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Nasa capta 'energia' de uma das maiores ondas já surfadas em Portugal

Imagem tirada pelo satélite Landsat 8 da Praia do Norte, em Nazaré (Portugal), em 29 de outubro. Neste dia, mar "produziu" onda de quase 31 metros - NASA Earth Observatory
Imagem tirada pelo satélite Landsat 8 da Praia do Norte, em Nazaré (Portugal), em 29 de outubro. Neste dia, mar 'produziu' onda de quase 31 metros Imagem: NASA Earth Observatory

Nicole D'Almeida

Colaboração para Tilt*, em São Paulo

11/03/2022 15h12

A Nasa, agência espacial dos Estados Unidos, divulgou uma imagem fascinante da Praia do Norte, em Nazaré, Portugal, na qual podemos ver a intensidade as ondas gigantes naquele dia.

A foto foi tirada pelo satélite Landsat 8 em 29 de outubro de 2020, mesmo dia em que um surfista de 18 anos surfou uma onda estimada pela Universidade de Lisboa em 30,9 metros na região — batendo o recorde mundial, que é de 24,4 metros.

O curioso da imagem em questão é que é possível ter uma noção da movimentação da costa que gerou uma das maiores ondas já surfadas que se tem registro.

Outra foto também foi divulgada pela Nasa para que houvesse uma comparação dos efeitos causados pelas ondas monstruosas em diferentes dias. Captada pelo satélite em 5 de fevereiro deste ano, ela mostra a mesma região em um dia típico.

 Imagem tirada pelo satélite Landsat 8 da Praia do Norte, em Nazaré (Portugal), em 5 de fevereiro de 2022 - Nasa Earth Observatory - Nasa Earth Observatory
Imagem tirada pelo satélite Landsat 8 da Praia do Norte, em Nazaré (Portugal), em 5 de fevereiro de 2022
Imagem: Nasa Earth Observatory

A quantidade de espuma produzida pela rebentação das ondas ao longo da costa em ambas as imagens é diferente. A foto de outubro (que abre este texto) mostra uma espessa faixa branca à costa e finos filamentos de espuma se expandindo pela superfície do oceano.

"Isso acontece quando duas correntes de superfície colidem; a água é empurrada para baixo, mas a espuma flutua e se acumula nas margens", explica a Nasa em comunicado. Além disso, há também uma pluma verde se estendendo por cerca de 10 quilômetros da costa.

O oceanógrafo da Universidade do Porto, José da Silva, consultado pela Nasa, acredita ser o resultado de sedimentos do fundo do mar que foram ressuspensos pelas ondas antes e depois da rebentação.

Pesquisas recentes indicam que as plumas verdes nas águas costeiras portuguesas estão mais associadas às grandes ondas do que ao aumento das chuvas, o que faz com que os rios descarreguem sedimentos.

Dados mostram que as ondas de 29 de outubro de 2020 atingiram mais de 6 metros de altura com um período de onda 17 segundos. Em comparação, as ondas de 5 de fevereiro de 2022 mediram um pouco mais de dois metros e um período de onda de 11 segundos.

Nos meses de inverno no hemisfério norte (entre dezembro e março) as famosas ondas gigantes de Nazaré atingem em média 15 metros de altura devido a um desfiladeiro submarino a menos de um quilômetro da costa que canaliza a energia das ondas.

Acredita-se que o swell —conjunto de ondas marinhas lisas e uniformes— de outubro de 2020 foi influenciado pelos ventos fortes dos remanescentes do furacão Epsilson, que atingiu Bermudas e partes da América do Norte, e um sistema climático de baixa pressão perto da Groenlândia.

Segundo o comunicado da agência espacial, ondas movidas pelo vento podem se originar de tempestades distantes.

Por que as ondas de Nazaré são tão grandes?

Somente as tempestades não explicam por que as ondas na região portuguesa são rotineiramente tão grandes. O Cânion de Nazaré com cerca de 230 km de comprimento e 5 km de profundidade tem uma grande influência.

Acontece que, na região, a parte mais profunda da onda, dentro do cânion, permanece com a mesma velocidade que estava em mar aberto e a parte superior da onda, acima do cânion, diminui.

Dessa forma, a onda pode mudar de direção ou se curvar em direção ao sudoeste, enquanto as ondas que não passam pelo cânion permanecem na direção noroeste.

Quando uma onda de sudoeste e uma onda de noroeste se encontram, elas se juntam em uma onda enorme, como a de 29 de outubro de 2020.

Essas ondas enormes normalmente só se formam nos meses de inverno. Durante os meses de verão, as mudanças nas correntes oceânicas significam que as ondas que chegam não viajam pelo cânion da mesma maneira.

Contudo, as mudanças climáticas podem afetar a intensidade e a frequência das ondas gigantes em Nazaré. Um estudo publicado na revista Science Advances, em junho de 2020, revelou que as condições extremas das ondas já aumentaram entre 5% e 15% por conta dos ventos e correntes mais fortes causados

Onda que bateu recorde

A imagem captada pela Nasa em outubro foi tirada no mesmo dia em que o surfista português António Laureano, de 18 anos na época, surfou uma onda monstruosa com potencial de recorde.

Após perceber o tamanho e seu possível grande feito, Laureano enviou o vídeo para pesquisadores da Universidade de Lisboa, em Portugal, para que analisassem o feito. O resultado foi uma onda de 30,9 metros de altura, tornando-a a maior já surfada por um ser humano.

"Usamos a altura do surfista como referência de escala e depois procuramos a crista da onda [o ponto mais alto] e o vale [o ponto mais baixo]", disse Miguel Moreira, oceanógrafo da Universidade de Lisboa, ao Surfer Today em 2020.

Entretanto, a onda não é reconhecida oficialmente pela Liga Mundial de Surfe (WSL) devido à forma usada para a análise da altura da onda. A WSL mede a altura das ondas em relação ao nível do mar, que pode ser feito por oficiais da costa ou atrás da onda quando ela quebra.

No dia em que Laureano surfou sua maior onda, não havia nenhum oficial da WSL na praia. Dessa forma, o recorde continua permanecendo com o surfista brasileiro Rodrigo Koxa que surfou uma onda de 24,4 metros em 2017.

*Com informações do site LiveScience e Space.com