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Oxímetro 'racista' atrasou tratamento contra covid para negros e hispânicos

Paciente tendo a saturação medida com auxílio de um oxímetro - iStock
Paciente tendo a saturação medida com auxílio de um oxímetro Imagem: iStock

Simone Machado

Colaboração para Tilt, em São José do Rio Preto (SP)

01/06/2022 09h36Atualizada em 01/06/2022 19h58

A dificuldade de oxímetros em ler a saturação em pacientes com peles de cor escura contribuiu para que essas pessoas recebessem mais tardiamente o tratamento contra a covid-19, quando comparado a pacientes de pele clara. É o que revela um estudo, feito nos Estados Unidos e publicado esta semana no JAMA Internal Medicine.

O oxímetro é um aparelho usado na triagem da covid-19 e também em pacientes internados com a doença ou que estão em casa. Ele monitora a saturação de oxigênio no organismo e ajudar a identificar a hipóxia (queda do nível de oxigênio no sangue) silenciosa — quadro perigoso, que pode gerar complicações sérias se demorar para ser detectado.

O estudo, feito em 2020 no auge da pandemia da covid-19 no mundo, comparou os níveis de oxigênio medidos pelos oxímetros de pulso. Descobriu-se que esses dispositivos tinham três vezes menos probabilidade de detectar baixos níveis de oxigênio no sangue em pacientes com cor de pele escuras (negros e hispânicos) do que em pacientes brancos.

O estudo forneceu evidências de que baixos níveis de oxigênio não detectados. Assim, pacientes negros e hispânicos demoraram mais para receber o tratamento adequado contra a doença. E, em muitos casos, sequer foram tratados.

Após esse relatório, a Food and Drug Administration (Agência Federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos norte-americana) emitiu um comunicado de segurança alertando pacientes e médicos de que os dispositivos poderiam estar dando resultados errados.

Como foi feito o estudo

Foram coletados dados de mais de sete mil pacientes atendidos nos departamentos de emergência ou em um dos cinco hospitais do Sistema de Saúde Johns Hopkins em Baltimore.

O estudo descobriu que os oxímetros de pulso superestimaram os níveis de oxigênio em 1,2% dos pacientes negros e em 1,1% dos pacientes hispânicos. Essas podem parecer diferenças pequenas, mas como os níveis de oxigênio são críticos para a saúde, podem afetar drasticamente a saúde e o atendimento ao paciente.

Além disso, o estudo mostrou também que pessoas negras cuja elegibilidade para o tratamento da covid-19 foi confirmada por oximetria de pulso tiveram o tratamento atrasado em uma hora, em comparação com pacientes brancos.

"Estivemos procurando por razões pelas quais negros e hispânicos eram mais propensos a morrer no início da pandemia. É deprimente termos tratamentos disponíveis [e] as decisões sobre se as pessoas foram ou não admitidas em hospitais ou colocadas em ventiladores foram todas baseadas nos níveis de oxigênio no sangue", disse Thomas Valley, professor assistente de medicina da Universidade de Michigan

Muitos engenheiros biomédicos disseram que consertar os dispositivos não é difícil tecnicamente. O problema está em testar e aprovar os equipamentos e fazer com que os hospitais substituam milhares deles.

"A decisão de não fazer nada sobre um dispositivo defeituoso é humana. E pode e deve ser corrigida", escreveram os autores do estudo.