Em meio à guerra, astronauta dos EUA deve voltar do espaço em nave russa
As tensões entre Estados Unidos e Rússia após a invasão da Ucrânia têm se elevado na Terra. A mais de 400km de altitude, porém, astronautas e cosmonautas dos dois países convivem pacificamente na Estação Espacial Internacional (ISS). Contudo, uma situação pode deixar o clima um pouco mais tenso no final deste mês, pelo menos do ponto de vista das relações diplomáticas.
O astronauta norte-americano Mark Vande Hei deve retornar à Terra no dia 30, após uma estadia recorde de 355 dias seguidos no espaço. Para fazer sua viagem de volta, ele terá como meio de transporte uma nave russa, a Soyuz.
O retorno deve ocorrer junto com os cosmonautas (como é chamada a tripulação espacial da Rússia) Pyotr Dubrov e Anton Shkaplerov, em um pouso na base de Baikonur, no Cazaquistão — que é alugado e operado pelo país liderado por Vladimir Putin.
Esse tipo procedimento é algo comum desde que a Nasa, agência espacial dos EUA, aposentou o projeto de seu Ônibus Espacial, em 2011. A infraestrutura russa passou então a ser a única maneira de chegar e sair da ISS em uma parceria que já dura anos.
Foi só a partir de 2020 que as viagens passaram a se alternar entre o envio de foguetes russos e os da empresa norte-americana SpaceX, de Elon Musk, com as cápsulas Crew Dragon —com essa parceira, inclusive, os EUA voltaram a conseguir enviar astronautas a partir de seu território. Porém, ela não dá conta de todos os lançamentos previstos para as missões espaciais da Nasa.
Vida na ISS
Vande Hei chegou à Estação em 9 de abril de 2021, a bordo da cápsula Soyuz MS-18, da agência espacial russa Rocosmos. Por isso, esta deve ser sua carona pra casa.
Uma possibilidade para evitar a viagem diante do clima de tensão entre os países seria se juntar à missão privada Ax-1, da empresa Axiom, que chega à ISS no mesmo dia 30 e retorna à Terra dez dias depois. Mas a Nasa já negou essa intenção.
De qualquer forma, o astronauta deve ser um dos últimos da Nasa a depender de uma viagem Soyuz — não apenas devido às animosidades entre os países, mas porque a SpaceX tem expandido seu potencial e infraestrutura.
Abalos na exploração espacial
A agência espacial norte-americana ressalta que as operações da ISS seguem bem, apesar das crescentes tensões em terra. A Rocosmos, por sua vez, parece estar pulando fora da cooperação internacional no espaço.
Com as crescentes sanções que os EUA têm aplicado, a Rússia já anunciou a suspensão da parceria com a ESA, agência espacial europeia, para lançamento de satélites, e excluiu a Nasa de uma missão conjunta para exploração do planeta Vênus, chamada Venera-D, prevista para 2029.
A Estação na órbita da Terra é fruto de uma longa e bem-sucedida parceria entre EUA e Rússia, que já dura mais de duas décadas. Um símbolo da diplomacia pós-Guerra Fria, que nunca foi abalada por conflitos geopolíticos, como a invasão da Crimeia. Agora, porém, há ameaças russas.
"Se você bloquear a cooperação conosco, quem salvará a Estação Espacial Internacional (ISS) de uma órbita descontrolada e cairá nos Estados Unidos ou... na Europa?", escreveu o diretor-geral da Roscosmos, Dmitry Rogozin, no Twitter.
"Também há a possibilidade de uma estrutura de 500 toneladas cair sobre a Índia e a China. Você quer ameaçá-los com tal perspectiva? A ISS não sobrevoa a Rússia, portanto todos os riscos são seus. Você está pronto para eles?", completou.
Sobre a polêmica, a Nasa foi mais diplomática: "continuamos trabalhando com todos os nossos parceiros internacionais, incluindo a estatal Roscosmos, para as operações seguras e contínuas da Estação Espacial Internacional", escreveu Joshua A. Finch, relações públicas da agência.
"As novas medidas de controle de exportação continuarão a permitir a cooperação espacial civil EUA-Rússia. Nenhuma mudança está planejada para o suporte de operações contínuas em órbita e estações terrestres", acrescentou.
Lá em cima, astronautas dos dois países e de outros parceiros internacionais, como Canadá, França, Alemanha e Japão, procuram conviver em harmonia pelo progresso da exploração espacial e para realização de pesquisas na microgravidade, que impactam a vida na Terra.
A ISS tem um segmento russo e um norte-americano, mas os tripulantes convivem livremente e um lado depende do outro: a energia para funcionar e o suporte de vida é fornecido pelos EUA; os motores para manter a ISS em órbita e fazer manobras necessárias são da Rússia.
No momento, há quatro astronautas dos Estados Unidos, um da Alemanha, e dois cosmonautas russos a bordo.
A Estação Espacial deve ser aposentada em janeiro de 2031, quando será derrubada controladamente no Oceano Pacífico. Até lá, as duas potências devem encontrar uma maneira de continuar a cooperação.
Em uma eventual saída russa, acredita-se que a Nasa conseguiria manter o laboratório orbital por meio de parcerias com empresas privadas, como a própria SpaceX e a Northrop Grumman. Mas ainda é cedo para as agências tomarem uma decisão final.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.