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Brasileira de 16 anos identifica 1.450 galáxias para observatório do Japão

A estudante Maria Larissa Paiva, de 16 anos, participa de projeto de astronomia de observatório do Japão - Arquivo pessoal
A estudante Maria Larissa Paiva, de 16 anos, participa de projeto de astronomia de observatório do Japão Imagem: Arquivo pessoal

Ed Rodrigues

Colaboração para Tilt, do Recife

25/03/2022 04h00

Uma estudante de 16 anos do Ceará acabou de concluir uma análise astronômica onde classificou sozinha 1.450 galáxias para o projeto "Galaxy Cruise", do Observatório Astronômico Nacional do Japão. Antes, a jovem Maria Larissa Paiva havia descoberto um asteroide, feito que foi reconhecido pela Nasa, agência espacial dos Estados Unidos.

As galáxias são conjuntos de estrelas, poeira cósmica e matéria escura, e classificar tudo isso não foi uma tarefa tão comum. Em conversa com Tilt, a jovem conta que desde janeiro tem se dedicado muito ao processo, que envolve análise de características como tamanho, luminosidade, formato e comprimento de ondas das galáxias.

Em seguida, os dados são registrados em um software do projeto. "Depende muito do tempo que cada pessoa deposita no trabalho de classificação e o quanto a pesquisa é levada a sério. Até o momento estive 100% sozinha nas pesquisas. Não foi fácil", diz a estudante, que divide seu tempo entre o projeto e as atividades do terceiro ano do ensino médio.

Essa classificação de galáxias pode ajudar pesquisadores, por exemplo, a prever alguns fenômenos como a colisão desses sistemas.

No projeto do Observatório Astronômico Japonês, as galáxias classificadas pelos colaboradores (que podem ser profissionais e voluntários) passam pela aprovação do programa Galaxy Cruise, que está sempre em atualização. Na plataforma, existe uma espécie de ranking de análises. É por lá que a jovem tem o controle de quantas galáxias ela conseguiu analisar.

Começo com as estrelas "Três Marias"

A relação de Maria Larissa com a astronomia começou na infância, com o desejo de saber o nome dos astros que iluminavam o céu de sua cidade natal, Pires Ferreira, no interior do Ceará.

"Certa noite, minha avó paterna, Mundinha, estava sentada na varanda e eu estava no quintal brincando. Cheguei para ela e questionei se as estrelas tinham nomes. 'Não sei todas, minha filha, mas o nome daquelas três ali são Maria. São as Três Marias [chamada de Cinturão de Órion]'. A minha curiosidade só se multiplicou", lembra a jovem.

A avó da estudante não tinha o conhecimento específico da área para responder a todas as perguntas. O assunto, ainda fresco na cabeça da então criança, continuou no dia seguinte, na escola. Professores, colegas de sala... todos que pudessem ajudar na sua busca por respostas.

"Sem respostas. Ninguém sabia nada sobre as estrelas e planetas, ou consideravam desnecessárias as minhas perguntas. Fiquei frustrada, mas nunca perdi o hábito de contemplar a Lua, as estrelas e a natureza", lembra.

Já adolescente, ela continuou suas pesquisas. Em uma locadora/lan house, ela pesquisou títulos que abordassem astronomia.

"Pesquisei pelas Três Marias e o resultado me trouxe exatamente esta palavra: astronomia. Até então, eu não sabia que existia. Descobri tudo o que sei hoje sobre o Cinturão de Orion composto por Mintaka, Alnitak e Alnilam. Sempre dou ênfase em descoberta porque foi isso que eu senti: felicidade, a satisfação do aprendizado", afirma.

Maria Larissa Paiva, classificou 1.450 galáxias em projeto Galaxy Cruise, do Observatório Astronômico Nacional do Japão - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Maria Larissa Paiva classificou 1.450 galáxias em projeto de Observatório Astronômico Nacional do Japão
Imagem: Arquivo pessoal

Análise das galáxias

Depois que a jovem soube que astronomia não tratava apenas de estrelas e que existem vários números envolvidos, história, matemática e até mitologia, Maria Larissa buscou novas ferramentas para "viajar" espaço adentro.

Em 2021, a cearense conheceu o projeto ScietyLab, criado para democratizar a ciência no Brasil, e realizou suas primeiras classificações.

Em seguida, iniciou o trabalho junto ao Observatório Astronômico Nacional do Japão. Por meio de um programa que fornece imagens feitas por uma câmera de alta tecnologia (Hyper Suprime-Cam) com apoio do telescópio Subaru, ela passou a se concentrar na análise das características das galáxias: foram 146 no final do ano passado e 1.000 desde janeiro deste ano.

Ela acrescenta que durante o processo os dados são atualizados com frequência e que nem mesmo pesquisadores profissionais podem classificar definitivamente as galáxias. "É uma área que ainda está sendo explorada. É recomendado refazer os treinos ou repetir as classificações, que foi o que fiz no começo até ganhar confiança e contribuir com o programa de fato", diz.

Fãs de astronomia podem contribuir com as análises se cadastrando no Galaxy Cruise. "Eu recomendo muito que acompanhem perfis que divulgam essas oportunidades, como o meu perfil no Instagram, por exemplo, e projetos brasileiros de democratização de conhecimento como o Sem Parar", aconselha.