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Meteoro que explodiu na Rússia em 2013 pode ter ajudado a criar a Lua

16.out.2013 - Mergulhadores russos conseguiram resgatar pedaço do meteorito que caiu no Lago Chebarkul - Anton Melnikov/Reuters
16.out.2013 - Mergulhadores russos conseguiram resgatar pedaço do meteorito que caiu no Lago Chebarkul Imagem: Anton Melnikov/Reuters

Felipe Mendes

Colaboração para Tilt

06/03/2022 16h56Atualizada em 07/03/2022 18h35

Em 2013, o meteoro de Chelyabinsk explodiu no céu da Rússia de forma tão violenta que cerca de 1.500 pessoas procuraram atendimento médico, principalmente por causa de vidros quebrados pelo estrondo.

Na época, uma série de vídeos do impacto deste pequeno asteroide, de 17m de diâmetro, na nossa atmosfera viralizou nas redes sociais. Mesmo assim, cientistas afirmaram que apenas uma fração dos milhares de meteoritos (fragmentos deixados em solo) havia sido encontrada.

Mas a explosão que gerou tanta repercussão pode não ter sido a primeira visita desta rocha espacial à Terra.

De acordo com os pesquisadores, uma rocha do tamanho de Marte teria colidido com a Terra durante a formação do Sistema Solar, 4,5 bilhões de anos atrás, liberando fragmentos. E foi justamente esse material ejetado que se juntou e formou a Lua como conhecemos.

É o que revela um estudo publicado na revista científica Nature, uma das mais prestigiadas do mundo.

Estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, usou um novo método de análise de minerais para estabelecer datas ligadas aos choques de rochas espaciais - como asteroides e cometas - durante a formação do Sistema Solar.

Com isso, descobriram que o asteroide que originou o meteoro de Chelyabinsk havia sofrido dois impactos, um há cerca de 4,5 bilhões e outro há aproximadamente 50 milhões de anos.

Sabe-se que, quando está se formando, o zircão (minério de zircônio) rejeita o chumbo, mas incorpora o urânio. Isso quer dizer que qualquer chumbo encontrado no zircão está relacionado ao decaimento radioativo do urânio. Como os cientistas sabem quanto tempo o urânio leva para decair, conseguem calcular a idade do zircão, a partir do componente de chumbo.

Isso deve ajudar a traçar a história de planetas, como a Terra, desde o início - um dos maiores desafios para os astrônomos.

Os meteoritos funcionam como uma cápsula do tempo para que os cientistas retornem às origens do Sistema Solar, já que eles praticamente não sofreram alterações químicas enquanto flutuavam pelo espaço.

Então, ao analisar os minerais encontrados em meteoritos que caíram na Terra —como os de Chelyabinsk—, é possível reconstituir estas antigas colisões.

No novo estudo, os especialistas descobriram, por exemplo, que um impacto mais antigo explodiu o asteroide maior em pedaços, submetendo-os a altíssimas temperaturas. Já o evento posterior gerou menor pressão e temperaturas, indiciando que deve ter ocorrido há pelo menos 50 milhões de anos.

Este segundo impacto é que teria separado o meteoroide de Chelyabinsk do corpo maior e o enviado em rota de colisão com a Terra.

"As idades são muitas vezes controversas. Nosso trabalho mostra que precisamos recorrer a várias linhas de evidência para ter mais certeza sobre as histórias de impacto —quase como investigar uma cena de crime antiga', disse o geocientista Craig Walton, da Universidade de Cambridge. "O fato de todos esses asteroides registrarem intenso derretimento neste momento pode indicar a reorganização do sistema solar, resultante da formação Terra-Lua ou talvez dos movimentos orbitais de planetas gigantes."

Agora, os pesquisadores devem revisitar o momento de formação da Lua para tentar lançar mais luz sobre esta teoria.