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Ucrânia diz ter bombardeado exército russo com drone indetectável; entenda

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt, de São Paulo

08/03/2022 13h04Atualizada em 08/03/2022 17h17

O exército da Ucrânia tem um aliado no campo de batalha contra a Rússia: um drone chamado "O Justiceiro" (no original, The Punisher, como o anti-herói dos quadrinhos). Ágil, silencioso e indetectável por radares, ele já teria realizado 60 bombardeiros bem-sucedidos, de acordo com a fabricante, a empresa ucraniana UA-Dynamics.

"Esta é a maneira mais barata e fácil de fazer um ataque de longa distância, sem arriscar a vida de civis", disse o engenheiro da companhia Eugene Bulatsev ao jornal britânico The Times of London, sobre o drone.

O porta-voz da empresa disse que os principais alvos incluíram armazenamento de combustível e munição, estações de guerra e de sistemas antiaéreos. Ele não relevou maiores detalhes.

Drone ucraniano "The Punisher" já teria atacado 60 alvos russos, segundo fabricante - Reprodução/UA-Dynamics - Reprodução/UA-Dynamics
Drone ucraniano "The Punisher" já teria atacado 60 alvos russos, segundo fabricante
Imagem: Reprodução/UA-Dynamics

Como é o "Justiceiro"

O drone até parece um aviãozinho de controle remoto. Mas, em seus 2,3 m de envergadura, consegue carregar até 3 kg de explosivos.

Ele pode voar longas distâncias, com autonomia de horas e com tecnologia stealth, que serve para que ele se desloque sem ser detectado por radares, a 400m de altitude e 200km/h de velocidade.

Assim, é possível atingir alvos até 50 km atrás das linhas inimigas — basta as coordenadas para que a missão seja realizada automaticamente.

Câmeras em seu nariz são capazes de registrar o impacto e precisão das bombas, por exemplo.

O Justiceiro é escoltado por um drone menor, o Espectro (do original Spectre, que também é um herói dos quadrinhos). O segundo faz o reconhecimento do terreno e ajuda a identificar os alvos. Os explosivos podem ser lançados de uma vez, ou divididos em três ataques.

Depois, a dupla retorna à base, para ser recarregada para então voltar ao campo de batalha. Equipes de três pessoas, em um veículo, cuidam da operação com ajuda de controle remoto.

Seis anos de bombardeios misteriosos

Segundo a empresa, drones Justiceiros já realizaram cerca de 60 bombardeiros à infraestrutura militar russa, principalmente em alvos fixos, como áreas de armazenamento de combustível e munição, estações de guerra eletrônica e contra-eletrônica e sistemas antiaéreos.

Não foram revelados os locais dos ataques e nem quantos desses drones estão sendo utilizados. Cada um custa £150,000 (R$1 milhão). Nenhum teria sido abatido até agora.

O uso desses drones parece dar uma vantagem à resistência ucraniana. Pelo menos oficialmente, a Rússia ainda não conta com tecnologias aéreas eletrônicas do tipo. O exército da Ucrânia também está utilizando cerca de 20 grandes drones Bayraktar TB2, da Turquia, para os bombardeios.

A UA-Dynamics foi fundada em 2014, por um grupo de veteranos ucranianos que lutaram na guerra da Crimeia, que na época acabou anexada pela Rússia.

Bulatsev, anteriormente, declarou ao jornal The Sun que esses drones indetectáveis "por anos causaram estragos atrás das linhas pró-russas em Donbass, porque o inimigo não tem ideia do que os atingiu."

Guerra cibernética

Diante de ataques cibernéticos que começaram antes mesmo de a Rússia invadir a Ucrânia, a nação vizinha tem se articulado para se defender e criar ameaças para o inimigo.

No último dia (26), o ministro de Transformação Digital ucraniano, Mykhailo Fedorov, convocou um "exército de TI" para ajudar o país na batalha digital.

Em mensagem publicada no Twitter, foram convocados especialistas em tecnologia da informação dispostos a "lutar no front cibernético". A publicação redireciona para um canal no Telegram, onde os voluntários estão recebendo tarefas para auxiliar na defesa digital do país — até a conclusão desse texto, o grupo já contava com mais de 32 mil inscritos.

Vale lembrar que o aplicativo de mensagens, inclusive, tem sido usado pela população na Ucrânia para compartilhar informações.

"Estamos criando um exército de TI. Nós precisamos de talentos digitais", anunciou Fedorov. "Haverá tarefas para todos. Nós continuamos a lutar no front cibernético", disse o vice-primeiro ministro, que também tem feito pedidos em suas redes sociais para que as empresas de tecnologia globais limitem o acesso dos russos aos sistemas mundiais.

Algumas plataformas já tomaram atitudes. Alguns exemplos são a Meta (ex-Facebook), o YouTube e o Twitter. Os três bloquearam a monetização das páginas de mídias estatais russas visando combater a desinformação.

A primeira tarefa solicitada pelo governo da Ucrânia pedia aos voluntários que eles realizassem um tipo de estratégia atribuída a operadores hackers russos contra a Ucrânia: ataques de negação de serviços (DDoS - "denial of service"), cujo objetivo é tirar um site do ar ao direcionar a ele mais tráfego do que é capaz de suportar.

Nesse caso, a missão era derrubar sites de empresas, bancos e do governo da Rússia —o site oficial do governo russo, o Kremlin.ru, chegou a ficar fora do ar, segundo informações da agência de notícias Reuters. Por um tempo, o popular site de buscas Yandex — o "Google russo" — também ficou indisponível, segundo o site Ars Technica.

As páginas do Comitê de Investigação da Federação Russa, o FSB da Federação Russa, do Sberbank (maior banco russo) "e outros importantes sistemas de informações governamentais" estiveram fora do ar no domingo (27), de acordo com o Departamento Nacional de Polícia Cibernética da Ucrânia.

Confira a seguir imagens de satélite que mostram avanço da Rússia contra Ucrânia nos primeiros dias do conflito:

Imagens de satélite mostram avanço da Rússia contra Ucrânia

Um ex-oficial ucraniano que tem conhecimento da organização do "exército de TI" diz que o grupo foi formado como uma forma de revidar contra os ataques virtuais da Rússia.

"Já sabemos que eles [russos] são muito bons em ciberataques. Mas agora vamos descobrir o quão bons eles são na defesa cibernética", disse o ex-funcionário à revista Wired. A Rússia tem, de fato, capacidades significativas para realizar ataques hacker.

Um levantamento da empresa de segurança digital NSFocus, especialista em proteção contra DDoS massivos, revelou recentemente que as ameaças contra a Ucrânia no front digital começaram pelo menos 10 dias antes da invasão territorial, iniciada no último dia 24 de fevereiro. E os responsáveis seriam de hackers da Rússia.

Provedores de internet, instituições financeiras, instalações governamentais, emissoras de televisão, órgãos nacionais e secretarias de gabinete estão entre os alvos de ações cibernéticas, segundo um relatório da empresa sobre o conflito, compartilhado com exclusividade a Tilt.

É difícil avaliar qual será o saldo final da resposta ucraniana contra os ataques russos no ambiente virtual. Embora haja milhares de inscritos no canal do Telegram, não é possível saber quem são ou qual envolvimento tiveram com as tarefas publicadas.

Também há desafios em torno de como distribuir os alvos e evitar infiltrações — o grupo, no entanto, parece continuar a todo o vapor na missão de proteger o país e atacar a Rússia.

*Com informações dos sites Insider e The Sun; e matéria de Camila Mazzotto, em colaboração para Tilt.