Bomba de fragmentação: entenda a tecnologia da arma usada contra a Ucrânia
Cerca de um mês após a invasão da Ucrânia, as forças armadas da Rússia têm instaurado bombardeios em diversas cidades. Pontos estratégicos, como Mariupol, no sudeste do país, e Kharkiv, ao noroeste, têm sido alvos de ataques aéreos em larga escala.
Em meio ao conflito, um episódio chamou a atenção na semana passada, em Cherniv, após três bombas de fragmentação OFAB-500 caírem intactas na cidade, atingindo alvos ao solo sem detonar. Como isso foi possível? Qual a tecnologia por trás dessas armas? É o que Tilt irá explicar no texto de hoje.
O que rolou?
Uma bomba de fragmentação é um aparato bélico da categoria das munições "cluster" — que armazenam outros sub-projéteis em seu interior. Ao ser disparado contra o alvo, o conteúdo se desprende após o lançamento.
No caso de Cherniv, os dispositivos, pesando cerca de 500 kg e com 2,4 metros de comprimento cada, possivelmente apresentaram problemas nos fusíveis de detonação, e tiveram de ser removidas pelo Serviço de Emergência do Estado da Ucrânia (DSNS).
Não é a primeira vez que o projétil é utilizado em conflitos bélicos —e muito menos, a única vez em que armas do tipo caem sem detonar. E é por isso que autoridades de direitos humanos estão preocupadas que o uso destas bombas acarrete em perigos ainda maiores.
As primeiras formas de munição cluster foram utilizadas durante a Segunda Guerra Mundial, em artilharias móveis da Alemanha, como obuses (uma espécie de canhão), e portáteis, como lança-foguetes. Segundo um relatório do GICHD (Geneva International Centre for Humanitarian Demining), o uso aéreo passou a ficar ainda mais comum durante os ataques dos Estados Unidos ao Vietnã.
Em sua forma mais básica, uma bomba de fragmentação normalmente consiste em um corpo oco, repleto de sub-projéteis explosivos. Para ampliar a letalidade, estas bombas podem ser lançadas com mecanismos de freagem, como paraquedas, que desaceleram a descida e permitem maior disseminação dos explosivos.
Segundo a fabricante bulgariana Kintex, uma OFAB-500 utilizada nos ataques aéreos à Ucrânia possui nada menos que 12.600 "bolas" (ou miniexplosivos) em sua carga.
"Os explosivos dessa linha se dividem em pedaços menores, ampliando o efeito destrutivo", conta Reinaldo Camino Bazito, professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista a Tilt.
Para o GICHD, o principal problema está na forma de atuação das bombas de fragmentação: ao serem direcionados a um alvo, um fusível ativa o armamento, que se espalha no trajeto e acerta tudo em seu caminho, indiscriminadamente, em campos tão extensos quanto um campo de futebol.
O efeito é ainda mais grave quando correntes de ar podem alterar a trajetória destes armamentos. Usar estas armas faz com que os explosivos menores atinjam construções, estradas e outras áreas não relacionadas ao conflito, vitimando tanto civis quanto militares.
Quanto mais explosivos, maiores riscos
No momento, não há uma regulamentação ou convenção internacional que determine como as bombas de devem funcionar —nem o que está proibido. Este processo aumenta ainda mais a letalidade dos projéteis, já que muitos destes explosivos (e subexplosivos) possuem estrutura elétrica ou mecânica para serem detonados muito tempo depois de chegar ao solo, funcionando como minas terrestres.
Para contornar isso, algumas destas fabricantes aplicam sensores de direcionamento e "fusíveis de proximidade", que só explodem caso atinjam o alvo necessário. Outras aplicam detonadores de baterias com curta duração — para que, caso não atinjam o alvo e cumpram sua função imediatamente, as bombas apaguem.
Entretanto, isso não impede que os explosivos das bombas de fragmentação evitem mais mortes, já que são pequenos, possuem aparência inofensiva — alguns são pouco maiores do que uma bola de beisebol — e podem facilmente se mesclar no cenário.
Atualmente, a manufatura e uso das bombas de fragmentação está proibida na maioria dos países, após os termos da Convenção em Munições Cluster, de 2008, que hoje, reúnem 123 nações. Países como Rússia e Estados Unidos não assinaram o tratado, e suas bombas de fragmentação já foram utilizadas na Ucrânia e Síria, respectivamente. O Brasil também não assina o pacto. Segundo o Human Rights Watch, munições brasileiras de fragmentação são utilizadas na guerra do Yemen.
*Com reportagem de Barbara Mannara
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