Smartwatch recomenda 10 mil passos/dia? Talvez você não precise disso tudo
Manter uma rotina saudável de exercícios pode exigir menos do que se imagina. Pesquisadores analisaram dados de quatro continentes para checar a eficiência da meta de 10 mil passos, recomendada tradicionalmente por smartwatches (relógios inteligentes, como o Apple Watch e a Mi Band, da Xiaomi) e aplicativos de saúde.
O resultado, junto à soma de 15 estudos relacionados com o tema, é de que o número pode se tratar de puro marketing. Segundo o cruzamento de dados, 10 mil é um número muito alto. O ideal está em um número bem menor: a partir de 6 mil passos, dependendo da idade.
Cientistas e médicos concordam que uma boa caminhada é benéfica para o condicionamento cardiovascular, metabolismo e até para a saúde mental. Mas cumprir os 10 mil passos pode ser um desafio e tanto, ainda mais ao tentar encaixar todas as atividades do dia.
Para você ter uma ideia, em um ritmo de caminhada leve em terreno plano, é possível avançar 4 km em uma hora. O total de 10 mil passos — cerca de 8 km — tomaria cerca de duas horas dedicadas ao exercício, dependendo da velocidade e do terreno.
Em vista disso, pesquisadores acreditam que mudar a meta padrão dos smartwatches por uma saudável e menor acabará incentivando as pessoas a manterem hábitos mais constantes de caminhada, em vez de nem tentarem por medo da meta fora do normal.
Menos passos para manter a saúde
Medir o número de passos é uma forma simples de monitorar o quanto de atividade uma pessoa faz por dia. O indicador passou a ser ainda mais evidente com a popularização de monitores fitness, como pulseiras ou relógios inteligentes.
Amanda Paluch, epidemiologista da Universidade de Massachusetts, publicou no ano passado uma pesquisa com base em 2 mil pessoas, de meia-idade, nos Estados Unidos. Como resultado, os especialistas descobriram que dar pelo menos 7 mil passos reduzia em 50% a 70% o risco de morte prematura.
Em março deste ano foi publicada uma metanálise — abordagem estatística que combina resultados de estudos relevantes — por Paluch, disponibilizada no canal de saúde pública The Lancet.
Segundo a pesquisa, dar mais passos por dia foi associado a um risco progressivamente menor de mortalidade por todas as causas, até um nível que variou de acordo com a idade.
6 a 8 mil passos
A metanálise de Paluch soma informações coletadas de 47.471 adultos da Ásia, Europa, Austrália e América do Norte. A especialista cruzou 15 estudos analisados entre os anos de 1999 e 2018 para apresentar os resultados. O projeto foi elaborado em associação com o The Steps for Health Collaborative — consórcio internacional formado para determinar a associação entre o volume medido de passos e resultados na saúde de adultos.
Com isso, foi descoberto que 25% dos adultos que mais caminhavam tinham 40% a 53% menos chances de morrer. Isso, pelo menos, em comparação com os 25% das pessoas que apresentaram a contagem de passos mais baixas.
Para pessoas com 60 anos ou mais, esse risco reduzido foi atingido com uma meta de 6 a 8 mil passos por dia. Essa quantidade seria o suficiente para manter uma rotina saudável.
Os índices de mortalidade foram semelhantes para mulheres e homens. Em ambos os sexos, a taxa mais baixa para mortalidade foi observada em aproximadamente 7 mil a 9 mil passos por dia.
A análise mostrou ainda que não há evidências que comprovem que uma pessoa viverá mais se der todos os 10 mil passos exigidos pelos apps e relógios modernos todos os dias.
"A principal conclusão é que há muitas evidências sugerindo que se mover um pouco mais é benéfico, principalmente para aqueles que estão fazendo muito pouca atividade", explica Paluch.
Por que 10 mil passos?
Se trata de pura estratégia de marketing. No artigo, Paluch explica: "Embora a meta de 10 mil passos por dia seja amplamente promovida como ideal para a saúde geral, ela não é baseada em evidências, mas se origina de uma campanha de marketing no Japão".
Para entender melhor, a Yamasa Clock and Instrument Company apostou em uma campanha de marketing durante as Olimpíadas de Tóquio, Japão, de 1964. Na época, foi lançado um pedômetro chamado 'Manpo-kei' — em tradução, significa 10.000 passos. E com isso, a moda pegou.
Somos feitos para caminhar
A construção fisiológica do ser humano se adaptou para incluir caminhadas longas no cotidiano. Isso porque o corpo consegue liberar calor de forma mais fácil, no intuito de buscar alimento e água em locais distantes.
Segundo o artigo de Paluch, a atividade física pode reduzir a morbidade e a mortalidade devido a múltiplas condições crônicas, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e vários tipos de câncer.
Ou seja, mesmo que os 10 mil passos não sejam exigidos, fazer exercício está associado a uma melhor qualidade de vida.
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