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'Fui privilegiado': conheça o brasileiro que irá ao espaço em nave de Bezos

Victor Hespanha, 28, foi sorteado para viagem espacial após comprar criptoativo - Divulgação
Victor Hespanha, 28, foi sorteado para viagem espacial após comprar criptoativo Imagem: Divulgação

Guilherme Tagiaroli

De Tilt, em São Paulo

10/05/2022 11h49Atualizada em 10/05/2022 12h42

Um investimento de quase R$ 12 mil reais em criptomoeda fez com que o Victor Hespanha, 28, conseguisse um lugar reservado no próximo voo espacial da Blue Origin, empresa espacial de Jeff Bezos, o fundador da Amazon. Se tudo der certo, ele será o segundo brasileiro a sair da Terra.

"Quando fiquei sabendo, primeiro veio a negação e o questionamento: 'será que é verdade?", disse em entrevista à Tilt.

"Só depois de um tempo caiu a ficha e fui estudando um pouco mais, vendo quão legal seria isso", explicou o engenheiro, que trabalha em uma empresa de investimentos e mora em Belo Horizonte (MG). "Fui privilegiado".

O anúncio oficial da viagem ao espaço ocorreu na segunda-feira (9), mas Hespanha já sabia há pelo menos uma semana. Ele não pôde contar para ninguém fora do seu círculo familiar.

"A reação natural da família foi achar que era mentira num primeiro momento. Na sequência, começaram a perguntar: 'é perigoso?'. Depois começou a cair a ficha e está todo mundo animado", afirmou lembrando do choque que foi dar a notícia.

Ainda não há data oficial para o voo. Mas, se tudo acontecer como o previsto, Victor Hespanha será o segundo brasileiro a ir ao espaço. Antes dele apenas o ex-ministro Marcos Pontes, que foi para a Estação Espacial Internacional, em 2005.

Como o brasileiro conquistou a vaga

Há duas semanas, Hespanha decidiu diversificar sua carteira de investimentos e apostar em criptoativos.

Mais especificamente, ele comprou três NFTs (ativo digital com registro de autenticação) da empresa CSA (Cripto Space Agency), uma agência espacial não-governamental que tem como objetivo fomentar criptmoedas e a exploração espacial.

Em cada NFT, ele pagou 0,25 ETH (criptomoeda Ether) —a título de curiosidade cada um custou cerca de R$ 4.000, portanto, ao todo, ele gastou R$ 12 mil.

Na prática, ele comprou uma filiação à CSA, que dá direito a ele a participar de encontros, palestras e sorteios. Neste estágio inicial, para atrair mais pessoas, a agência ofereceu uma passagem para um voo da Blue Origin a ser sorteada para novos membros —um tíquete para turismo espacial pode chegar a US$ 200 mil (pouco mais de R$ 1 milhão na cotação atual); a CSA não informou quanto pagou na passagem que levará o engenheiro brasileiro ao espaço.

"Eu sabia da possibilidade [da viagem espacial], mas comprei para investir mesmo, visualizando a valorização desse ativo. Qualquer pessoa que fosse para o espaço, já faria aumentar o valor do NFT. Fui privilegiado de ganhar o sorteio", disse.

O que vem a seguir

Segundo Hespanha, desde que ficou sabendo que tinha ganhado o sorteio, ele já participou de atividades online para conhecer os outros tripulantes da missão NS-21, da Blue Origin: a mexicana Katya Echazarreta (que apresenta a série "In Real Life" da Netflix), os empresário Evan Dick e Hamish Harding, e os investidores Jaison Robinson e Victor Vescovo.

A Blue Origin disse que dará mais detalhes em breve sobre a futura viagem. O engenheiro brasileiro informou a Tilt que já passou suas medidas e peso para a equipe da companhia espacial, para confeccionar seu traje para a missão.

Primeira tripulação do voo da Blue Origin - Divulgação/Blue Origin - Divulgação/Blue Origin
Tripulação do primeiro voo espacial da Blue Origin realizado em 2021, durante coletiva de imprensa. Da esquerda para a direita: Oliver Daemen, Mark Bezos, Jeff Bezos e Wally Funk
Imagem: Divulgação/Blue Origin

Depois que a Blue Origin confirmar a data, Hespanha deverá ir para o Estado do Texas, nos EUA, onde fica a base de lançamento da empresa. Lá, ele deve participar de um treinamento de dois dias junto com os outros tripulantes.

Do lançamento até a volta à Terra, o voo espacial da Blue Origin dura cerca de 11 minutos, sendo que em alguns deles (três minutos), a tripulação fica em gravidade zero, o que faz com que não sintam o peso do corpo e flutuem.

Turismo espacial

Desde o ano passado, várias empresas dos Estados Unidos começaram a oferecer tíquetes de turismo espacial para civis. Além da publicidade de levar gente ao espaço, a ideia de boa parte dessas companhias é oferecer serviços para agências espaciais governamentais.

Em 11 de julho de 2021, a Virgin Galactic, do bilionário Richard Branson, realizou o primeiro voo de turismo espacial. Além de Branson, o voo contou com outros três passageiros e dois pilotos. Neste caso, a tripulação foi até a borda do espaço (a 85 quilômetros acima do nível do mar), ficando 3 minutos em gravidade zero.

Após poucos dias, em 20 de julho de 2021, a Blue Origin, de Bezos, fez seu primeiro voo tripulado, ultrapassando 100 quilômetros acima do nível do mar. Além do fundador da empresa, a missão contou anda com Wally Funk, que se tornou a mulher mais velha a ir ao espaço, e Oliver Daeme, que se tornou a pessoa mais jovem a dar uma voltinha fora da Terra.

A SpaceX, do empresário Elon Musk, tem feito voos tripulados, mas a maioria deles levando astronautas para a Estação Espacial Internacional. Só neste ano a companhia realizou o primeiro voo com um grupo de tripulantes que pagou a viagem com dinheiro do próprio bolso.