Xiaomi tem planos para fábrica no Brasil, mas ignora 'mercado cinza'
O diretor de produto da Xiaomi Brasil, Luciano Barbosa, confirmou a Tilt que a empresa retomou estudos para implementar fábricas próprias no Brasil. A análise, iniciada em 2020, havia sido suspensa por causa da pandemia de Covid-19.
"Existe um comitê que estuda a produção local, e ele não está parado", afirmou Barbosa, durante o lançamento da nova linha Redmi Note 11, na última quarta-feira (6). "Mas ainda não existe uma conclusão sobre estes estudos."
A empresa ainda não possui prazos específicos para conclusão deste relatório,e atribuiu a demora a mudanças de mercado, como a alta do dólar.
"Agora, por exemplo, em fevereiro, houve uma alteração do imposto em relação à venda de produtos online. Então, para [a Xiaomi] também ser competitiva online, é uma variável que entra e muda todo o cenário."
No evento, também foram apresentados dispositivos para casa conectada - como air fryer, purificador de ar, lâmpadas e aspiradores inteligentes. Eles foram o maior foco da empresa, que diz ter detectado um nicho ainda pouco explorado.
Por enquanto, tanto os novos smartphones quanto os dispositivos de smart home serão importados diretamente da China. Até o momento, a empresa só possui uma filial de produção na América Latina, no arquipélago da Terra do Fogo, na Argentina.
A decisão da Xiaomi em importar dispositivos ocorre às vésperas de uma melhora no setor de distribuição de chips, que sofria crise de fornecimento ao mercado internacional. O cenário tendia a melhorar apenas na metade de 2022.
"Estamos com os abastecimentos regularizados no país e atentos a possíveis mudanças. Por ora, a operação Brasil passa a não mais sofrer com esse impacto", pontua.
Foco em quem 'trabalha correto'
O interesse em estabelecer um novo pólo produtor no Brasil poderia levar a smartphones mais baratos da empresa no mercado oficial. Para o brasileiro, a marca se tornou conhecida por aparelhos "bons, baratos e chineses", mas não nas vendas oficiais, e sim através do famigerado "mercado cinza" - o mercado paralelo.
Este cenário permanece até hoje, mesmo com operações oficiais da Xiaomi no Brasil em 2019. Para se ter ideia, durante o evento de inauguração, o Redmi Note 11 foi anunciado em promoção, por R$ 1.599,00. Mas, como ele havia sido lançado no exterior em janeiro, já pode ser encontrado há algum tempo no varejo brasileiro "não-oficial" por quase metade deste preço.
Segundo Barbosa, não há muito o que fazer, já que o celular importado depende não só da cotação do dólar, mas do "custo Brasil" - uma série de impostos sobre importação.
"É complicado. Se fizer uma conta, considerando a venda no marketplace, dá cerca de 50% de imposto. Então realmente é um custo bem pesado que, se um importador irregular traz desviando desta carga tributária, é extremamente injusto com as empresas que agem certo", comenta.
Ao invés de disputar esta fatia de mercado no preço, a Xiaomi Brasil prefere focar em outro público. Mirando nos clientes e fãs da marca, conhecido como "MiFãs", a empresa anunciou, em agosto, durante plena pandemia, a inauguração de mais cinco lojas, no Rio de Janeiro, Curitiba e Salvador.
"O foco desde o início foi o seguinte: existe uma demanda de pessoas que querem trabalhar correto. A gente sempre focou nesse mercado. E continua focando nele."
"Eu não entro num ringue para ficar brigando com esse tipo [de importador irregular]. Porque a gente quer realmente trabalhar com parceiros que querem trabalhar corretamente", pontua.
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