Como o bloqueio às redes sociais afeta os russos e brasileiros que vivem lá
Enquanto a guerra entre a Rússia e Ucrânia se intensifica em terra firme, nas redes sociais acontece um conflito paralelo. De um lado, muitas plataformas restringiram o acesso dos russos e aplicaram políticas de combate a notícias falsas. Do outro, o presidente Vladimir Putin fechou o cerco e proibiu a operação de gigantes como Instagram e Facebook.
A restrição afeta diretamente os russos, que passam a ter informações direcionadas e fracionadas sobre a guerra.
"Uma população enorme fica limitada sobre o que realmente está acontecendo, enquanto as pessoas dos demais países estão vendo claramente", diz Beth Saad, da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP. "É um exercício de poder do governo, controlando a distribuição de informações e a opinião pública".
"O governo diminui a pluralidade de narrativas que se colocam a respeito da guerra, diminuindo o pacote interpretativo da população e criando uma produção simbólica dominante sobre o acontecimento", explica
Karol Castanheira, professora de Jornalismo da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), levanta outro problema. "A suspensão restringe as formas de interação da população para propor resistência às ações governamentais, como a organização de mobilizações e manifestações."
Ruim para os negócios
O cerco às redes sociais estrangeiras também traz consequências para a economia do país.
Assim como no Brasil, o Instagram é extremamente popular na Rússia, com mais de 80 milhões de usuários. A rede se tornou uma importante ferramenta de vendas online gratuita para as pequenas e médias empresas.
"Produtos e serviços são ofertados através dessas redes e uma parte significativa do relacionamento com os clientes agora se apoia em perfis de empresas. Posts publicados por consumidores e influenciadores digitais divulgam as marcas e ajudam a formar sua imagem. Vendas online pelas redes sociais também contribuem para o faturamento dos negócios", explica Carlos Alberto Iglesia Bernardo, coordenador da pós-graduação em segurança cibernética do Instituto Mauá de tecnologia (IMT).
A situação dos brasileiros
Desde a suspensão das redes sociais, o uso de VPNs, ferramentas que ajudam a burlar essa restrição, disparou: está 2.088% acima da média diária.
A estudante brasileira Letícia Vitória Alves, 26, é uma delas. "Antes, não carregava o Instagram ou o Facebook. Agora, com VPN consigo acessar tudo."
Assim como outros russos, ela também passou a usar o Telegram, concorrente do WhatsApp. " Já que [o app] é russo, por questões de segurança, estamos indo para lá. Vai que perdemos tudo", desabafa.
O brasileiro Rafael B. (que pediu para que seu nome fosse alterado), 30, também adotou o Telegram. Estudando medicina há seis anos em Kursk, cidade russa a 200 quilômetros da Ucrânia, ele conta que também descobriu outro aplicativo, o VK
O app funciona praticamente como um Facebook, só que com mais funcionalidades e serviços. Com ele, é possível assistir a filmes, ouvir músicas, entre outros. "Tem até sistema de pagamento próprio", explica o estudante.
Uma terceira marca aproveitando a brecha no mercado é o Viber, que oferece mensagens e ligações, como o Whatsapp.
Fake News é crime
Ainda assim, os brasileiros relatam que precisam ser cuidadosos ao usar os novos apps.
Em abril, o presidente Vladimir Putin aprovou uma lei que pune o compartilhamento de fake news com 15 anos de prisão. No entanto, as "notícias falsas" dependem do que o governo russo prega. Postar mensagens e conteúdos na internet que são contra as Forças Armadas, por exemplo, pode gerar duras punições.
"É muito sério. Eu sou um fantasminha e qualquer motivo pode me prender. Com todas as represálias, o medo fala mais alto e eu não posso perder meu visto. Quero concluir minha faculdade e protesto internamente", afirma Letícia.
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