Pegasus: programa espião hackeou governo britânico e outros políticos
Dezenas de líderes políticos europeus foram hackeados pelo spyware (programa espião) Pegasus, desenvolvido pela empresa israelense NSO Group. Segundo reportagem da revista norte-americana The New Yorker, entre as vítimas estão pessoas ligadas ao governo britânico do primeiro-ministro Boris Johnson e membros do movimento pela independência da região da Catalunha, na Espanha.
O levantamento da New Yorker foi feito com base em um relatório do Citizen Lab, um grupo de pesquisa digital da Universidade de Toronto, no Canadá, especializado em investigar a atuação de ameaças cibernéticas.
Como um spyware age?
Spyware é a mistura das palavras "spy" (espião) e "software", ou seja, são programas que servem para monitorar aparelhos como computadores e smartphones sem serem detectados pelos seus donos.
Eles podem ser usados para acessar o conteúdo de um telefone (como mensagens e fotos) e ainda ativar a câmera e o microfone do dispositivo em tempo real.
A NSO Group ficou conhecida por ser a criadora do Pegasus, pois o spyware é capaz de monitorar sem que a pessoa descubra celulares para leitura de mensagens, rastreamento de chamadas, revelação de senhas e acompanhamento de localização, entre outras funções.
No ano passado, grandes nomes da política mundial, como o presidente da França, Emmanuel Macron, já tinham sido vítimas de espionagem por meio do Pegasus. Mas o relatório da Citizen Lab mostra que a lista é ainda mais extensa.
Ataque ao governo britânico
De acordo com a New Yorker, celulares conectados à internet no Ministério das Relações Exteriores britânicos foram hackeados com o Pegasus cinco vezes, entre julho de 2020 e junho de 2021.
O local no qual Boris Johnson trabalha e reside, o escritório na rua Downing, número 10, também chegou a ser atacado em julho de 2020. Ali, ao menos um telefone foi hackeado. O governo britânico confirmou à revista que o local foi alvo de spyware, mas não deu maiores detalhes.
De acordo com o Citizen Lab, a principal suspeita é de que os Emirados Árabes Unidos estejam por trás desses ataques no Reino Unido. O governo de lá chegou a ser acusado anteriormente de fazer ações semelhantes de espionagem.
Catalães como alvo
O ataque foi ainda mais expressivo contra membros do movimento pela independência da Catalunha. O Citizen Lab registrou que ao menos 65 pessoas ligadas à causa foram hackeadas por meio de spyware.
Entre as vítimas, estão membros do Parlamento Europeu, legisladores, juristas, membros de organizações da sociedade civil, presidentes da Catalunha e familiares de gente que faz parte desses grupos. O que todos têm em comum é a ligação com a causa.
Do total, 63 tiveram seus smartphones infectados com o Pegasus. Já outras quatro tiveram seus celulares atacados com um spyware desenvolvido pela Candiru, outra empresa de monitoramento digital com sede em Israel.
O que diz a empresa
Segundo a NSO Group, o relatório da Citizen Lab tem "alegações falsas". A empresa defende que seus produtos são usados apenas de forma convencional pelas forças da lei, embora existam várias evidências de que eles são aplicados em contextos de espionagem internacional, segundo a reportagem.
"Quase todos os governos na Europa estão usando nossas ferramentas", afirmou Shalev Hulio, diretor-executivo da NSO Group, em entrevista à New Yorker. Vale ressaltar, porém, que governos como os da Alemanha, da Hungria e da Polônia admitiram ter investido nos produtos da companhia após a repercussão de escândalos de espionagem internacional envolvendo o Pegasus.
Nos Estados Unidos, segundo o jornal The New York Times, o FBI (polícia federal dos EUA) e o Departamento de Justiça também já demonstraram interesse em ferramentas da NSO que fossem capazes de hackear qualquer celular. Mas, segundo o diretor do FBI, Chris Wray, trata-se apenas de uma "pesquisa de contrainteligência".
No Brasil, Thiago Tavares, presidente da SaferNet, organização de direitos humanos especializada em combate à pornografia infantil online, virou notícia após informar que seu celular havia sofrido um ataque do Pegasus. O caso, inclusive, fez com que ele deixasse o país.
Ainda sobre o programa da NSO, o UOL mostrou no ano passado que uma licitação para a compra do Pegasus gerou uma crise entre o alto comando militar e o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos), o filho "02" do presidente da República, Jair Bolsonaro. Isso porque órgãos oficiais de investigação que seriam beneficiados diretamente pela ferramenta, como o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), não estão envolvidos nas tratativas.
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