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Ucrânia acusa Rússia de roubar material de Chernobyl; ele pode virar bomba?

Ainda não se sabe paradeiro de suposto material roubado da usina nuclear de Chernobyl (foto) - Gleb Garanich/Reuters
Ainda não se sabe paradeiro de suposto material roubado da usina nuclear de Chernobyl (foto) Imagem: Gleb Garanich/Reuters

Rosália Vasconcelos

Colaboração para Tilt, do Recife

31/03/2022 14h15Atualizada em 31/03/2022 19h21

Uma semana após a acusação de que saqueadores russos roubaram material radioativo de um laboratório de monitoramento de radiação perto da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, ainda não se sabe qual teria sido o paradeiro desse conteúdo. Enquanto isso, parte da comunidade científica está apreensiva, com receio de que o produto possa ser usado na construção de uma bomba suja, que combina itens radioativos com explosivos.

Os ladrões teriam coletado amostras de isótopos radioativos normalmente usados para calibrar instrumentos, bem como amostras de resíduos químicos dos destroços do desastre nuclear de 1986. A informação foi divulgada pelo diretor do Instituto para Problemas de Segurança de Usinas Nucleares (ISPNPP) em Kiev, Anatolii Nosovskyi, na última sexta-feira (25). As informações são de reportagem da revista New Scientist.

Segundo o diretor, o maior perigo é de que esse material roubado seja misturado com explosivos convencionais para formar uma bomba capaz de se espalhar e contaminar uma ampla área.

Ontem (30), um segundo cientista, que também trabalha para o ISPNPP e preferiu não se identificar, afirmou que os relatórios sobre a supressão do material radioativo estão bastante precisos. De acordo com o profissional, a comunicação com um segundo laboratório no entorno da usina de Chernobyl, e que abriga poderosas fontes de radiação gama e nêutrons, também foi cortada.

Para ele, é possível que mais material tenha desaparecido de lá também.

Cientistas de fora da Ucrânia estão cautelosos

Para alguns cientistas que não estão na Ucrânia, o perigo de se construir uma bomba suja com o material roubado de Chernobyl é mínimo.

Bruno Merk, da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, disse à New Scientist, por exemplo, que não há motivo para preocupação, pois os componentes roubados não são o tipo certo para criar uma arma nuclear.

Para a construção de uma bomba suja, Merk acrescenta, seria necessário plutônio ou urânio, e esses elementos não estavam em nenhum dos dois laboratórios saqueados. Além disso, pequenas quantidades de material são porções muito limitadas para a construção de uma bomba suja potente.

Merk ainda chegou a afirmar que qualquer material encontrado nos laboratórios e escritórios ao redor de Chernobyl não seria mais perigoso do que materiais usados em equipamentos médicos atuais ou em canteiros de obras.

"Existem muitas fontes radioativas ao redor do mundo. Se alguém quiser colocar as mãos nisso, há uma maneira mais fácil. Essas fontes radioativas você pode roubar em todos os hospitais. Não vejo que o risco seja maior do que antes da invasão russa", diz ele.

"Se eles [os ucranianos] têm plutônio nos escritórios, eles violaram maciçamente as leis de contaminação [global]. Existem regras claras da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) para isso e isso não parece provável", acrescentou Merk.

Antes da invasão russa, que teve início em 24 de fevereiro deste ano, a cidade de Chernobyl era protegida por antigos trabalhadores da usina nuclear. Eles viviam principalmente na cidade de Slavutych, que foi construída às pressas para abrigar os deslocados pelo desastre de 1986. Agora, com o conflito, aqueles que não fugiram do avanço das tropas do presidente russo Vladimir Putin não têm comida, nem remédios, nem salários.

"Felizmente, parte do abastecimento das aldeias mais próximas é organizada pela gestão da cidade. O pessoal do meu instituto não recebe salário há quase dois meses porque a autoridade está localizada em Ivankiv. Normalmente passamos o dia procurando comida", afirmou um cientista ucraniano anônimo à reportagem.

A Inspetoria Estatal de Regulação Nuclear da Ucrânia e o ISPNPP não responderam aos pedidos de resposta da imprensa internacional.