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Nasa confirma: megacometa descoberto por brasileiro é o maior já visto

Perspectiva ilustrada do cometa C/2014 UN271 (Bernardinelli-Bernstein) - Ilustração por NOIRLAB, NSF, AURA, J. DA SILVA/SpaceEngine
Perspectiva ilustrada do cometa C/2014 UN271 (Bernardinelli-Bernstein) Imagem: Ilustração por NOIRLAB, NSF, AURA, J. DA SILVA/SpaceEngine

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt*

13/04/2022 13h55Atualizada em 13/04/2022 16h16

Novas imagens do Telescópio Espacial Hubble, confirmam: o megacometa C/2014 UN271 é o maior já detectado. Seu núcleo congelado tem quase 140 km de largura e uma massa de aproximadamente 500 trilhões de toneladas.

Segundo a Nasa, ele é cerca de 50 vezes maior que um cometa "comum", e está seguindo em direção ao Sol, se aproximando da Terra. Para efeitos comparativos, o Neowise, que nos visitou recentemente, tem 5 km de largura. O Hale-Bopp, considerado grande, tem 50 km; e o famoso Halley tem 15 km.

O cometa também é chamado de Bernardinelli-Bernstein porque um de seus descobridores é o astrônomo brasileiro Pedro Bernardinelli. Ele e o colega norte-americano Gary Bernstein, ambos da Universidade da Pensilvânia, identificaram o C/2014 UN271 enquanto vasculhavam o arquivo de imagens da Dark Energy Survey, uma pesquisa sobre a expansão do Universo.

"Sempre suspeitamos que este cometa tinha de ser grande, porque é muito brilhante a uma distância tão grande. Agora, confirmamos que é", disse David Jewitt, professor de ciência planetária e astronomia da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e coautor de um novo estudo que confirma o tamanho do objeto espacial.

"Este cometa é, literalmente, a ponta do iceberg de outros milhares que são muito fracos para serem vistos nas partes mais distantes do Sistema Solar", completa. O recorde anterior pertencia ao C/2002 VQ94, localizado em 2002, com um núcleo estimado em 96km de diâmetro.

O Bernardinelli-Bernstein começou sua viagem em direção ao Sol há mais de um milhão de anos, provavelmente desde a hipotética Nuvem de Oort, a zona mais distante do Sistema Solar, onde bilhões de cometas se concentrariam. Agora, ele está bem longe da Terra, correndo a uma velocidade de 35.405 km/h.

Mas não há motivo para pânico: o mais perto que ele chegará de nosso planeta será a uma distância de 1,6 bilhão de quilômetro, em 2031, de acordo com a Nasa. Ele cruzará o Sistema Solar entre as órbitas de Saturno e Urano, sem qualquer risco de impacto.

Como calcularam seu tamanho

O primeiro registro que Berdinadelli e Bernstein localizaram do misterioso objeto era do Observatório Interamericano Cerro Tololo, no Chile, de outubro de 2014. Na época, ele estava a 4,3 bilhões de quilômetros do Sol. Depois, foi encontrado um registro ainda mais antigo, de 2010.

Inicialmente, não foi possível afirmar se era mesmo um cometa ou outro corpo, como um planeta anão, em uma órbita tipo cometária. Então, ele foi estudado com uma ampla gama de instrumentos, incluindo telescópios terrestres e espaciais, como o Hubble.

Assim, foi possível confirmar, primeiro, que se tratava de um megacometa. Depois, calculou-se o tamanho gigantesco desta "bola de neve suja" - apelido que os cometas recebem porque seus núcleos são basicamente aglomerados de gelo, pedaços de rochas, poeira e outros detritos cósmicos.

Hoje, a "apenas" 3,2 bilhões de quilômetros do Sol, estima-se que sua temperatura esteja em congelantes -211 ºC. Mas isso já é quente o suficiente para permitir que monóxido de carbono passe do estado sólido para o gasoso. É esse fenômeno, chamado sublimação, que cria a "coma" do cometa: uma "cabeleira" colorida, de poeira e gás, envolvendo o núcleo. Já a cauda só irá surgir quando ele estiver mais próximo do Sol

"Este é um objeto incrível, dado o quão ativo é quando ainda está tão longe do Sol", disse o autor principal do novo estudo, Man-To Hui, da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau. "Achamos que o cometa poderia ser bem grande, mas precisávamos dos melhores dados para confirmar isso."

Sua equipe utilizou o Hubble para tirar cinco fotos do cometa em 8 de janeiro de 2022. O maior desafio, para calcular o tamanho, foi diferenciar o núcleo da coma. Como o objeto está tão longe, mesmo o potente telescópio espacial não consegue defini-lo com exatidão.

A solução foi processar os dados com uma técnica de modelagem computacional, que previa onde a coma estaria, e comparar as imagens do Hubble com observações anteriores, feitas pelo radiotelescópio ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), no Chile.

Neste processo, também descobriram que o cometa é mais escuro que o esperado. "Ele é grande, e mais preto que carvão", disse Jewitt. O estudo foi publicado ontem (12), na revista The Astrophysical Journal Letters.

Rara visita

A passagem do Bernardinelli-Bernstein é uma oportunidade única para espiarmos as origens do Sistema Solar e até da vida na Terra. A jornada deste cometa começou bilhões de anos atrás, nos eventos e colisões de rochas espaciais que criaram os planetas.

"É imaculado", disse Bernardinelli ao site The Daily Beast. "Não aconteceu muita coisa com este objeto desde sua formação, no início do Sistema Solar. Portanto, podemos pensar nele como uma janela para o passado."

Os outros cometas que registramos por aqui já haviam mudado muito ao longo do tempo - seja por serem muito pequenos ou fragmentados, ou porque passaram muito perto do Sol e tiveram sua composição alterada pelo calor. Então nossa compreensão foi "editada" por forças externas.

Pelo tamanho enorme, o 2014 UN271 tem gravidade suficiente para se manter inteiro por sua viagem.

"A história contada por este cometa nos dirá o que existia aqui bilhões de anos atrás, e podemos usar isso para entender as coisas que vemos hoje por todo o Sistema Solar", completou Bernardinelli.

Tudo indica que ele guarda as características e o estado químico da nuvem de gás e poeira que formou nosso sistema, cerca de 4,5 bilhões de anos atrás. Depois desta visita, ele voltará para a escuridão gélida, em uma viagem de milênios até a Nuvem de Oort, a dois trilhões de quilômetros do Sol.

Só não espere um show celeste. O objeto, provavelmente, não será visível a olho nu. Mas poderá render belas imagens de telescópios e observatórios pelo mundo, além de ser uma chance única para os astrônomos estudarem um objeto que vem das profundezas do Sistema Solar.