Como a guerra cibernética russa contra a Ucrânia causa alerta global
Apesar de a Rússia ter anunciado o início da retirada dos militares da fronteira com a Ucrânia, um tipo de guerra já estava em curso entre os dois países: a cibernética. No dia do recuo russo, Kiev informou que vários sites militares oficiais e de dois grandes bancos estatais do seu país foram alvos de um ataque cibernético, sugerindo que a Rússia estivesse por trás, mas sem detalhar se teria partido de algum grupo independente ou do Kremlin.
Essa não é a primeira vez que o governo ucraniano atribui um ataque cibernético aos russos. O anterior ocorreu em janeiro.
Os ataques atribuídos aos russos são mais um capítulo da disputa geopolítica na área cibernética e gera temor nos demais países do avanço desse tipo de prática para outros lugares do mundo.
Além da Ucrânia, Belarus também sofreu em janeiro um ataque em seu sistema ferroviário a fim de evitar que a Rússia enviasse suas tropas para treinamentos. Ambas as nações são aliadas, e um grupo de hacker bielorrusso contrário ao envolvimento do país na disputa assumiu o ataque.
Uma ação hacker bem executada pode hoje substituir um ataque físico, feito com mísseis. Bloqueios de gasodutos nos Estados Unidos e superaquecimento proposital de instalações nucleares no Irã já ocorreram por ações de cibercriminosos, se tornando outro exemplo dessa prática em disputas entre países.
"Operações cibernéticas agressivas são ferramentas que podem ser usadas antes que balas e mísseis voem. (...) Por essa razão exata, é uma ferramenta que pode ser usada contra os Estados Unidos e aliados à medida que a situação se deteriorar. Especialmente se os EUA e seus aliados adotarem uma postura mais agressiva contra a Rússia.", comentou John Hultquist, chefe do setor de inteligência da empresa de segurança cibernética Mandiant, em entrevista ao site Technology Review.
Hackers abalam imagem dos países na geopolítica
A preocupação em relação ao avanço dos ataques cibernéticos para outros países por causa da tensão no leste europeu é real.
A Agência de Segurança Cibernética e de Infraestrutura dos EUA emitiu, em janeiro, um alerta para "medidas urgentes e de curto prazo" em resposta às ameaças cibernéticas contra os norte-americanos, citando, inclusive, os recentes ataques russos.
O próprio presidente dos EUA, Joe Biden, mencionou, também em janeiro, que o país poderia dar igual resposta cibernética a eventuais ataques da Rússia.
De acordo com Hultquist, além de os ataques cibernéticos causarem na prática transtornos aos cidadãos, ainda abalam a imagem de uma nação em meio às negociações diplomáticas em momentos de tensão, pois se forem bem executados, indica fragilidade do país alvo.
"Eles [hackers] corroem as instituições, nos fazem parecer inseguros, fazem os governos parecerem fracos", concluiu.
Proteção doméstica
Independentemente do desfecho, os Estados Unidos não parecem interessados em esperar para ver o que vai acontecer. Na quinta-feira (17), a Casa Branca instituiu um plano de reforço dos sistemas presentes em suas infraestruturas domésticas de água, gás e luz.
De acordo com a agência de notícias Reuters, representantes do alto escalão do governo estadunidense reconheceram que as instalações de água usam automação e redes eletrônicas que são vulneráveis a ataques cibernéticos. Em caso de um ataque digital bem-sucedido, o estado poderia ter produção de água sem a qualidade necessária, interrupção do fluxo para os consumidores — ou ainda, estragos piores.
A mais recente iniciativa do setor de água será realizada em coordenação com a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês) e o Conselho de Coordenação do Setor Hídrico. Os preparativos incluirão programas de detecção precoce de ameaças cibernéticas, que melhorem a resposta a esses incidentes e compartilhem dados dos incidentes com o governo.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez da cibersegurança um tópico prioritário do seu governo, alertando que, se tensões futuras colocarem o país em uma "verdadeira guerra" com uma "grande potência", poderiam aumentar as incidências de ataques cibernéticos. O comentário vem à luz de agentes virtuais que a Casa Branca vê como uma ameaça crescente, como hackers da Rússia, China, Irã e Coreia do Norte.
*Com informações de Aurélio Araújo e Simone Machado, em colaboração para Tilt; da agência Reuters; e Technology Review.
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