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Núcleo da Terra está esfriando, mas como processo pode afetar nossa vida?

Erupções e tsunamis em locais improváveis podem ser algumas das consequências do esfriamento do núcleo da Terra - Tanya Grypachevskaya/ Unsplash
Erupções e tsunamis em locais improváveis podem ser algumas das consequências do esfriamento do núcleo da Terra Imagem: Tanya Grypachevskaya/ Unsplash

Cláudio Gabriel

Colaboração para Tilt, no Rio de Janeiro

14/02/2022 15h26

As mudanças dentro do núcleo terrestre até parecem coisa de ficção científica, mas recentemente um estudo científico detectou que algo já está acontecendo e, na prática, pode começar a afetar nossa vida. Pesquisadores da ETH Zurich na Suíça e da Carnegie Institution for Science descobriram que o núcleo está esfriando mais rápido que o previsto, o que pode atrapalhar o entendimento sobre a evolução do planeta.

A explicação é a seguinte: o calor do núcleo está sendo transmitido de forma mais veloz, o que faz a Terra se esfriar como um todo. Transformando-se em um local totalmente frio, ela se tornaria inativa, sem possibilidade de vida, como no caso de Mercúrio e Marte.

De acordo com os pesquisadores, mudanças mais a médio prazo dessa temperatura podem interferir no funcionamento das placas tectônicas. Sem os geólogos saberem com exatidão como irão se movimentar, é possível que maremotos e erupções aconteçam com cada vez mais frequência e em lugares sem incidência disso.

O professor que coordenou a pesquisa, Motohiko Murakami, da Universidade de Zurich, disse à Newsweek que "o calor da parte mais profunda da Terra pode ser transferido para a superfície, que é a fonte de energia original para a atividade tectônica. Assim, se assumirmos uma convecção do manto mais vigorosa, podemos imaginar uma tectônica mais ativa".

A trajetória de Marte em ter se transformado em um grande deserto é algo a ser observado pelos cientistas. Após o término da transferência de calor, o planeta foi se tornando hostil e sem possibilidade de vida há muito tempo. Logo, existe dúvidas sobre se isso poderia acontecer com a Terra.

O estudo foi publicado na revista Earth and Planetary Science Letters.

E como foi descoberto?

Os cientistas estavam estudando a condutividade térmica dos minerais presentes na camada entre o núcleo e o manto do planeta. Eles analisavam a velocidade em que o calor passava para as camadas externas. Ou seja, quanto mais veloz, mais rápido a Terra perde o calor. E a rapidez do processo os impressionou.

Eles aplicaram imensas quantidades de pressão e calor a um mineral chamado bridgmanite, encontrado entre o núcleo e o manto.

Esse mineral já foi predominante na Terra há muito tempo. O objetivo era simular os tipos de condições profundamente abaixo da superfície. Eles então mediram sua condutividade térmica para ter uma melhor noção dos processos de resfriamento em jogo.

No comunicado oficial, o professor Murakami revelou que "este sistema de medição nos permite mostrar que a condutividade térmica da bridgmanite é cerca de 1,5 vezes maior do que o assumido".

Com a descoberta, eles desenvolveram um sistema de medição, que vai permitir acompanhar a condutividade do mineral. Testes devem ser feitos constantemente para compreender o desenvolvimento do esfriamento do núcleo.

Para medir, eles utilizam um sistema de absorção óptica, criado recentemente em uma unidade de diamante aquecida com laser pulsado. A ideia é simular a pressão da Terra.

Apesar disso, o professor disse à Newsweek que a inatividade terrena deve ser algo para um futuro bem distante:

"Quanto tempo a Terra permaneceria dinamicamente ativa seria definitivamente um dos maiores problemas que temos que enfrentar. No entanto, a escala de tempo que se encaixaria para esta discussão deve ser milhões ou mesmo bilhões de anos".