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Ovni ou lixo espacial? Luzes 'piscantes' cruzam céu do Rio Grande do Sul

Observatório Espacial Heller-Jung
Imagem: Observatório Espacial Heller-Jung

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt

16/02/2022 15h49

Na madrugada desta terça-feira (15), foram registradas imagens de flashes de luz percorrendo os céus de Taquara, no Rio Grande do Sul. O objeto parecia piscar e explodir enquanto seguia seu trajeto, mas não estava caindo. Seria um Ovni (objeto voador não identificado, comumente associado a naves alienígenas)?

O fenômeno, porém, rapidamente foi elucidado por astrônomos. Era o satélite metrológico chinês Fengyun 1C. Na verdade, um pedaço dele, que ainda continua na órbita da Terra como lixo espacial. Ele foi lançado há mais de 20 anos, em maio de 1999.

Apesar de brilhante, o objeto não estava realmente piscando, pois não emite luz própria. "Isto ocorre porque, em dado momento, a luz do Sol ilumina ou não os componentes metálicos, como painéis solares. Eles apenas refletem a luz incidente, gerando os chamados 'flares'", explica o professor Carlos Fernando Jung, proprietário do Observatório Espacial Heller & Jung, que capturou as imagens.

Nuvens no céu, que podem obstruir nossa visão, também contribuem para o efeito em que o objeto parece sumir e reaparecer. "Por isso, muitas vezes são confundidos com ovnis. As pessoas enxergam algumas 'piscadas' e depois não o veem mais, pois o Sol não está incidindo ou foi encoberto por alguma nuvem."

Os registros foram feitos a 810 km de altitude, passando sobre o RS. O observatório de Taquara possui um sistema dedicado a satélites, com duas câmeras que operam em campo de visão estreito, com lentes de 25mm e 50mm. Monitoram satélites diariamente no início da noite e ao amanhecer - quando a luz do Sol os ilumina.

Satélite polêmico

O programa FengYun (nome que significa "ventos e nuvens", em chinês) foi iniciado pelo governo da China em 1988, e até hoje está em funcionamento. Dezenas desses satélites já foram lançados, para realizar análises meteorológicas.

O Fengyun 1C fez parte da primeira leva. Com 954 kg, ele carregava radiômetros de scanner em dez comprimentos de ondas visíveis e infravermelhos, para monitorar cobertura de nuvens da Terra e as cores e temperaturas dos oceanos.

Seu tempo estimado de operação era de apenas dois anos — mas conseguiu seguir operante por quase cinco, sendo aposentado em janeiro de 2004. Depois disso, ele continuou em órbita, mas sem funcionar, se tornando o que chamamos de lixo espacial.

Nos últimos anos, porém, o Fengyun 1C foi centro de algumas polêmicas. Em 2007, a China deliberadamente lançou um míssil contra ele, como parte de um teste antissatélites. Isso gerou uma bagunça: ele foi partido em 2.841 pedaços, de acordo com a Nasa, gerando o maior número de lixos espaciais da história.

Eventualmente, esses pedaços são vistos da Terra ou causam problemas em órbita. Cada um recebeu um número de identificação para monitoramento; o que passou pelo céu brasileiro foi o Norad 30978.

Em novembro do ano passado, outro fragmento quase protagonizou um acidente sério: por pouco, não colidiu com a Estação Espacial Internacional. A ISS teve de fazer uma manobra, aumentando 1.240 metros em sua altitude, para desviar do impacto, que poderia danificar sua estrutura.