Por que a poluição aumenta no inverno? Entenda o sobe e desce de partículas
Todo inverno é a mesma coisa: as doenças respiratórias atacam e os prontos-socorros ficam lotados. Os grandes culpados são o ar seco, típico dos meses de frio, e a inversão térmica, um fenômeno climático que aumenta a concentração de poluentes nas grandes cidades.
Ele pode ser visto a olho nu em cidades poluídas, como São Paulo: uma faixa cinza alaranjada cobre o horizonte no fim da tarde. Mas como ele acontece?
O ar quente é mais leve e sobe, favorecendo a dispersão de poluentes. Em condições normais, ele se resfria conforme fica mais distante da superfície da Terra. "Há uma queda de -0,6 graus Celsius a cada 100 metros de altitude", explica o professor Hilton Silveira Pinto, do Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas aplicada à Agricultura), da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Mas no inverno, o solo se resfria mais rapidamente. O ar quente continua a subir, mas o ar frio próximo ao solo, que é mais denso, fica parado. Dessa forma, a poluição também fica retida perto da superfície.
Segundo Pinto, essa "camada de inversão" pode ter de 10 m a 10 km de altura em uma noite típica de frio, sem nuvens.
As inversões térmicas, ao contrário do que se pensa, também acontecem nas madrugadas de verão, mas são bem mais intensas no inverno, quando as noites são mais longas, mais frias e com pouco vento.
O ar seco piora tudo
Segundo a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), a concentração de poluentes aumenta em até 80% durante o inverno em locais onde há grande número de indústrias e veículos em circulação.
Isso significa mais monóxido de carbono, enxofre, hidrocarbonetos, ozônio e partículas inaláveis no ar. A gente acaba respirando esses poluentes, que chegam a atingir os alvéolos pulmonares.
O ar seco do inverno também facilita o fenômeno, porque resseca as mucosas e facilita infecções. É por isso que a Cetesb recomenda tomar medidas quando a umidade relativa do ar entre 20 e 30%.
Pingar colírio de soro fisiológico nos olhos e nas narinas, além de beber muita água, são outras medidas recomendáveis para diminuir os efeitos negativos do ar seco. Tentar fugir da poluição também é uma boa, mas é um conselho bem mais difícil de seguir.
Riscos para grávidas, diabéticos e mais
Além do agravamento de doenças respiratórias e da clássica irritação nos olhos, a exposição crônica ao ar poluído tem consequências menos óbvias, mas igualmente perigosas.
Por exemplo, o aumento da pressão arterial, que pode deflagrar eventos cardiovasculares, como infarto e derrame. Gestantes têm maior risco de apresentar pré-eclâmpsia e sofrer parto prematuro. Alguns estudos também mostram que a poluição pode gerar problemas cognitivos irreversíveis.
Pesquisas ainda demonstraram que a exposição por mais de dois anos a apenas uma das partículas inaláveis presentes na poluição atmosférica, o MP10, é capaz de aumentar em 32% o risco de morte para diabéticos, em 28% para portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e em 27% para quem tem insuficiência cardíaca.
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