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Bilionários eternos? Endinheirados querem tecnologia da fonte da juventude

Jeff Bezos investiu bilhões em startup que pretende desenvolver tecnologia de rejuvenescimento de células em laboratório - Abhishek N./Reuters
Jeff Bezos investiu bilhões em startup que pretende desenvolver tecnologia de rejuvenescimento de células em laboratório Imagem: Abhishek N./Reuters

Vinícius de Oliveira

Colaboração para Tilt, de São Paulo

25/02/2022 04h00

Ter dinheiro para comprar tudo que sempre quiseram parece que não é o bastante para os bilionários do mundo. Nomes como Jeff Bezos, dono da Amazon, Peter Thiel, cofundador do PayPal, e Larry Page, cofundador do Google, investem em empresas de biotecnologia para tentar reverter o processo de envelhecimento.

Ao lado de outros bilionários, como o russo Yuri Milner, Bezos investiu US$ 3 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões) para a criação da Altos Labs. A startup tem como objetivo desenvolver uma tecnologia de reprogramação biológica para rejuvenescer as nossas células em laboratório.

A possibilidade foi descoberta por Diljett Gill, enquanto estudava para o seu PhD no Instituto Babraham, no Reino Unido. Ele estava investigando o que acontecia quando as células adultas eram reprogramadas para virarem células-tronco. Os testes apontaram que as células passaram a se comportar como se tivessem 25 anos a menos.

Os resultados promissores levaram Gill a ser contratado pelo time de Bezos, ao lado de nomes de peso como o biologista espanhol Juan Carlos Izpisúa Belmonte, Steve Horvath e Shinya Yamanaka, ganhador do prêmio Nobel de Medicina em 2012.

Yamanaka descobriu que, com a adição de apenas quatro proteínas, as células podem ser instruídas a retornarem ao estado primitivo, como células-tronco. Belmonte aplicou essa técnica em ratos vivos, alcançando sinais de rejuvenescimento e reversão da idade biológica.

Steve Horvath, por sua vez, desenvolveu um relógio biológico que promete medir com eficiência e precisão o nosso envelhecimento. Ele também tem estudado uma terapia que é capaz de prevenir câncer e fazer com que pessoas idosas se tornem mais resistentes a infecções, melhorando o sistema imunológico delas.

A Altos Labs terá dois laboratórios nos Estados Unidos (San Diego e São Francisco), um no Reino Unido (Cambridge) e outro no Japão, onde os cientistas irão compartilhar detalhes de suas pesquisas.

De acordo com a startup, o objetivo não é "alcançar a imortalidade", mas evitar as doenças da velhice. Isto é, não basta viver mais, é preciso viver também com qualidade na terceira idade.

90 serão os novos 50?

Essa não é a primeira vez que os bilionários tentam solucionar o problema do envelhecimento. Em 2013, Larry Page lançou a Calico Labs com um orçamento de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5 bilhões). A empresa começou a estudar camundongos, que têm uma vida média de seis anos, e seus parentes próximos, os ratos-toupeira-pelados, que vivem em média 30 anos.

Comparando o DNA das espécies, a empresa quer mapear o processo de envelhecimento e prolongar a vida, mas até o momento não produziu nenhum produto.

Já Peter Thiel, do PayPal, investiu milhões em pesquisa de rejuvenescimento, principalmente por meio da Fundação Methuselah, que garante que os 90 anos serão os novos 50 até 2030.

Para o bilionário, a computação pode ser aplicada à biologia para reverter as doenças humanas da idade avançada da mesma maneira que corrigimos os erros de um programa de computador.

Terapias antienvelhecimento

Enquanto os grandes estudos não avançam, algumas empresas já prometem técnicas e terapias antienvelhecimento para os bilionários.

Uma das mais controversas foi a transfusão de sangue de jovens para adultos, depois que uma pesquisa descobriu que músculos, cérebro e órgãos de um camundongo idoso foi parcialmente rejuvenescido após ele receber sangue de um animal mais jovem.

Cientistas ainda estão tentando entender quais componentes do sangue estão por trás do efeito, que pode reduzir o processo de demência e outras doenças ligadas à idade. Apesar do estudo ainda estar em fases iniciais, isso não impediu que várias empresas americanas oferecessem transfusão de sangue de jovens por milhares de dólares.

A "farra" só acabou quando FDA (agência de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos) interveio, alertando que não havia provas clínicas de que o procedimento traria benefício aos consumidores. A FDA equivale à Anvisa no Brasil.

Elon Musk tem investido na criação de chips de computadores para serem instalados nos cérebros humanos. De acordo com o bilionário, a tecnologia chamada Neuralink será capaz de fundir as nossas mentes com a inteligência artificial e transformará os seres humanos em gênios.

A tecnologia ainda está em fase de testes, mas já foi demonstrada em porcos e chegou a ser implantada em macacos. Agora, a empresa espera aprovação da FDA para aplicação nos primeiros seres humanos, que serão pessoas com lesões na medula espinhal. A ideia é que o chip ajude a recuperar, total ou parcialmente, os movimentos de pessoas tetraplégicas.

Outro pesquisa apoiada pelos endinheirados é em relação às células senescentes. São células que, apesar de perderem a capacidade de renovação celular e não possuírem metabolismo, se recusam a morrer por completo. Estudos apontam que essas células são mais suscetíveis ao surgimento de doenças ou desenvolvimento de tumores.

Em 2016, a startup Unity Biotechnology — que tem Bezos e Thiel entre os investidores — arrecadou US$ 116 milhões (cerca de R$ 580 milhões) para desenvolver uma tecnologia que se livre das células senescentes. O cofundador da empresa, Ned David, acredita que seu produto pode acabar com um terço das doenças conhecidas.

As evidências são promissoras. Um estudo feito em 2018 mostrou que remédios que destruíram células senescentes não só melhoraram as capacidades físicas de um camundongo idoso como também aumentaram sua vida útil. Atualmente, mais de uma dúzia de testes clínicos com esses remédios estão sendo feito em humanos, focando em osteoartrite e casos de Alzheimer.

Corpo e cérebro congelados

Caso o envelhecimento não possa ser retardado e a morte seja inevitável, bilionários também contam com uma espécie de "apólice de seguro". Pode parecer até ficção científica, mas a Fundação Alcor Life Extension tem congelado corpos e cérebros de ricaços que morreram desde 1976.

Por apenas US$ 200 mil (cerca de R$ 1 milhão) por ano, a empresa que fica no Arizona, EUA, mantém seu corpo congelado até que a ciência seja capaz de te reanimar.

Para quem não estiver disposto a desembolsar tanta grana, há a possibilidade de congelar a própria cabeça pela "bagatela" de US$ 80 mil (R$ 400 mil) por ano. Você pagaria?