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Cientistas fazem em rato 1ª reprodução assexuada com óvulo não fertilizado

Rato camundongo - Shutterbug75/ Pixabay
Rato camundongo Imagem: Shutterbug75/ Pixabay

Colaboração para Tilt, do Rio de Janeiro

13/03/2022 14h59

Cientistas chineses conseguiram fazer com que um camundongo fêmea tivesse filhotes vivos a partir de um óvulo não fertilizado — ou seja, sem espermatozoides ou acasalamento.

A descoberta foi publicada na revista especializada "Pnas" (Proceedings of the National Academy of Sciences, e é considerada bastante relevante para a ciência. Até pouco tempo atrás, acreditava-se que os mamíferos não podiam se reproduzir sem material genético masculino.

Conhecida como partenogênese ou "criação virgem", a técnica é comum na reprodução de insetos, répteis e em algumas espécies de aves.

Em 2004, o mundo foi apresentado a Kaguya, um camundongo nascido também sem a necessidade de esperma ou reprodução sexual. Mas esse novo estudo, liderado por Yanchang Wei, pesquisador de medicina reprodutiva do Hospital Ren Ji, em Xangai, trouxe avanços por ter criado uma gravidez a partir de um único óvulo não fertilizado.

Os mamíferos têm duas cópias de cada gene em seu genoma: uma da mãe e outra do pai. Quando um espermatozoide penetra em um óvulo, acontece algo chamado imprinting, ou "impressão genômica". Nele, alguns genes podem se comportar de maneira diferente a depender da herança materna ou paterna.

Na prática, muitos dos genes envolvidos no processo têm a ver com o crescimento, sendo que alguns desses também estão associados a um maior risco de câncer e outras doenças.

No caso do Kaguya, os pesquisadores japoneses usaram dois óvulos: um funcionava como o óvulo real, enquanto o outro imitava a contribuição do esperma. O resultado foi um bebê que nasceu de duas fêmeas.

Já neste novo caso, os cientistas chineses utilizaram uma técnica de edição de genes para imitar a impressão genômica em sete pontos diferentes de um óvulo que já possuía duas cópias de cada gene, gerando um processo bioquímico equivalente à fertilização. Com isso, o óvulo cresceu de uma única célula para uma estrutura embrionária (blastocisto) de 140 células.

A técnica é semelhante ao Crispr (Conjunto de Repetições Palindrômicas Curtas Regularmente Inter Espaçadas, em inglês), ferramenta de edição de DNA que tem se tornado popular na medicina e na biotecnologia.

Em seguida, foram implantados 192 embriões em camundongos fêmeas. Apenas uma delas deu à luz um filhote saudável que sobreviveu. Outros dois morreram logo após o nascimento.

Mesmo com peso menor que a média no nascimento, o filhote cresceu e atingiu a idade adulta, conseguindo se reproduzir normalmente. A equipe acredita, porém, que a técnica pode ser aperfeiçoada para alcançar uma maior taxa de sucesso de nascidos vivos.

"O sucesso da partenogênese em mamíferos abre muitas oportunidades na agricultura, pesquisa e medicina", disseram os autores do estudo.

O pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisa da Espanha (CSIC), Lluis Montoliu, declarou ao jornal espanhol "El País" que o estudo é "inovador", e que, em teoria, a melhoria dessa técnica pode permitir que uma mulher tenha filhos sozinha, por exemplo. Mas Montoliu acrescenta que seu uso em humanos está distante.

"O principal agora é acompanhar a vida desses camundongos nascidos por meio dessas técnicas e ver se eles têm problemas de vida e de reprodução. Ainda há muitas perguntas sem resposta."

Em contrapartida, David Haig, pesquisador da Universidade de Harvard que desenvolveu uma teoria sobre o imprinting genômico há vários anos, disse também ao "El País" que "eles conseguiram algo fascinante, mas terrivelmente ineficiente".