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Brasileira é aceita no MIT aos 17 anos: 'Venci em um universo masculino'

Carolina Moura, 17 anos, também coleciona várias medalhas de ouro e prata de competições de exatas. - Reprodução
Carolina Moura, 17 anos, também coleciona várias medalhas de ouro e prata de competições de exatas. Imagem: Reprodução

Colaboração para Tilt, em São Paulo

25/04/2022 12h30

Uma adolescente paulista que ganhou fama como a única mulher brasileira na Olimpíada Internacional de Informática (IOI) conquistou uma bolsa de estudos no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), uma das universidades mais disputadas do mundo.

Carolina Moura, 17, enfrentou uma longa jornada de desafios até a chegada do resultado de sua admissão na instituição. Em entrevista à revista Veja, ela explicou que o processo contou com vários testes de inglês, mais de 30 redações e uma carta de recomendação. Agora, a estudante aguarda o momento de sua mudança para Cambridge, nos Estados Unidos, daqui a 4 meses.

"Meus professores me deram força para tentar entrar em uma universidade americana. Queria muito ser aprovada no MIT, e consegui. Quando recebi a notícia, emocionada, pensei: 'valeu muito a pena'", comemorou ela.

Com grande afinidade na área das ciências exatas, Carolina afirma que seu caminho seguirá para o mundo da informática, onde espera se desenvolver ao máximo e contribuir para os avanços deste setor.

Sonhando com um Nobel

"Tenho 99% de certeza de que vou continuar nas ciências da computação. Quero a carreira acadêmica para tentar contribuir com a expansão do conhecimento. Quem sabe um dia faço uma descoberta realmente importante, que valha um Nobel, como já ocorreu com uma centena de alunos do MIT", disse ela. "Sei que é difícil, duríssimo, mas tudo pode acontecer quando você agarra um sonho e não larga dele".

Por outro lado, não é apenas a aventura de estudar em outro país que preocupa a jovem, mas principalmente, o persistente domínio masculino sobre o campo das exatas. Ela também afirmou que a representatividade de mulheres nesses setores ainda deixa a desejar e isso já foi para ela um fator desestimulante para seus sonhos.

"Os meninos têm desde cedo a criatividade muito mais estimulada para essas áreas, inclusive nos jogos e brincadeiras. No início, sofria com a falta de mais jovens mulheres no campo da matemática e da tecnologia nas quais me inspirar. Às vezes, me pergunto se sou menos ouvida, se sou alvo de alguma espécie de preconceito. Na verdade, isso se revela, sim, em atitudes sutis, quase invisíveis, que me fazem sentir que estão duvidando da minha capacidade", disse ela.

No entanto, Carolina acredita que seus esforços podem contribuir para abrir novas possibilidades de entrada de mais mulheres no mundo da tecnologia e das ciências exatas. Tanto que tem em mente alguns projetos para estimular essa mudança.

"Acredito que minha presença nesses ambientes cheios de homens seja por si só uma demarcação de terreno e possa abrir espaço para outras de nós. Tenho um projeto com uma amiga de oferecermos cursos para meninas, justamente para incentivar uma nova geração que acredite ser possível chegar aonde quiser, com direito a muitos pódios e medalhas."

Jornada de lutas

Carolina Moura ficou entre as melhores posições na Olimpíada Internacional de Informática e levou medalha de bronze. - Divulgação/Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação - Divulgação/Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
Carolina Moura ficou entre as melhores posições na Olimpíada Internacional de Informática e levou medalha de bronze.
Imagem: Divulgação/Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

A paixão pela matemática levou Carolina Moura à busca por novos desafios e pelo aprimoramento de suas habilidades. Mas, o pontapé inicial para sua determinação partiu de seu irmão mais velho, que foi vencedor da Olimpíada Brasileira de Informática.

"Eu tinha 10 anos na época e achei o reconhecimento que ele recebeu o máximo. Queria esse caminho para mim. E comecei a estudar para valer e a ter contato com a beleza da matemática real, diferente da decoreba que aprendemos no colégio. Desde muito pequena, me inscrevo em concursos de redação e matemática. Sempre gostei de me jogar em situações de desafio, quando você sente que está queimando os neurônios e vai ao limite", contou.

Para alcançar seus objetivos, Carolina percebeu que precisava sair da zona de conforto em vários aspectos, inclusive com uma mudança de escola e cidade. A jovem vivia com a família em Itu, no interior de São Paulo, e insistiu com os pais para se mudar para a capital para ter uma educação que a permitisse evoluir suas habilidades para chegar aonde queria. Depois de persistir muito, conseguiu o aval da família.

Em 2015, Carolina participou das Olimpíadas de Informática pela primeira vez, mas não conseguiu pontos suficientes para ficar entre os melhores colocados. Mesmo assim, ela se manteve confiante para a nova edição, e reforçou sua rotina de estudos. Não demorou muito para a jovem começar a colecionar prêmios, como três medalhas de prata e quatro de ouro.

O jogo virou oficialmente quando foi chamada para a rodada classificatória da Olimpíada Internacional de Informática, em 2019, tornando-se a primeira e única brasileira a participar da competição. "É uma disputa que existe há mais de duas décadas e é, até hoje, um mundo dominado por meninos. Depois de uma maratona de avaliações e altas doses de ansiedade, passei. Ganhei medalhas de bronze em 2020 e 2021".

Em virtude da pandemia, os torneios foram realizados à distância. Mas, com o afrouxamento das restrições, a nova etapa do campeonato acontecerá na Tailândia neste ano, e Carolina se mantém otimista para mais uma vitória: "Me sinto preparada para subir no pódio com uma prata, quem sabe um ouro".