Super-trovão? Tempestade incomum assusta paraibanos; entenda o fenômeno
A madrugada de domingo para segunda-feira (23) foi de forte tempestade no litoral da Paraíba. Moradores se assustaram, especialmente, com a quantidade e a intensidade dos raios, trovões e relâmpagos em meio à chuva.
Nas redes sociais, há diversos relatos de um "super-trovão", por volta de 1h50, muito barulhento e que fez tremer casas. O assunto chegou aos mais comentados do Twitter.
Veja alguns vídeos:
De acordo com a Defesa Civil, choveu mais de 204 milímetros nas últimas 48 horas na capital João Pessoa — quantidade superior à média histórica para o mês de maio inteiro (132 mm). Diversos bairros ficaram alagados.
A tempestade se intensificou rápido, atingindo seu pico entre 1h40 e 2h. "Somente neste intervalo de tempo, houve a ocorrência de 15 raios nuvem-solo [tipo mais perigoso, que desce do céu e toca o chão] em João Pessoa, principalmente nas zonas leste e sul, que batem com os relatos", diz Diego Rhamon, meteorologista e doutorando em Geofísica Espacial pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), após analisar dados de monitoramento.
Ele conta que, durante a madrugada, caíram outros raios esporádicos na cidade, e também nas vizinhas Bayeux, Santa Rita, Conde e Pedras de Fogo, além de 13 sobre o mar adjacente.
Foi um 'super-trovão'?
"Super-trovão é um exagero. A gente é que está pouco acostumado com trovões", diz Marcelo Zurita, diretor técnico da Bramon (Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros) e morador de João Pessoa.
De fato, foi uma grande tempestade, com raios riscando o céu, clarões dos relâmpagos e fortes barulhos de trovões. Para padrões do Sul e Sudeste do Brasil, por exemplo, são fenômenos meteorológicos relativamente comuns, mas que não costumam aparecer na Paraíba.
"Aqui na região do litoral, principalmente, chove bem durante o inverno, mas as tempestades são mais raras mesmo", diz Zurita.
Por que trovões assim são raros na Paraíba? A culpa é do efeito constante dos ventos oceânicos vindos da Alta Subtropical do Atlântico Sul (ASAS), que atua na região praticamente o ano inteiro. À noite, porém, a história é outra.
"Tarde da noite e madrugada, há a convergência da brisa terrestre, que vem do continente para o mar. Então é menos difícil de formar tempestades, e haver trovões, nestes horários", explica Rhamon.
A Terra tremeu?
Também há relatos de tremores, choques, e até de uma mesa de vidro e de uma melancia que teriam se despedaçado com o trovão. Pode até ter acontecido, mas não foi em todo lugar.
"Isso tem relação com a proximidade com o local da queda do raio. Se acontecer muito perto, ou mesmo sobre a casa, pode acontecer de quebrar objetos", comenta Rhamon.
A carga elétrica do fenômeno também é um fator a ser considerado. "Um raio de polaridade positiva produz um trovão mais intenso que o negativo. É o que mais 'treme' janelas e casas. Sobre o oceano e sobre a costa [como João Pessoa], a taxa de incidência de raios positivos, geralmente, é maior que a do interior dos continentes", conclui.
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