Após deixar de ser Facebook e se tornar Meta, o grupo controlador da rede social (e também do Instagram e WhatsApp) decidiu mudar a cultura interna com novos valores que vão orientar o trabalho dos funcionários — e, naturalmente, como ela quer ser vista do lado de fora.
A empresa compartilhou publicamente que seus funcionários, por exemplo, não se chamarão mais "facebookers", mas "metamates" — mate em português é algo como amigos, o que indica valorizar o senso de coletividade.
Desde 2007, a companhia chefiada por Mark Zuckerberg trabalhava com o lema: "mexa-se rápido e quebre coisas" ("move fast and break things", na versão original em inglês), um mote mais competitivo.
A partir de agora a Meta quer priorizar:
- "Viva no Futuro" ("Live in the future").
- "Seja direto e respeite seus colegas" ("Be Direct and Respect Your Colleagues").
- "Mexam-se rápido juntos" ("Move fast together).
Note que as frases de impacto se tornaram mais positivas e menos, digamos, agressivas como a primeira. Porém, o que está por trás dessas mudanças?
Segundo Zuckerberg, fundador do Facebook e executivo-chefe da Meta, os valores destacados desde 2007 foram notavelmente duráveis, mas muita coisa mudou durante esse período.
"Agora somos uma empresa do metaverso, construindo o futuro da conexão social. Agora é o momento certo para atualizar nossos valores e nosso sistema operacional cultural", destacou em uma publicação no Facebook.
Facebook se transformando em Meta
Em sua postagem, Zuckerberg falou de cada um dos lemas. Sobre "mexer-se rápido" disse que todos devem ir numa mesma direção "como empresa, não como indivíduos".
Referente ao lema "viva no futuro", o executivo diz que a empresa deve ser pioneira e criar o "futuro do trabalho distribuído", fazendo com que as "pessoas se sintam juntas, não importa onde estejam".
Na parte que fala em "respeitar os colegas", o executivo explica que a companhia deve ter uma "cultura de conversas duras e, ao mesmo tempo, respeitosas".
O que estaria por trás da mudança
Além de fazer parte de um reposicionamento do Facebook para o metaverso (eles negam que mudança seja para dissociar o nome dos escândalos que estouraram no ano passado), esses novos lemas mostram também o quanto a empresa parece ter aprendido que se mexer rápido, pode fazer a companhia crescer rapidamente, porém isso pode não ser sustentável em longo prazo.
Ao se mexer muito e rápido, acabou "quebrando coisas" no mundo real, como:
- No escândalo da Cambridge Analytica, dados de usuários da rede foram usados para influenciar em campanhas políticas nos EUA e Brexit, no Reino Unido;
- Na disseminação de discurso de ódio no Facebook, que ajudou entre outras coisas a incitar violência contra a minoria Rohingya, em Mianmar;
- Documentos internos revelados por ex-funcionária nos Facebook Papers mostraram como a rede sabia de como o Instagram podia ser tóxico para adolescentes;
Internamente, funcionários começaram a vazar informações, pois achavam que empresa não cuidava de assuntos importantes, e com o moral baixo, a companhia deixou de ser uma das empresas mais desejadas por talentos, segundo levantamento da empresa Glassdoor.
As premissas apresentadas por Zuckerberg fazem sentido e mostram que a Meta está recalculando sua rota em direção a um futuro menos tumultuado, e que a empresa também seja mais atraente para funcionários talentosos. Resta saber como será isso na prática.
No fim do ano passado, foi registrado o primeiro caso de assédio do Horizon Worlds, o metaverso do Facebook. Levou um tempo, mas a rede logo criou uma "barreira" para evitar contatos salientes no mundo virtual.
Neste ano, teremos eleições presidenciais no Brasil e o WhatsApp, uma das redes da Meta, já se comprometeu com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em combater a desinformação. Quem sabe o Brasil não seja a primeira prova de que a companhia está em um novo rumo, e menos preocupada em "quebrar coisas", ainda que sem querer.
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