Topo

'Escondidos' e usando Android, funcionários da Apple querem criar sindicato

Funcionários de lojas da Apple montam sindicato para cobrar melhores salários - Mike Segar/Reuters
Funcionários de lojas da Apple montam sindicato para cobrar melhores salários Imagem: Mike Segar/Reuters

Abinoan Santiago*

Colaboração para Tilt, em Florianópolis

21/02/2022 13h45

Funcionários da Apple se reúnem secretamente para criar um sindicato a fim de cobrarem da empresa melhorias salariais. A proposta é alcançar adesão de pelo menos 80% dos empregados para a formalização da entidade.

Para não serem vigiados pela empresa, além dos encontros em segredo, os funcionários passaram a utilizar celulares com sistemas Android, concorrente do iOS da Apple, informou o jornal The Washington Post.

A iniciativa abrange, a princípio, os colaboradores que atuam no ramo de varejo em seis localidades diferentes dos Estados Unidos que estão em "processo avançado de sindicalização", segundo a reportagem.

A ideia, diz o jornal, é apresentar "em um futuro próximo" documentos ao NLRB (Conselho Nacional de Relações Trabalhistas, em português) que reforcem os pleitos dos trabalhadores da gigante de tecnologia. O movimento também conta com apoio de grandes sindicatos nacionais.

Apesar de a movimentação ocorrer às escondidas, funcionários da Apple relataram ao Washington Post que gerentes já começaram a chamar os empregados para demovê-los da ideia da sindicalização, com o argumento de que as entidades "prejudicarão os funcionários, reduzirão seus salários e forçarão a Apple a tirar benefícios e oportunidades".

A Apple ainda não se pronunciou sobre o movimento.

O que os funcionários querem?

Entre as pautas dos funcionários estão questões salariais, que encontram-se estagnadas pela taxa inflacionária dos Estados Unidos.

A Apple tem 500 pontos vendas pelo mundo, sendo que 270 apenas nos Estados Unidos, empregando 65 mil funcionários no setor de varejo.

Em janeiro de 2022, a Apple alcançou a marca de US$ 3 trilhões (R$ 15,3 trilhões) em valor de mercado, se tornando a empresa mais valiosa do mundo. No ano passado, fechou com faturamento de US$ 366 bilhões (R$ 1,7 trilhão), acima dos US$ 270 milhões (R$ 1,3 trilhão) obtidos em 2017.

Acontece que os funcionários do varejo não se beneficiam do sucesso econômico da empresa, contaram ao The Washington Post.

A Apple paga atualmente de US$ 17 (R$ 86, em conversão direta e sem taxas) a US$ 30 (R$ 152) por hora de trabalho, dependendo da região da loja, o que dá um salário entre US$ 1.000 (R$ 5,1 mil) e cerca de US$ 2.000 (R$ 10,2 mil).

Os colaboradores afirmam que os ganhos deixaram de acompanhar a inflação "há anos", além disso, não possuem participação nos lucros da empresa.

O argumento é de que seus conhecimentos sobre os aparelhos da Apple fazem a empresa alavancar as suas vendas no varejo, o que não é reconhecido financeiramente. O setor foi responsável por 36% da receita da Apple, em 2021.

Apple x funcionários

Não é a primeira vez que a Apple tem um embate trabalhista com seus funcionários. Em 2021, a empresa concordou em pagar quase US$ 30 milhões (cerca de R$ 164 milhões) de indenização para encerrar uma ação movida por funcionários de lojas da companhia nos Estados Unidos.

Um grupo de empregados processou a Apple por não receber pelo tempo em que seus pertences eram revistados. Como resultado da ação coletiva, quase 12 mil funcionários e ex-funcionários de Apple Stores da Califórnia devem receber até US$ 1.200 (cerca de R$ 6.500).

Também existe desde 2021, um movimento denominado #AppleToo, que cobra melhores condições de trabalho na empresa e reúne relatos de pessoas que sofreram algum tipo de assédio moral ou sexual na big tech.

*Com informações do jornal The Washington Post, e Guilherme Tagiaroli, de Tilt, em São Paulo.