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'Vulcão de Tonga' pode ajudar Terra a se proteger de impacto de asteroides

Imagem de satélite mostra erupção de vulcão em Tonga - Instituto Nacional de Informação e Comunicações do Japão/AFP
Imagem de satélite mostra erupção de vulcão em Tonga Imagem: Instituto Nacional de Informação e Comunicações do Japão/AFP

Simone Machado

Colaboração para Tilt, em São José do Rio Preto (SP)

28/02/2022 18h55

A erupção do vulcão perto de Tonga, no dia 15 de janeiro, colocou todo o planeta em alerta. O vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha'apai, localizado no Pacífico Sul, causou uma explosão que pôde ser ouvida até nos Estados Unidos, fazendo com que ondas de mais de um metro atingissem a costa de Tonga.

A explosão foi considerada o maior incidente já registrado por uma rede de infrasom operada pela Organização do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBTO). Todas as 53 estações registraram a erupção em alcances globais.

A descarga foi maior que a explosão do meteoro de Chelyabinsk, em 2013. A erupção vulcânica submarina expeliu cinzas, vapor e gás em um raio de mais de 260 quilômetros e mais de 19 quilômetros na atmosfera da Terra.

Agora, pouco mais de um mês após explosão, especialistas seguem estudando o fenômeno e afirmam que o processo produziu efeitos semelhantes à de um asteroide colidindo com a Terra. Eles usam o ocorrido para analisar os possíveis riscos de um desastre como esse.

"Devemos examinar todos os desastres naturais — mas vulcões e terremotos em particular — para que lições sejam aprendidas sobre os efeitos e situações posteriores a um impacto significativo de um asteroide", disse Lindley Johnson é Oficial de Defesa Planetária da Nasa, em Washington, em entrevista ao site Space.com.

Efeitos

Johnson apontou que a erupção de Tonga liberou aproximadamente a mesma quantidade de energia estimada para o evento de impacto de Tunguska, em 30 de junho de 1908 na Sibéria, na Rússia.

Na ocasião, um flash surgiu tão brilhante no céu que após cerca de um minuto ouviu-se uma explosão tão intensa que sua onda de choque derrubou milhões de árvores e arremessou ao chão pessoas que estavam a até 60 km de distância do local onde ela ocorreu.

Após muito estudo chegou-se ao consenso de que um meteoro rochoso ou um cometa com diâmetro entre 100 e 200 metros entrou na atmosfera terrestre causando esses danos com fragmentos que atingiram o solo — chamados de meteoritos.

"Um asteroide provavelmente atingirá algum oceano e não a Terra, isso porque mais de 70% da superfície do planeta é oceano. Mas uma grande parte da população pode ser atingida por viverem nas áreas de encosta, então tsunamis são uma ameaça à população", explicou Clark Chapman, cientista aposentado do Southwest Research Institute em Boulder, no Colorado, em entrevista ao site.

"Precisamos aprender mais sobre tsunamis causados pelo impacto de asteroides, porque eles provavelmente se comportam de maneira diferente daqueles causados por terremotos ou deslizamentos de terra", acrescentou Chapman.

Acoplamento de energia

Segundo especialistas, a erupção de Tonga pode fornecer alguns insights sobre o acoplamento de energia à atmosfera e à água, como a rapidez com que as ondas do oceano se dissipam, e assim refinar melhor os modelos de simulação desses fenômenos.

Embora os tsunamis gerados por asteroides sejam uma ameaça relativamente pequena em comparação com outros efeitos, este caso em particular tem algumas semelhanças interessantes e levanta questões físicas para serem melhor estudadas.

"Quando você olha para o risco de possíveis impactos de asteroides com maior probabilidade de nos atingir, nossos estudos atuais indicam que o risco de grandes tsunamis causado por eles é relativamente baixo em comparação com outros riscos, como explosão local ou efeitos globais", diz Lorien Wheeler, líder de avaliação de risco no Projeto de Avaliação de Ameaças de Asteroides da Nasa no Ames Research Center, no Vale do Silício, na Califórnia.

No entanto, se um asteroide grande o suficiente atingir o oceano próximo ao litoral pode causar um tsunami considerável. "É importante desenvolver bons modelos de tsunami para poder prever essas consequências da melhor forma possível", acrescentou Wheeler.

Além disso, ao longo de vários anos, houve uma série de atividades "em terra" gerenciadas pela Nasa em conjunto com a Agência Federal de Gerenciamento de Emergências (FEMA), realizadas especificamente para melhor se preparar para um cenário de colisão de um asteroide com a Terra, preparando para uma possível ação de emergência.

Com isso, o resultado da avaliação do evento de Tonga produz informações valiosas que podem ser inseridas em futuros exercícios, para aprimorar maneiras de estimar o nível de risco e informar melhor as decisões de resposta.