ABBA volta aos palcos com turnê holográfica; entenda como vai funcionar
O icônico grupo pop sueco ABBA inicia nesta sexta-feira (27) o primeiro show de sua nova turnê. Após um hiato de quatro décadas, o retorno será em grande estilo: os músicos estão vivos, mas não estarão fisicamente no palco. Eles serão representados por hologramas.
Os quatro integrantes se apresentarão em forma de avatares rejuvenescidos, remetendo ao auge do sucesso, na década de 1970 (o grupo foi desfeito em 1982). Chamado "Abba Voyage", o espetáculo inclui dez canções, algumas inéditas, que foram gravadas previamente pelos músicos, acompanhadas por uma banda ao vivo.
O processo de produção foi digno de Hollywood, incluindo trajes com sensores para mapear os movimentos, 160 câmeras modernas e especialistas em efeitos especiais. É, provavelmente, o maior e mais completo uso de holografia para apresentações musicais até hoje.
O show fica em cartaz até maio do ano que vem, todas as quintas, sextas, sábados e domingos, na ABBA Arena, especialmente construída para o projeto, em Londres. Veja o vídeo promocional:
Evolução dos hologramas
A técnica foi inventada em 1858 pelo engenheiro inglês Henry Dircks, que refletiu pessoas em uma placa de vidro posicionada em um ângulo de 45 graus, projetando suas imagens borradas. Essa ilusão ficou conhecida como "Fantasmagoria de Dircks".
Com a ciência, ele queria desmascarar charlatões espirituais que usavam truques, como lanternas, para exibir "assombrações" para o público.
Após ser aprimorada pelo cientista John Henry Pepper, a técnica recebeu o nome de "Fantasma de Pepper", e passou a ser usada em peças de teatro.
Nas décadas seguintes, o uso foi popularizado, chegando, por exemplo, aos parques da Disney e ao cinema, como em filmes das franquias "007" e "Star Wars".
A tecnologia por trás
O holograma não tem nada de ficção científica, é um efeito físico simples e antigo. É, basicamente, um truque de espelho, que precisa estar posicionado no ângulo e distância corretos entre o que vai ser refletido e o observador. Um processo parecido ocorre nas câmeras fotográficas.
Mesmo assim, produzir um holograma de qualidade para entretenimento é uma tarefa complexa e cara —quando se quer obter imagens com precisão, fiéis à realidade, e com movimento fluido. Para criá-lo, é preciso equipamentos específicos e mão de obra especializada, além de serviços de modelagem 3D e pós-produção.
Atualmente, para exibir um holograma de última geração (também chamado superprojeção 3D móvel), são utilizados, basicamente:
- Projetor a laser (posicionado escondido para criar a ilusão, e que faz o papel da pessoa real)
- Superfícies reflexivas (espelhos, sempre a 45º, que dividem o feixe de luz)
- Película fotográfica especial (tela transparente, que no caso do show do ABBA fica bem na frente do palco)
Não é necessário nenhum aparato, como óculos especiais, para assistir à exibição.
Cazuza e Madonna já usaram
Esse não é o primeiro uso de hologramas em shows, seja para artistas vivos ou não. Apresentações de Cazuza, Renato Russo, Tupac, Madonna Michael Jackson, Whitney Houston e outros já ocorreram com ajuda da tecnologia.
Relembre algumas performances holográficas icônicas:
Black Eyed Peas
Os integrantes do grupo apareceram no NRJ Awards de 2011 com suas versões holográficas, em uma época em que a tecnologia ainda não era usada para shows.
Mariah Carey
A cantora também foi pioneira no uso de hologramas. No Natal de 2011, ela apareceu de surpresa em festas em diferentes países ao mesmo tempo.
Michael Jackson
Desde sua morte, em 2009, o artista tem sido representado em shows em Las Vegas (EUA) e outras apresentações. A primeira vez aconteceu no Billboard Music Awards de 2014, com direito ao passo de dança moonwalking e tudo. Apesar de algumas falhas, levou os fãs ao delírio.
2Pac
No festival Coachella de 2012, os rappers Snoop Dog e Dr Dre se apresentaram ao lado do colega Tupac Shakur, assassinado em 1996. Com alta qualidade, foi um marco para a tecnologia holográfica em apresentações musicais ao vivo.
Renato Russo
No Brasil, o primeiro show com hologramas foi em 2013, com o vocalista da Legião Urbana, falecido em 1996. Com algumas falhas técnicas, o holograma ficou no fundo no palco e não foi muito fiel à imagem do cantor, para decepção dos fãs.
Cazuza
Em 2013, 23 anos após sua morte, Cazuza reapareceu por meio de um holograma com o mesmo visual icônico: regata branca e camisa, calca jeans, óculos escuros e a clássica faixa na cabeça. Cantou seus maiores sucesso, como "Exagerado" e "O Tempo Não Para". No final do show, se despediu com um "obrigado", enrolado na bandeira do Brasil.
Ronnie James Dio
O ex-vocalista das bandas de rock Rainbow, Black Sabbath e Dio — e que popularizou o gesto de "rock" (mão com dois dedos levantados)— tem feito shows após sua morte, em 2010. A estreia nos EUA aconteceu no Pollstar Awards de 2017.
Madonna
No Billboard Music Awards de 2019, a rainha do pop dividiu o palco com quatro hologramas de si mesma, para apresentar seu alter ego: Madame X, uma agente secreta que viaja pelo mundo com diferentes identidades.
Whitney Houston
Um dos hologramas mais recentes e de ótima qualidade. Em 2021, nove anos após sua morte, a artista voltou a entrar em cartaz em Las Vegas, com um belo show. As apresentações acontecem de terça a domingo, no hotel Harrah's.
*Com informações de The Guardian, Live Science e Holo Center
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