Só quero ver a minha família segura, diz ucraniana em protesto durante MWC
Sob o frio de 10º C de um dia nublado em Barcelona, Daria Tkachenko, 33, se enrola numa bandeira da Ucrânia e distribui broches feitos a mão com as cores da bandeira do país para quem entra e sai da Fira Gran Via, um imenso complexo de 200 mil m² no centro comercial da cidade. Ali acontece a MWC (Mobile World Congress), maior feira de tecnologia móvel do mundo.
"Pedimos, por favor, o fim da guerra no meu país", diz a artista e economista com o espanhol que aprendeu vivendo há cinco anos na Espanha, um deles em Barcelona. Filha de pai russo e mãe é ucraniana, Daria ainda tem uma irmã que mora em Kiev, capital da Ucrânia. A cidade tem visto a tensão aumentar com a aproximação das tropas da Rússia.
"Só quero ver a minha família segura, não preciso de mais nada", completa. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), mais de 835 mil pessoas já fugiram do conflito.
Desde segunda (28), manifestantes como Daria se posicionam ao lado de uma das entradas do evento. Geralmente em cinco ou seis pessoas, eles tentam chamar a atenção dos jornalistas e empresários de mais de 150 países que devem cruzar o evento até sexta-feira (4).
"Queremos alertar as pessoas para que não façam negócios com a Rússia, e também alertar os russos que talvez estejam aqui e não sabem do que está acontecendo, porque a mídia estatal mente", diz Genia Matviyets, 40, analista de recursos humanos em uma empresa de serviços digitais.
"Eu queria estar lá dentro [da MWC], mas escolhi estar aqui fora, acrescenta.
Oficialmente, lá dentro, a Rússia não é bem-vinda. No primeiro dia da MWC, a organização emitiu uma nota dizendo que condena a invasão à Ucrânia e que o evento não teria qualquer pavilhão dedicado às empresas russas. Porém, a gigante multinacional de antivírus Kaspersky, fundada em Moscou, mantém aberto seu estande na feira.
'Sem tecnologia para agressores'
Além de distribuir broches, os manifestantes ostentam as cores da bandeira da Ucrânia e espalham cartazes. O maior deles clama: "corte à Rússia: sem tecnologia para agressores". O objetivo é pedir que os empresários que passam por ali façam pressão para que o acesso do país à tecnologia bancária Swift seja cortado como sanção pela invasão da Ucrânia.
Um outro cartaz diz que 352 civis e 14 crianças morreram em ataques da Rússia nos últimos dias —os números são do governo ucraniano—, e pede que a gigante Amazon corte o acesso do estado russo tido como terrorista aos seus servidores. Com um QR Code, os manifestantes também pedem doações para um fundo de ajuda humanitária às vítimas da guerra.
"Viver na Ucrânia era difícil, mas pelo menos antes podíamos [viver]", diz Daria, que se emociona ao falar da terra natal. Ela também morou por oito anos em Moscou. "Éramos como irmãos [com os russos]. Como é que agora não nos falamos e querem fazer guerra? Por favor."
A ucraniana diz que soube do protesto através do Telegram e decidiu se juntar antes mesmo de saber como poderia ajudar. Outros manifestantes souberam pelo Facebook, como Genia.
No celular, ela mostrou para a reportagem imagens de uma passeata da qual participou dias antes num bairro gótico de Barcelona, frequentado por turistas. "Não sei quem organizou, só vim até aqui para tentar ajudar."
Ao longo do dia, estão programadas mais manifestações ao redor de Barcelona, incluindo um grande encontro na Praça da Catalunha, no centro da cidade.
Guerra além de conflitos terrestres
A Rússia começou a invadir o território ucraniano no último dia 24. Mas os ataques não têm envolvido apenas avanços terrestres, marítimos e aéreos. Uma guerra cibernética também tem feito parte do conflito.
A Ucrânia recrutou um "exército de TI" para ajudar a proteger sistemas internos e atacar os do inimigo.
Ainda que não esteja provado que foi a Rússia, sabe-se que ataques hacker contra a Ucrânia começaram dias antes da ação militar russa com foco de desestabilizar serviços e sites do governo.
Em mensagem publicada no Twitter, o ministro de Transformação Digital ucraniano, Mykhailo Fedorov, convocou especialistas em tecnologia da informação dispostos a "lutar no front cibernético".
"Estamos criando um exército de TI. Nós precisamos de talentos digitais", anunciou Fedorov. "Haverá tarefas para todos", afirmou.
Um levantamento da empresa de segurança digital NSFocus, aponta que provedores de internet, instituições financeiras, instalações governamentais, emissoras de televisão, órgãos nacionais e secretarias de gabinete da Ucrânia estão entre os alvos de ações cibernéticas.
*O jornalista viajou a convite da Huawei; texto com matéria de Camila Mazzotto.
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