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Como óculos de RV virou aliado na vacinação contra covid no interior de MS

Óculos de Realidade Virtual são usados em vacinação infantil contra covid-19 - Luiz Borges/Arquivo Pessoal
Óculos de Realidade Virtual são usados em vacinação infantil contra covid-19 Imagem: Luiz Borges/Arquivo Pessoal

Simone Machado

Colaboração para Tilt, em São José do Rio Preto (SP)

12/02/2022 04h00

Óculos de RV (Realidade Virtual) foram criados para levar mais realismo ao mundo dos games, no entanto, outros setores têm aproveitado a tecnologia. Na área da saúde, por exemplo, ele vem sendo estratégia importante na vacinação de crianças contra a covid-19 em Aquidauana, cidade com pouco mais de 48 mil habitantes, no interior de Mato Grosso do Sul.

A ideia, que já é utilizada em clínicas e laboratórios particulares, foi do estudante de engenharia de computação Luiz Fernando da Silva Borges. Ele conta a Tilt que o objetivo e levar ao SUS (Sistema Único de Saúde) uma tecnologia de ponta para incentivar as crianças a se vacinarem e ajudar a reduzir o medo dos pequenos nesse momento.

O projeto começou a funcionar de maneira piloto na semana passada. A utilização é simples. Ao entrar na sala de vacinação, a criança recebe um óculos de RV já higienizado. Ao colocar o equipamento, ela passa a assistir a um vídeo interativo e não vê a vacina sendo aplicada.

"A criança é transportada para um mundo virtual onde ela vê uma fada se aproximando para preparar uma armadura na criança usando pedrinhas mágicas. Quando a fadinha diz para a criança que vai colocar uma pedrinha de gelo, o profissional da saúde passa o algodão com álcool no braço em seu braço, na hora da aplicação da vacina, a fadinha coloca uma pedra de fogo, o que induz a criança a imaginar que aquela dorzinha da injeção é devido ao toque da fada", explica Luiz Fernando.

Projeto está em fase piloto, sendo comandado pelo estudante Luiz Borges - Luiz Borges/Arquivo Pessoal - Luiz Borges/Arquivo Pessoal
Projeto está em fase piloto, sendo comandado pelo estudante Luiz Borges
Imagem: Luiz Borges/Arquivo Pessoal

O resultado é uma experiência divertida para a criança, que acaba perdendo o medo da picada da vacinada e se diverte durante a imunização, segundo o estudante.

"O nosso cérebro é induzido a acreditar naquilo que estamos vendo, dessa maneira conseguimos reduzir o estresse e o medo gerados na criança durante a vacinação. Porque, na verdade ela não percebe que está recebendo uma injeção", acrescenta.

Para viabilizar o projeto no SUS, o pesquisador doou dois óculos de realidade virtual para a secretaria de Saúde da cidade. O software para o uso, que transmite o vídeo interativo exibido no momento da vacinação, foi desenvolvido por uma empresa do setor e oferecido ao município também sem custo.

As duas unidades de saúde que estão fazendo a imunização infantil da cidade contam com o material, sendo um óculos em cada.

"Esse simples fato gera um incentivo nas crianças em buscarem a vacinação para terem a experiência da realidade virtual. Uma vai falando para a outra e até mesmo aquelas que os pais estavam demorando um pouquinho para leva-los, acabam cobrando que querem ir se vacinar", afirma Luiz Fernando sobre as respostas iniciais do projeto.

Desde a implantação da iniciativa piloto cerca de 70 crianças foram imunizadas utilizando o equipamento. Quem trabalha na linha de frente da vacinação, aprova a iniciativa e afirma que o projeto trouxe diversos benefícios ao setor.

"Antes as crianças chegavam na sala de vacinação com medo e ficavam apreensivas em ver a injeção. Na maioria das vezes elas choravam e precisavam do apoio dos pais, muitas vezes para segurá-los, no momento da aplicação do imunizante. Já com os óculos eles se divertem. Por não verem a agulha, a injeção é aplicada de forma rápida e bem tranquila", explica o técnico de enfermagem Alexandre Silva, que atua na rede municipal de saúde de Aquidauana.

Para a pediatra Fabiana Picirillo de Oliveira, o uso da tecnologia durante a imunização contra a covid-19 pode ser avaliado de forma benéfica, no entanto, é importante que os pais ou responsáveis deixem claro que apesar do momento lúdico, o motivo de a criança estar participando daquela interação é a vacinação contra uma doença que deve ser levada à sério.

"As crianças gostam muito quando apresentamos o mundo de forma lúdica e os óculos podem tornar essa situação da vacinação mais divertida. Mas, independentemente da idade, ela deve saber que está ali para receber o imunizante, para que caso sinta algum desconforto não se assuste e também é necessário que seja explicado a importância da vacinação", diz a profissional.

Ideia do óculos é do estudante de engenharia de computação Luiz Borges  - Divulgação - Divulgação
Ideia do óculos é do estudante de engenharia de computação Luiz Borges
Imagem: Divulgação

Outros locais

Com o intuito de oferecer essa experiência para mais crianças em outros municípios, o cientista criou um post no Instagram onde se coloca à disposição para ajudar a implantar o projeto de RV na vacinação contra a covid-19 em outras cidades do país.

"Acho que nossa função é essa, levar nosso conhecimento para o maior número de pessoas possível. Por isso resolvi me colocar à disposição para expandir esse projeto e levar a realidade virtual para as unidades de saúde públicas de mais cidades", acrescenta.