Internet travou: ele usa perrengues do trabalho com TI para ganhar dinheiro
"Você formata computador?", "por que minha internet caiu?", "o sistema travou", "pode resolver esse bug aqui rapidinho?". Dúvidas e frases como essas são mais do que rotina no dia a dia dos profissionais de tecnologia. E foi para brincar com situações assim que o baiano Luan Morais, 30, criou a página "TI da Depressão", criada inicialmente no Facebook para compartilhar as dores e estresses de quem trabalha na área, com bom humor e pitadas de ironia.
Era novembro de 2011 e a ideia surgiu numa conversa informal com dois colegas de um curso profissionalizante de suporte a hardware e redes de computadores que Luan fazia na época. Hoje, ele contabiliza mais de 530 mil seguidores interessados em acompanhar os perrengues da vida dentro da tecnologia da informação.
No Instagram, são mais de 106 mil. No TikTok, que começou a explorar recentemente, já são 19 mil.
"Costumávamos comentar sobre as coisas que aconteciam nos atendimentos que fazíamos, então numa dessas ocasiões perguntei: 'por que a gente não conta nossas histórias na internet?'", diz sobre o que o incentivou a criar o primeiro perfil.
No começo, a página no Facebook era atualizada por Luan e os amigos. O tempo foi passando e ele passou a assumir sozinho as publicações, já imaginando que aquilo poderia ser uma fonte de renda no futuro.
Histórias reais
A inspiração para os memes que cria e posta nas redes vem de experiências e situações que ele mesmo encarou ao longo da sua trajetória profissional, mas também tem publicações baseadas nas histórias enviadas por seguidores.
"De 90 a 95% do que posto é autoral, aconteceu comigo. O restante vem das sugestões que recebo. Mas em todos os casos, as pessoas se identificam. Rimos juntos", conta a Tilt.
Entre as postagens que fazem bastante sucesso, estão conteúdos em que ironiza a relação entre profissionais de TI e usuários, o que esses pensam daqueles e o que pedem para o profissional resolver.
"Costumo dizer que TI é que nem medicina: existem as especialidades. Um profissional que atua em uma frente —hardware, por exemplo—, não necessariamente cuida de outra, como programação. Mas as pessoas acham que TI significa 'tudo incluso' e é tudo a mesma coisa", brinca Luan.
Luan conta ainda uma curiosidade: o avatar utilizado em todas as redes é uma ilustração sua baseada no personagem Moss da sitcom britânica de 2006 "The IT Crowd", que aborda o universo de tecnologia.
Pagamentos em biscoito e R$ 50
O início de Luan na área de tecnologia se deu em boa parte pelo perfil curioso quando era criança, conta. Nascido em Salvador e criado em Cajazeiras, um dos bairros mais populares da cidade, ele gostava de mexer nas coisas para saber como funcionavam.
"Uma vez o televisor que tinha no meu quarto pifou, resolvi abrir para ver se conseguia consertar sozinho, e tomei um grande choque", diz. Percebendo esse interesse por eletroeletrônicos, aos 10 anos, um conhecido da sua família decidiu ensiná-lo informática. Ele passou a ter aulas, mesmo sem computador em casa.
Depois, foi trabalhar numa lan house do bairro em que morava. Ao longo da adolescência, começou a estudar sobre a área e fazer pequenos reparos e manutenção em computadores de vizinhos.
Luan diz que no início, em vez de receber pelo serviço, chegava a tirar dinheiro do próprio bolso para poder formar uma clientela e ganhar experiência. "Quando eu não sabia qual era o problema da máquina de algum vizinho, levava para um técnico, pagava para ele consertar e eu ver como se fazia", afirma.
Em outra ocasião, como o vizinho atendido não tinha dinheiro para pagar pelo serviço, o pagamento foi feito em biscoitos.
Aos 14 anos, Luan fez um curso de webdesign e criou o seu primeiro site, copiando códigos que viu na internet. Um colega, interessado na sua criação, fez uma proposta e ele vendeu a página por R$ 50. O próprio equipamento ele só foi ter mesmo aos 16 anos. "Não era top de linha, mas era o que o dinheiro permitiu na época", afirma.
Alguns anos depois, conseguiu uma bolsa de estudos para o curso profissionalizante na área de TI. E, depois, fez a graduação em sistemas de informação.
Agora, ganha dinheiro com memes
O que surgiu como uma válvula de escape para fazer piada dos perrengues do TI, virou fonte de renda. Luan diz que a monetização dos perfis começou através de parcerias para produzir conteúdos pagos —os populares publipost— com editoras de livros sobre tecnologia e empresas que oferecem cursos de atualização e aperfeiçoamento para os profissionais da área.
Durante três anos, ele também foi embaixador no Brasil de uma empresa de tecnologia do Canadá que recruta brasileiros para atuar com tech naquele país. Assim, divulgava e promovia no perfil as vagas e oportunidades em aberto na empresa.
Pelo fato de os perfis "TI da Depressão" terem ganhado o aspecto comercial, Luan diz que se preocupa com o que vai ser compartilhado e só fecha com marcas cujos conteúdos possam agregar e interessar ao seu público.
"Não sou influencer"
Com atuação no Facebook, Instagram, Twitter e TikTok, Luan afirma que tenta diversificar as postagens que ele faz levando em conta as diferenças de cada rede social.
Além disso, procura manter um ritmo de publicação de uma vez por dia em pelo menos uma delas. Isso porque ele concilia sua rotina à frente do "TI da Depressão" com serviços nas áreas de infraestrutura de tecnologia e também de desenvolvimento web, que presta para empresas.
Rejeitando o título de influencer, Luan se vê mais como um criador de conteúdo e mantém um detalhado controle das publicações que faz em todas as redes, praticamente desde que iniciou o perfil no Facebook.
"Se alguém me manda um meme que viu e percebo que o conteúdo em questão foi criado por mim, posso conferir e dizer com segurança quando e onde postei", afirma.
Atualmente, Luan vem investindo no agenciamento de outros perfis de tecnologia. "Sempre que uma marca ou empresa me procurava e eu entendia que não era o perfil mais adequado, eu indicava outro creator de tech [criador de conteúdo dentro de tecnologia] para parceria e, assim, ajudava a fortalecer a comunidade. Com o tempo, percebi que eu podia profissionalizar isso", diz.
Desse modo, em dezembro do ano passado, o baiano começou a estruturar o negócio e abriu uma agência para fazer esse trabalho junto a outros influenciadores. Os serviços vão desde fechar parcerias comerciais até curadoria e suporte na criação de conteúdo. No portfólio, possui sete perfis da área tech e já fechou trabalhos para eles com grandes marcas como Amazon, destaca ele.
Hoje, aos 30 anos, o baiano sonha em criar uma escola de tecnologia para jovens em Salvador, onde eles possam aprender uma profissão na área de forma gratuita.
O projeto já existe, mas ele está buscando apoiadores para concretizar o sonho. "Quero gerar esse impacto social na minha cidade, ajudando e criando oportunidades para quem deseja abraçar a área de tecnologia como eu", diz.
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