Sob pressão, funcionários de lojas da Apple votam por criação de sindicato
Funcionários das Lojas Apple no estado de Maryland, nos Estados Unidos, votaram pela criação do primeiro sindicato de colaboradores da empresa. O registro foi anunciado ontem (18) pelo Quadro de Relações Nacionais de Trabalho, órgão local responsável pela regularização de grupos sindicais, e contou com uma votação de 65 a 33 — margem de dois votos a um para a criação da entidade.
Esta é a primeira vez que trabalhadores da empresa de Cupertino oficializam um sindicato. Nomeado "Applecore" — Apple Coalition of Organized Retail Employees, algo como Coalizão de Empregados Organizados Varejistas da Apple, em tradução livre —, Core também é uma referência ao "miolo" da maçã.
A entidade fará parte da Associação Internacional de Funcionários de Máquinas e Indústria Aerospacial, um grupo que conta com cerca de 300 mil trabalhadores associados.
O grupo segue o exemplo de outras categorias de funcionários de big techs, como a Amazon e a Alphabet — conglomerado empresarial do qual o Google faz parte.
Negociação por salários e segurança
As demandas que levam os funcionários da Apple a se reunirem em sindicato são, inicialmente, maior possibilidade de negociação de salários e outras políticas empresariais para garantir segurança em meio a pandemia de Covid-19.
De acordo com o grupo, a empresa tem demorado para aumentar os reajustes salariais e compensações de funcionários enquanto os lucros da Apple aumentam cada vez mais. Eles ainda argumentam que as habilidades técnicas e conhecimentos específicos de produtos necessários para trabalhar no setor é muito maior do que os de outros setores varejistas.
Num esforço de evitar sindicalização, a Apple anunciou um aumento no salário mínimo dos vendedores de suas lojas nos Estados Unidos. O valor de cada hora trabalhada passará a valer, no mínimo US$ 22 (R$ 105,00, em conversão direta) a partir de julho.
Alguns críticos, porém, consideram esse aumento modesto, sendo que alguns trabalhadores de outros setores recebem até US$ 17/hora em cidades com um alto custo de vida, como Nova Iorque e São Francisco.
No último ano fiscal da Apple, o faturamento da empresa foi de US$ 366 bilhões (R$ 1,6 trilhões em conversão direta).
Em nota, o AppleCore afirma que possui o suporte da maioria de seus colegas de trabalho. "Isso não é algo que fazemos para ir contra ou criar conflito com nossos diretores", afirmam.
Questionado sobre a criação do sindicato dos funcionários da Apple, um porta-voz respondeu ao The Guardian, por email, que a empresa não tem "nada a declarar no momento".
Criação conturbada
No entanto, a Apple parece não ver a organização com os mesmos bons olhos. Um movimento anterior, que tentava fundar o sindicato no estado de Atlanta, retirou o pedido de fundação ao Quadro de Relações Nacionais de Trabalho, alegando intimidações por parte da empresa. Funcionários e ex-colaboradores da empresa passaram a criticar as condições de trabalho nas redes sociais, usando a hashtag "#AppleToo".
À época, um porta-voz da Apple repetiu a declaração da empresa sobre a criação do sindicato em Atlanta.
"Estamos orgulhosos em oferecer compensações muito altas e benefícios a empregados de meio período e tempo integral, incluindo planos de saúde, reembolso universitário, licenças maternidade e paternidade remuneradas, participação nos lucros e muitos outros benefícios."
(*) Com informações do The Guardian, Reuters e AFP
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