonaves ou estações controladas e sim, nos pedaços de foguetes que fazem uma "reentrada descontrolada" na Terra.

Uma situação polêmica aconteceu em 2021. A China foi acusada pela NASA de não atender aos "padrões responsáveis" depois que destroços do seu foguete Longa Mancha 5B caíram no Oceano Índico de forma não controlada.

"As nações que exploram o espaço devem minimizar os riscos para pessoas e propriedades na Terra com as reentradas de objetos espaciais, e maximizar a transparência em relação a essas operações", disse Bill Nelson, administrador da NASA, na época.

E esse risco é mais comum do que imaginamos.

De acordo com o chefe do Escritório do Programa de Segurança Espacial do Espaço da Agência Espacial Europeia (ESA), Holger Krag, 100 a 200 toneladas de lixo espacial reentram, em média, na atmosfera da Terra de maneira descontrolada todos os anos.

No entanto, a reentrada de todo esse entulho na Terra ainda é a melhor opção, segundo Krag. Isso porque, se as agências mantiverem esses equipamentos desativados no espaço, eles podem colidir com satélites em funcionamento ou até ameaçar a vida de astronautas em espaçonaves tripuladas.

Lixo espacial no oceano

Mas e a responsabilidade ambiental? Apesar do Ponto Nemo estar longe de qualquer vida humana, os vestígios de todo esse lixo espacial são notados.

Partículas de microplástico foram descobertas nas águas quando barcos da Volvo Ocean Race — navegação à vela ao redor do mundo — passaram nessa zona em 2018. Isso sem contar as toneladas de destroços que permanecem no fundo do mar.

No entanto, a vida marinha na zona do Ponto Nemo é conhecida por ser mais estéril por conta das correntes marítimas e proximidade do Giro do Pacífico — região conhecida como um "deserto marinho".

Segundo o oceanógrafo Autun Purser, pesquisador do Instituto Alfred Wegener em Bremerhaven, na Alemanha, aquela região seria habitada apenas por pepinos-do-mar, polvos e peixes específicos. Isso porque há uma baixa oferta de alimentos. "Provavelmente não há uma alta biomassa lá embaixo", afirmou Purser.