Por que chefe da agência espacial russa e astronauta estão brigando na web?
A guerra na Ucrânia tem cada vez mais consequências espaciais. A "batalha" da vez está acontecendo entre um dos mais famosos astronautas norte-americano, Scott Kelly, e o diretor geral da agência russa Roscosmos, Dmitry Rogozin.
Os dois discutiram no Twitter sobre a parceria entre Estados Unidos e Rússia na Estação Espacial Internacional (ISS), que chega ao ponto mais tenso da história.
Kelly, que passou um ano a bordo da ISS e recentemente se aposentou, criticou a invasão da Ucrânia e o programa espacial russo. Já Rogozin fez diversas ameaças de encerrar a cooperação entre os países no espaço; depois, apagou os tuítes e bloqueou o astronauta na rede social.
O que rolou?
Tudo começou após vídeos compartilhados pelo diretor — aliado do presidente russo Vladimir Putin, conhecido por provocar tretas virtuais.
Um deles mostra as bandeiras do Reino Unido, do Japão e dos Estados Unidos sendo retiradas de um foguete russo Soyuz, na base de Baikonur, no Cazaquistão — ele lançaria satélites da empresa britânica OneWeb, que suspendeu a parceria após a invasão da Ucrânia.
"Decidimos que sem as bandeiras de certos países, nosso foguete ficaria mais bonito", tuitou o diretor.
Kelly, que é fluente em russo após anos de treinamento em Moscou, respondeu: "Dimon, sem essas bandeiras e a cooperação internacional que elas representam, seu programa espacial não valerá nada. Talvez você possa encontrar um emprego no McDonald's — se o McDonald's ainda existir na Rússia."
"Saia, seu idiota!", disse Rogozin em uma postagem rapidamente excluída. "Caso contrário, a morte da Estação Espacial Internacional estará em sua consciência."
Kelly replicou: "Por que você apagou este tuíte? Não quer que todos vejam o tipo de criança você é?"
Outro vídeo, produzido pela Roscosmos e divulgado pela agência de notícias estatal Ria Novosti, é uma montagem com animações e cenas reais da ISS.
O enredo dá a entender que os dois cosmonautas (como a Rússia chama a sua tripulação) a bordo da estação se despedem de Mark Vande Hei, da Nasa, desconectam o segmento russo da estrutura e retornam à Terra.
Foi visto tanto como uma ameaça à cooperação entre Rússia e EUA na ISS, como a deixar o astronauta norte-americano para trás. Contexto: Vande Hei deve retornar à Terra no próximo dia 30, em uma nave russa Soyuz, junto com os russos Pyotr Dubrov e Anton Shkaplerov, em um pouso em Baikonur — que é alugado e operado pelo Kremlin.
"É simplesmente inimaginável que o programa espacial russo deixe para trás no espaço uma pessoa que eles são responsáveis ssam mesmo deixar alguém para trás. Eu não sei", reconsiderou.
A parceria de longa data no espaço
O laboratório na órbita da Terra é fruto de uma longa e bem-sucedida parceria entre EUA e Rússia, que já dura mais de duas décadas. Um símbolo da diplomacia pós-Guerra Fria, que nunca foi abalada por conflitos geopolíticos, como a invasão da Crimeia. Agora, porém, pode estar perto do fim.
A ISS tem um segmento russo e um norte-americano, mas os tripulantes convivem livremente e um lado depende do outro: a energia para funcionar e o suporte de vida é fornecido pelos EUA; os motores para manter a estação em órbita e fazer manobras necessárias são da Rússia. No momento, há quatro astronautas dos Estados Unidos, um da Alemanha, e dois cosmonautas russos a bordo.
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