Proibição de exportação de materiais pela Rússia pode encarecer eletrônicos
Sem tempo, irmão
- Rússia proibiu a exportação de mais de 200 produtos manufaturados no país
- Segundo o governo, medida visa não deixar o mercado interno desabastecido
- Apesar de grande, lista não deve causar grande impacto no mercado internacional
- Analistas temiam que o Kremlin proibisse exportação de matérias-primas
Desde que a Rússia anunciou a proibição da exportação de mais de 200 produtos manufaturados no país, por causa de sanções recebidas diante da guerra na Ucrânia, o receio de que produtos fiquem mais caros tem feito parte do noticiário em diferentes países. E no Brasil não é diferente.
Entre os itens estão equipamentos tecnológicos, de telecomunicação, médicos e elétricos. Segundo a Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), uma variação de preços entre os produtos de tecnologia poderá ocorrer dependendo do tempo que durar o conflito. No entanto, ainda é difícil prever exatamente de quanto será.
A entidade diz ainda que as empresas que representa no Brasil não importam insumos diretamente da Rússia. Isso ocorre apenas "indiretamente", pois o país exporta matéria-prima para fornecedores internacionais de componentes.
Na lista das sanções russas há ainda carros, maquinários agrícolas, vagões, locomotivas, contêineres, turbinas, máquinas de corte de metais e pedras, displays de vídeo, projetores, consoles e quadros de distribuição de energia.
Para Marcelo Matos, o fundador da empresa de gestão de comércio exterior Kestraa, a curto prazo ele vê uma grande pressão inflacionária sobre esses itens. "A invasão da Rússia à Ucrânia traz um agravamento da crise que a cadeia logística vivencia desde o início da pandemia", destaca.
O problema se agrava, pois a Rússia está entre os maiores exportadores de carvão, além de ser um dos maiores produtores de paládio, alumínio, cobre e níquel. O paládio, por exemplo, é utilizado em componentes de memória e de sensores. Já o níquel é matéria-prima para a fabricação de baterias e ligas metálicas.
Entre os itens proibidos de ser exportados está o gás neon. Subproduto da siderurgia russa, ele é purificado na Ucrânia e transportado de lá para o resto do mundo para a fabricação de chips e processadores, um setor que já enfrentava grandes dificuldades por escassez desde o início da pandemia.
De acordo com o Techcet, mais de 90% do neônio de grau semicondutor fornecido para os Estados Unidos vem da Ucrânia. E a guerra entre os dois países pode deixar o mercado sem o produto.
Aqui no Brasil, a Abinee chegou a estimar que 73% das fábricas de aparelhos eletrônicos que utilizam semicondutores na produção estão com dificuldades para encontrá-los atualmente no mercado.
De modo geral, empresas internacionais têm diversificado a origem dos insumos de fabricação e, por enquanto, não preveem grandes impactos devido ao conflito. No entanto, as projeções podem mudar conforme o conflito evolui.
Proibição de exportação de petróleo e gás
Apesar de grande, a lista de produtos proibidos para exportação pela Rússia não causou grandes preocupações ao mercado internacional. Isto porque os analistas temiam que o governo de Vladimir Putin fosse proibir o comércio de commodities como petróleo e gás natural, o que realmente causaria uma grande pressão sobre a inflação global.
"A resposta de Putin é muito mais política, com intenção de posicionamento do que realmente de impacto global. O que realmente impactaria economicamente o mundo seriam sanções na exportação de matérias-primas", analisa Elisa Gutierrez, professora de negócios internacionais da Faculdade Impacta.
A especialista em comércio exterior ressalta que essas proibições, até o momento, não foram colocadas em prática. "Putin deixou claro que não pretende cortar o fornecimento de gás natural ou petróleo para nenhum país. Ele continuará honrando acordos de fornecimento até mesmo para a Ucrânia", afirma.
Por outro lado, a Rússia entrou com um processo de nacionalização das operações das empresas que estão deixando o país em represália contra a guerra. Entre elas estão Boeing, Embraer, Apple, McDonald's, Coca-Cola, Alstom, Renault, Volvo, Toyota, GM, Amazon, dentre outras.
"As empresas multinacionais estão sofrendo grande pressão para fechar suas operações no país. O país entrou com processo de nacionalização dos ativos e operações dessas empresas, permitindo com que a economia do país continue girando e os antigos funcionários possam ser recontratados", conclui a professora.
*Com informações da matéria da repórter Barbara Mannara e do UOL
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